Treinamento visa capacitar profissionais em laboratórios que pesquisam patógenos da classe 3 de risco biológico, como é classificado, por exemplo, o vírus da Covid-19
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Legenda: Laboratório de treinamento do CNPEM conta com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para nível 3 de biossegurança. Na foto, profissional em sessão prática utilizando respirador motorizado com filtro HEPA (Créditos: Divulgação/CNPEM)
Entre os dias 25 e 28 de novembro, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) realizou mais um treinamento para pesquisadores em práticas laboratoriais de nível de biossegurança 3 (NB3), também conhecido como laboratórios de alta contenção biológica. A capacitação, integra o Programa de Treinamento e Capacitação em Biossegurança do CNPEM, e acontece no contexto do projeto Orion – complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que reunirá instalações inéditas de máxima biossegurança (NB4) na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius.
Com duração de quatro dias e atividades práticas e teóricas, a formação ocorreu no laboratório de treinamento localizado no campus do CNPEM, em Campinas (SP). O espaço é uma réplica fiel de laboratórios NB3 e NB4 (de alta e máxima contenção biológica, respectivamente), permitindo a execução de procedimentos complexos em condições laboratoriais, porém sem exposição real a agentes patogênicos.
A diversidade de instituições representadas na turma reflete o alcance do programa e o interesse da comunidade científica em aprimorar suas competências através do treinamento ofertado pelo CNPEM. Entre as organizações participantes estavam a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com representantes dos estados do Mato Grosso (MT) e Santa Catarina (SC).
“Neste novo módulo contamos com participantes das mais diferentes formações e posições em suas instituições, que são grandes referências na ciência nacional, indo ao encontro da proposta do treinamento, que é atingir diversos grupos profissionais que trabalham em laboratórios NB3 no País. Este módulo em especial foi bem disputado por profissionais brasileiros, e contou com a concorrência de candidatos de outros países da América Latina”, informou Tatiana Ometto, especialista em Biossegurança do CNPEM e responsável pela condução do Programa.
Técnico de pesquisa do Instituto Butantan, com experiência em pesquisa e desenvolvimento de vacinas e biofármacos, Eduardo Alfredo Adami foi um dos alunos do treinamento e ficou impactado pelo espaço mockup. “O que eu achei mais impressionante é a estrutura, que dispõe de um laboratório real para que sejam realizadas as simulações”, afirmou.
Cristiano Valim Bizarro é professor da PUC-RS, participou da capacitação, e ressaltou a relevância estratégica da formação oferecida. “Preparar a comunidade acadêmica e institutos de pesquisa a responder situações inesperadas de saúde com capacidade técnica e treinamento qualificado, é algo indispensável e estratégico para o País”, avaliou.
O Programa
O Programa de Treinamento e Capacitação realizou quatro edições em 2024, e oferece a formação para operação em laboratórios de nível 3 de biossegurança, que garante condições para investigar agentes patogênicos (como vírus, fungos e bactérias) da classe 3 de risco biológico, como é classificado, por exemplo, o vírus da Covid-19, o SARS-CoV-2. Nesse nível de biossegurança, o usuário pode utilizar máscaras de proteção respiratória, que podem variar entre N95/ PFF2 ou respiradores motorizados com filtro HEPA (High Efficiency Particulated Air). Recentemente, o laboratório do CNPEM realizou a aquisição de respiradores motorizados para o Programa.
“Agora com a estrutura pronta e totalmente operacional, e com o processo seletivo estabelecido, os próximos treinamentos terão maior frequência de realização, com o intuito de abarcar cada vez mais profissionais que possam vir até o CNPEM, receber a capacitação e tenham condições de voltar à suas instituições para reproduzir o aprendizado conquistado, aumentando a abrangência de uma nova cultura de biossegurança para laboratórios NB3 no País”, acrescenta Tatiana Ometto.
Muito em breve, será ofertado também treinamentos para laboratórios NB4. A infraestrutura do laboratório já é totalmente equipada para treinamentos em máxima biossegurança. Conta, por exemplo, com um banho químico e com o típico macacão inflado, que se conecta com um ar respirável externo. Nesse caso, os laboratórios de máxima contenção biológica fornecem condições para o estudo de vírus como o Ebola, da mais alta classe de risco biológica existente. Enquadram-se nessa mesma categoria o vírus brasileiro Sabiá e outros arenavírus que circulam pela América Latina, como por exemplo o Junín, causador da febre hemorrágica argentina, o Guanarito, causador da febre hemorrágica venezuelana e o Machupo, causador da febre hemorrágica boliviana.
O Sabiá (SABV) é causador de uma febre hemorrágica grave, mas as amostras desse vírus estão armazenadas no exterior e não podem ser estudadas no País, devido à ausência de infraestrutura de máxima contenção biológica.
A formação oferecida pelo CNPEM consolida o papel da instituição como referência na capacitação de profissionais aptos a lidar com desafios de biossegurança avançada, fortalecendo a pesquisa nacional e contribuindo para a proteção da saúde pública.
Mais informações do Programa de Treinamento e Capacitação em Biossegurança do CNPEM podem ser obtidas através da página do Programa: https://pages.cnpem.br/treinamentonb3
Projeto Orion
O projeto Orion será um complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que compreenderá instalações de máxima contenção biológica (NB4) inéditas na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a uma fonte de luz sincrotron, o Sirius. Em construção na cidade de Campinas-SP, no campus do CNPEM, o Projeto reunirá técnicas analíticas e competências avançadas de bioimagens, que serão abertas a comunidade científica e órgãos públicos. Ao possibilitar o avanço do conhecimento sobre patógenos e doenças correlatas, o Orion subsidiará ações de vigilância e política em saúde, assim como o desenvolvimento de métodos de diagnóstico, vacinas, tratamentos e estratégias epidemiológicas. Instrumento de apoio à soberania nacional no enfrentamento de crises sanitárias, o Orion tem o potencial de beneficiar diversas áreas, como saúde, ciência e tecnologia, defesa e meio ambiente.
A execução do projeto Orion é de responsabilidade do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Projeto integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, é financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do MCTI e apoiado pelo Ministério da Saúde (MS). A iniciativa faz parte da Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial do Governo Federal, atuando como um instrumento de soberania, competência e segurança nacional nos campos científico e tecnológico para pesquisa, defesa, saúde humana, animal e ambiental. A concepção do Orion deve ainda fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), iniciativa coordenada pelo MS, voltada ao atendimento de demandas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre o CNPEM
O CNPEM compõe um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo MCTI, o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País, o CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. O CNPEM é responsável pela operação dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), e também pela Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC). https://cnpem.br/