G1 Campinas e Região em 18/05/2016
“No início da década de 80, a comunidade física no Brasil começou a discutir a necessidade de fazer um projeto científico que tivesse sofisticação, […] que desse um salto tecnológico e de conhecimento. Essa discussão evoluiu para a ideia de que um síncrotron resolveria”, afirma o diretor Antônio José Roque da Silva, sobre o nascimento do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP).
Na segunda reportagem especial sobre o projeto Sirius, o G1 vai contar como nasceu o LNLS, que abriga a primeira e única fonte de luz síncrotron aberta ao uso da comunidade acadêmica e industrial da América Latina. O laboratório, que fica no campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem), onde está instalado o Polo II de Alta Tecnologia, pode ser considerado uma espécie de “embrião” do superlaboratório em construção.
Na primeira reportagem, o especial abordou os usos da luz síncrotron.
O laboratório LNLS foi inaugurado em 1997 após dez anos de construção. Segundo Silva, ele foi todo desenhado e projetado no Brasil. “A fonte que a gente tem operando, que a gente chama de UVX, abriu para usuários em 1997. Ela é 100% feita no Brasil e 85% fabricada dentro do laboratório”, conta.
O diretor explica que o fato de o Brasil ter concebido e construído o laboratório gerou um conhecimento tecnológico excepcional. “Projetamos cada parafuso desse equipamento. […] A gente tem uma taxa de operação, de confiabilidade enorme, porque a gente rapidamente sabe consertar”, explica
Mas, para o LNLS chegar a esse ponto não foi fácil e barato, foi preciso investir muito em treinamento e capacitação de pessoal. “Você teve que treinar todo esse pessoal ao longo desses 10 anos […] houve um misto de estratégia e questões macroeconômicas que levaram você a optar pela produção. O que num certo momento é dificuldade, acaba se transformando num diferencial”, destaca Silva.
Em 1997, ano da abertura, foram 100 projetos pesquisados no laboratório. Já, em 2013, por exemplo, foram 400 estudos. A seleção para uso do síncrotron de Campinas se dá por meio de um método competitivo de submissão de propostas.
A luz síncrotron existente no laboratório de Campinas é a única da Ámerica Latina. Ela é chamada pelos pesquisadores de UVX, sigla que representa do ultravioleta até raios X e permite analisar apenas a camada superficial de materiais duros e densos por ser de segunda geração.
“É uma questão ligada a tecnologia dela. Ela sendo de baixa energia dos elétrons […]. Ela não tem muitos espaços para colocar linhas de luz [estações experimentais]. Ela chegou praticamente ao seu limite”, revela o diretor.
A fonte existente na América Latina é antiga e tem brilho mais baixo que as mais modernas utilizadas no mundo atualmente, que são de terceira geração. Já a luz síncrotron do Sirius será de quarta geração e permitirá estudar os materiais de forma mais profunda.
“Fomos aumentando as linhas para aumentar a capacidade de fornecimento da ferramenta para a comunidade, estruturando uma série de programas internos, melhorando a capacidade do equipamento”, destaca Silva.
A comunidade científica que passou a usar síncrotron começou a sofisticar os seus problemas. Além disso, a evolução dos equipamentos pelo mundo e o avanço das técnicas fizeram com que, por volta do ano 2000, houvesse uma demanda por um feixe de luz mais brilhante.
“Ele teve um papel fundamental, talvez seja o projeto mais bem-sucedido da história da ciência brasileira do ponto de vista de concepção, construção a partir do zero, mas ele atingiu suas limitações. É aí que nasce o Sirius”, finaliza.
Na terceira reportagem da série especial doG1, você vai conhecer pesquisadores e pesquisas de alto impacto produzidas pelo LNLS e que abriram caminho para criar um projeto como o Sirius, que será um superlaboratório.
Repercussão: Jornal de Floripa