Folha de S. Paulo, em 17/12/2011
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE”
Pesquisadores brasileiros estão testando um jeito inusitado de investigar as células-tronco pluripotentes, capazes de formar qualquer tecido do organismo adulto. Eles querem entender o que acontece com elas no nível mais básico: o dos átomos.
O grupo, formado por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), acaba de mostrar que a ideia é viável em artigo na revista científica “PLoS One”.
O que eles fizeram foi basicamente submeter células-tronco de camundongos e de humanos aos raios X do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas.
A radiação emitida no laboratório é capaz de produzir dados precisos sobre a composição atômica das amostras que atinge -e, no caso das células, sem alterar sua composição, o que é muito importante.
O que os cientistas viram por enquanto é que, conforme as células começam a se especializar e a se transformar em neurônios, seu conteúdo atômico se altera.
Elas ganham grandes quantidades de metais como o cobre, enquanto outros elementos químicos, como o fósforo e o enxofre, ficam polarizados, ou seja, concentram-se em cantos específicos da célula em transformação.
“Agora, o que a gente quer fazer é comparar células derivadas de pessoas saudáveis com as de pacientes com doenças mentais, por exemplo”, diz um dos autores do estudo, Stevens Kastrup Rehen.
“Pode ser que variações nos elementos químicos das células tenham relação com erros na diferenciação [especialização] dos neurônios. E isso teria um impacto na origem da doença”, explica.