Jornal da Ciência, em 07/03/2012
Projetos do prédio, dos aceleradores e de linhas de luz são destaques na 22ª Reunião Anual de Usuários do LNLS, realizada em Campinas
Projetos do prédio, dos aceleradores e de linhas de luz são destaques na 22ª Reunião Anual de Usuários do LNLS, realizada em Campinas.
Foi dada a largada para a construção de Sirius, a nova fonte de luz Síncrotron brasileira que, em 2016, substituirá a fonte atual operada pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas. O projeto do prédio com 43 mil m² que abrigará o acelerador de elétrons e até 45 linhas de luz Síncrotron está pronto. Foram construídos e testados os protótipos de sextupolo pulsado, do sistema de controle digital, câmara de vácuos, entre outras soluções que compõem o projeto de engenharia dos aceleradores. E, no final do ano passado, a equipe de pesquisadores do LNLS começou a desenvolver o projeto conceitual de 13 linhas de luz que vão operar no estado da arte da tecnologia dos Síncrotrons de 3ª geração.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) destinará, pelo menos, R$ 35 milhões neste ano para o início das obras do projeto executivo. Paralelamente, a direção do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que abriga o LNLS, prospecta parceiros privados que compartilharão os custos de instalação das estações de pesquisa.
As boas notícias sobre o estágio de desenvolvimento do projeto da nova fonte foram destaque da 22ª Reunião Anual dos Usuários (RAU) do LNLS, realizada nos dias 28 e 29 de fevereiro. “Esse é um dos projetos brasileiros de ciência que representará um divisor de águas”, comentou o diretor-geral do CNPEM, Carlos Alberto Aragão, durante apresentação na 22ª RAU. “Ousadia é o que não nos falta”, completou.
A atual fonte de luz Síncrotron, utilizada anualmente para a realização de mais de 400 propostas de pesquisas desenvolvidas por usuários acadêmicos e empresais de todo o País, é também “bancada de teste” dos novos protótipos, contou Ricardo Rodrigues, que coordenou o projeto do primeiro e agora também está à frente da construção do segundo Síncrotron brasileiro. “Já testamos os sistemas modular de operação, a nova topologia de controle, câmara de vácuo e multipolos pulsados. Todos funcionaram perfeitamente. O projeto dos imãs também está adiantado.”
Apesar da alta confiabilidade, a atual fonte Síncrotron, de 2ª geração, possui limitações que inviabilizam sua utilização em um grande número de aplicações relevantes para futuros projetos de ciência e tecnologia. Sirius, de 3ª geração e raios X altamente energéticos, terá parâmetros semelhantes ou superiores às modernas instalações do mundo, abrindo novas oportunidades para a pesquisa brasileira.
Estão em projeto 13 linhas de luz, anunciou Harry Westfahl Jr., vice-diretor científico do LNLS, aos mais de 250 pesquisadores-usuários, do Brasil e do exterior, que participaram do encontro. “Essas linhas correspondem às demandas de usuários e de empresas parceiras. Em 2012 faremos o projeto conceitual de cada uma das linhas. Contamos com a colaboração de vocês”, disse Westfahl referindo-se aos participantes do evento.
Para Aldo Craievich, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP), Sirius colocará o País na fronteira da instrumentação científica necessária para estudo de materiais. “Colocar à disposição da comunidade científica latino-americana um anel de terceira geração, como o Sirius, permitirá que o cientista brasileiro tenha acesso a instrumentos comparáveis aos existentes em países avançados”.
O projeto tem apoio de “toda a comunidade científica”, sublinhou Márcia Fantini, também do IF/USP. “Torcemos para que não faltem recursos para a construção dessa máquina.” Na avaliação de Odair Dias Gonçalves, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), toda área da Ciência tem um tempo limitado, em função da máquina e da disponibilidade de recursos que ela oferece. “Estamos chegando num ponto em que a máquina existente não vai mais satisfazer as necessidades da comunidade. Para melhorar e dar um passo adiante você precisa de mais energia, mais fótons e mais brilho. O projeto é, portanto, uma continuidade natural”.
Pedro Augusto de Paula Nascente, do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (DEM/UFSCAR), completou: “Lembro-me quando o projeto do Síncrotron foi apresentado, por volta de 1987. Na época, muita gente estava cética de que o projeto não daria certo. E deu certo. Foi muito importante em várias áreas e, em minha opinião, principalmente na formação de recursos humanos. Utilizando a experiência adquirida na fabricação do primeiro anel e com recursos já formados, a comunidade está pronta para o novo Anel”.
A 22ª Reunião Anual dos Usuários do LNLS contou, ainda, com sessões temáticas, de pôsteres, comunicações orais e mesa-redonda sobre técnicas e usos da luz Síncrotron em diversas áreas do conhecimento.
Esta edição da RAU foi a primeira organizada pelo Comitê de Usuários, grupo criado em 2010 com o intuito de estabelecer maior interação entre pesquisadores do LNLS e usuários externos da fonte Síncrotron. “Duplicamos o tempo e o número das comunicações orais e das sessões de pôsteres. Com isso, os pesquisadores puderam discutir melhor os trabalhos que mais os interessavam”, explicou o coordenador do Comitê, Celso Valentim Santili, do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Usuário experiente, Santilli também comentou sobre o projeto Sirius. “Os benefícios sociais que um instrumento do porte do Sirius pode trazer são enormes” diz. Dentre os pontos positivos, citou a descoberta de novos fármacos, novas moléculas com propriedades terapêuticas e medicinais e novos materiais.
(Ascom CNPEM/LNLS)