Capacitação inédita reforça a preparação do país para o Orion, e envolveu a manipulação do vírus Sabiá, único patógeno brasileiro classificado na mais alta classe de risco biológico

Na foto, pesquisadora Jacqueline Shimizu do CNPEM em laboratório de treinamento NB4 na UTMB, trajando o macacão típico de operação nesses ambientes (Créditos: Divulgação/CNPEM)
A Analista de Desenvolvimento Tecnológico, Jacqueline Farinha Shimizu, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), concluiu um treinamento em nível de biossegurança 4 (NB4) na University of Texas Medical Branch (UTMB Health), nos Estados Unidos. Durante a formação, ela teve a oportunidade inédita de manipular o vírus Sabiá (SABV), único patógeno brasileiro classificado na maior classe de risco biológico, associado a casos de febre hemorrágica registrados no país. O vírus será um dos agentes que poderão ser pesquisados no projeto Orion – complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que compreenderá instalações de máxima contenção biológica (NB4) inéditas na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius.
A capacitação, que teve duração de um ano, incluiu atividades teóricas, treinamentos práticos e manipulação de diferentes agentes virais em laboratórios de máxima contenção, como o Sabiá, além de acompanhar experimentos de outros patógenos, como Ebola e Junín (vírus causador da febre hemorrágica Argentina).
Jacqueline destacou os desafios e aprendizados da experiência. “Trabalhar em um laboratório NB4 é lidar diariamente com a responsabilidade e a disciplina que esse ambiente exige. Foi desafiador, mas também emocionante poder manipular o vírus Sabiá e estabelecer protocolos que ajudarão o Brasil a avançar na pesquisa em máxima contenção”, afirmou Jacqueline.
Os resultados da experiência de Jacqueline já começam a impactar diretamente as pesquisas do CNPEM. Segundo o pesquisador líder de Virologia Rafael Elias Marques, a capacitação trouxe avanços concretos: “A Jacqueline conseguiu propagar o vírus Sabiá em cultura celular, gerar estoques virais e padronizar protocolos de quantificação e diagnóstico molecular. Essa conquista significa que, quando o Orion estiver operacional, não partiremos do zero. Já temos conhecimento acumulado e protocolos testados em um ambiente de contenção máxima”, observou.
O pesquisador acrescenta que o treinamento também permitiu avaliar potenciais antivirais contra o vírus. “Esses testes iniciais mostraram que ainda precisamos buscar moléculas eficazes contra o Sabiá. A boa notícia é que agora temos condições de realizar triagens em larga escala e contribuir para o desenvolvimento de medidas de controle”, explica Rafael.
O fortalecimento dessa expertise é estratégico para o projeto Orion, que oferecerá capacidades inéditas para a pesquisa de vírus emergentes e negligenciados, garantindo ao Brasil autonomia científica e tecnológica para responder a ameaças sanitárias globais.
A ida da pesquisadora se conecta a uma parceria iniciada no ano passado no CNPEM. Em julho de 2024, a instituição recebeu uma equipe da UTMB para realizar um treinamento introdutório em máxima contenção biológica (NB4) voltado a pesquisadores e técnicos que atuarão no futuro complexo Orion. Pela primeira vez, a Universidade levou um curso prático de simulação NB4 para fora de suas instalações. Na ocasião, o treinamento ocorreu no laboratório de treinamento do CNPEM, que abriga atualmente o Programa de Treinamento & Capacitação em laboratórios NB3 e, futuro, laboratórios NB4. A iniciativa marcou um passo pioneiro no processo de preparação de recursos humanos para o futuro Orion.
UTMB
Situada na cidade de Galveston, no Texas, a University of Texas Medical Branch (UTMB Health) integra o University of Texas System e é reconhecida como referência global em biossegurança máxima, abrigando alguns dos laboratórios mais avançados do mundo nesse campo.
Projeto Orion
O projeto Orion será um complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que compreenderá instalações de máxima contenção biológica (NB4) inéditas na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a uma fonte de luz sincrotron, o Sirius. Em construção na cidade de Campinas-SP, no campus do CNPEM, o Projeto reunirá técnicas analíticas e competências avançadas de bioimagens, que serão abertas a comunidade científica e órgãos públicos. Ao possibilitar o avanço do conhecimento sobre patógenos e doenças correlatas, o Orion subsidiará ações de vigilância e política em saúde, assim como o desenvolvimento de métodos de diagnóstico, vacinas, tratamentos e estratégias epidemiológicas. Instrumento de apoio à soberania nacional no enfrentamento de crises sanitárias, o Orion tem o potencial de beneficiar diversas áreas, como saúde, ciência e tecnologia, defesa e meio ambiente.
A execução do projeto Orion é de responsabilidade do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Projeto integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, é financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do MCTI e apoiado pelo Ministério da Saúde (MS). A iniciativa faz parte da Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial do Governo Federal, atuando como um instrumento de soberania, competência e segurança nacional nos campos científico e tecnológico para pesquisa, defesa, saúde humana, animal e ambiental. A concepção do Orion deve ainda fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), iniciativa coordenada pelo MS, voltada ao atendimento de demandas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre o CNPEM
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) abriga um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País. O CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. As atividades de pesquisa e desenvolvimento do CNPEM são realizadas por seus Laboratórios Nacionais de: Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), além de sua unidade de Tecnologia (DAT) e da Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC).