Cana Online em julho/2016
“A gente deveria manter o petróleo no chão. Não deveria tirá-lo de onde ainda está”, disse engenheiro da Unicamp.
O etanol produzido a partir da biomassa, chamado de segunda geração, é o futuro, afirmou nesta quinta-feira (7) o engenheiro agrônomo Gonçalo Pereira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), durante a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Porto Seguro (BA). “Se a gente consegue consolidar essas tecnologias, teremos possibilidade de não só mitigar, mas de reduzir a quantidade de dióxido de carbono emitido a um nível aceitável. Isso é engenharia climática”, explicou. “O fato é que a gente deveria realmente manter o petróleo no chão. Não deveria tirá-lo de onde ainda está.”
O pesquisador participou de uma mesa-redonda promovida pela SBPC para discutir os caminhos da biologia sintética e da química de renováveis. No debate, a engenheira de alimentos Jaciane Ienczak, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), unidade do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), defendeu que as fontes renováveis são o caminho para reduzir os impactos dos produtos fósseis.
“Uma alternativa para a gente converter esses problemas, tentando salvar o nosso planeta de um futuro desastroso, seria buscar fontes renováveis de carbono, como arroz, beterraba, milho, soja, trigo, resíduos da agroindústria processadora de alimentos e, obviamente, a grande estrela, que é a cana-de-açúcar, por ser a matéria-prima renovável que possui a maior eficiência energética, isso se compararmos a energia disponível em si à energia que ela necessita consumir durante o processo.”
Jaciane ressaltou o desafio de produzir químicos renováveis para atender necessidades de bens de consumo utilizados no dia a dia, de “alimentação a vestimentas, passando por combustíveis e energia elétrica”, hoje dependentes de intermediários petroquímicos.
“Nós precisamos partir de matérias-primas como a cana-de-açúcar, foco do trabalho do CTBE, associadas a micro-organismos que possam transformá-las em insumos para a produção.”
Já o biomédico Iuri Gouvêa ressaltou como a “grande inovação” dos últimos cinco anos o plástico verde, derivado do etanol de cana-de-açúcar. Segundo ele, o material possui as mesmas propriedades do polietileno de origem fóssil. “Mas enquanto o plástico convencional tem, na sua concepção, desde a extração do nafta até a porta da fábrica, uma adição de basicamente duas toneladas de carbono na atmosfera por tonelada de polímero, o plástico verde captura duas toneladas de carbono por tonelada de polímero produzido. Isso sem falar das vantagens sustentáveis, dentro do conceito de reciclabilidade.”