Diante de mais de 760 pessoas, a pesquisadora encantou o público ao falar sobre como se fazem cientistas e quem são eles.
Realizado no último sábado (17), o TEDxCampinas trouxe temas atuais de diversas áreas, sob a temática central “O Presente do Amanhã”. Representando a Ciência, Ana Carolina Zeri, “bio-físico-química” e cientista, entregou aos mais de 760 presentes uma narrativa leve e envolvente. O evento independente, sem fins lucrativos, reúne pessoas para compartilhar experiências como as de uma conferência TED, seguindo os critérios e diretrizes globais.
Lançando a pergunta ‘como se fazem cientistas?’, ela iniciou o discurso de pouco mais de 15 minutos dizendo que cientistas são, antes de mais nada, resolvedores de problemas. “Aos nove anos, desmontei um rádio quebrado que minha avó havia me dado e consertei sozinha. Ali, virei cientista. Minha curiosidade e coragem me mostraram outro universo”, ela contou.
No passado, perguntas foram feitas e moveram estudiosos como Benjamin Franklin, Edmond Becquerel e Thomas Edison – cujas ideias e descobertas, relacionadas à luz e eletricidade, estão na base do que hoje são os ‘aceleradores de partículas’.
Ana lembrou que, a apenas 16 quilômetros do Teatro Castro Mendes, onde estava acontecendo o TEDxCampinas, fica o mais novo acelerador brasileiro, o Sirius, instalado dentro do CNPEM – uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Mas, afinal, o que é e para que serve, um acelerador?
Em sua órbita circular, elétrons correm muito rápido. “Como corredores, transpiram. Nós captamos essa energia dissipada, o suor dos elétrons, e a canalizamos. O suor dos elétrons é o que chamamos de luz síncroton, uma radiação muito brilhante de várias cores”, explica. Segundo ela, em cada estação experimental do acelerador, é possível selecionar uma faixa dessas luzes usando prismas e espelhos. Ao focalizar essa luz num ponto bem pequeno, observações de materiais muito, muito pequenos podem ser realizadas com muito mais precisão.
Além do staff, circulam nesse ambiente pessoas da academia e da indústria, treinadas para usar o “grande microscópio” capaz de nos dar informações da matéria em nível atômico. Assim, são realizados experimentos dos mais diversos tipos, envolvendo fósseis, medicamentos, cosméticos, lama, raízes, solo… e até sorvetes!
O Sirius vai ser o acelerador mais brilhante e focado do mundo graças ao trabalho de muitas pessoas que, segundo a pesquisadora, estão “prontas para se lançar ao desconhecido”. Liu Lin, Hélio Tolentino, Narcizo Souza, Verônica Teixeira foram alguns dos colegas mencionados durante o discurso. Eles, cientistas como Ana, são responsáveis por investigar questões envolvendo a tomografias mais completas, materiais expostos a condições extremas de temperatura e pressão e itens luminescentes, que podem ser usados, no futuro, para iluminar estradas.
“Todos convergem no Sirius – que tem nome de estrela e jeito de nave espacial. Esse é um presente brasileiro para o futuro da ciência”, comenta Ana.
O Sirius vai poder ter até 40 estações funcionando ao mesmo tempo, para resolver problemas ainda não imaginados. “Eu tenho problemas com a bateria do meu celular e com os meus neurônios, mas daqui a 5 ou 10 anos, pesquisadores vão poder fazer perguntas que a gente ainda não imagina.”
Ana Carolina fechou sua fala retomando à pergunta inicial: ‘como se fazem cientistas?’. A resposta: “Com curiosidade, para nunca pararem de se perguntar ‘por que?’; com coragem para enfrentarem o desconhecido; e com carinho para pensarem no futuro e no próximo, porque a ciência é uma construção coletiva.” Curiosidade, coragem e carinho. É assim que se fazem cientistas.