Novo sistema de seleção de propostas, mais inclusivo e colaborativo, atraiu na primeira chamada o interesse de cientistas de 15 países e de 17 diferentes estados brasileiros, com destaque para a região Nordeste
O Sirius, a fonte de luz síncrotron brasileira, projetada e operada pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), abre mais uma chamada regular de propostas de pesquisa para as suas seis primeiras estações experimentais que estão em operação.
Entre 03 e 24 de abril, pesquisadores interessados em realizar experimentos no Sirius poderão submeter seus projetos. Os experimentos das propostas selecionadas nesta chamada serão realizados ao longo do segundo semestre de 2023, entre 2 de agosto e 16 de dezembro.
Pela segunda vez, as propostas serão selecionadas por um processo que privilegia o mérito científico e avaliado através de sistema de revisão por pares com Duplo-Anônimo Distribuído. A alocação final de tempo de uso das estações de pesquisa será realizada considerando também as distribuições geográficas e a diversidade de áreas científicas.
“O Sirius foi projetado para alavancar pesquisas nas mais diversas áreas, e nós encorajamos a diversidade de ideias. Por essa razão, desenhamos um fluxo de avaliação objetivo e imparcial, no qual uma proposta de pesquisa será analisada por múltiplos pontos de vista. Esperamos receber propostas científicas que mirem problemas estratégicos, com hipóteses bem desenhadas que possam ser testadas no Sirius, inclusive de grupos sem experiência no uso de técnicas de luz síncrotron”, esclarece Harry Westfahl Jr., diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron/CNPEM, responsável pela operação do Sirius.
Além de não ter custos para uso acadêmico, pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras que residam em países da América Latina e Caribe, com propostas aprovadas, podem solicitar auxílio financeiro para a utilização das instalações do Sirius e viagem à Campinas-SP, onde fica o campus do CNPEM.
“A abertura regular das primeiras estações de pesquisa do Sirius à comunidade científica foi o marco mais importante do projeto, na minha opinião. Essa chamada pode beneficiar as mais diversas áreas, como biologia, geologia, engenharia, física e química. Para isso, é fundamental defendermos as melhores condições para a ciência do País. Nossos usuários precisam de estrutura em seus laboratórios para fazer perguntas, gerar boas hipóteses, realizar os primeiros testes, para depois virem ao Sirius. É fundamental que tenhamos todo um sistema de ciência e tecnologia muito bem estruturado e, principalmente, investimentos contínuos na formação de recursos humanos para colher bons resultados em um dos equipamentos mais avançados do mundo”, comenta Antonio José Roque da Silva, Diretor-Geral do CNPEM.
Mais informações sobre submissão de propostas e auxílios financeiros podem ser consultadas em Informações para Usuários, no website do LNLS, e também é possível entrar em contato com o corpo técnico do LNLS para esclarecimento de dúvidas no formulário abaixo.
A segunda chamada regular de pesquisas para o Sirius contempla seis linhas de luz, como são chamadas suas estações experimentais. Essas linhas operam de forma independente e simultânea e já passaram pela fase de comissionamento científico – quando pesquisadores testam parâmetros da máquina e as técnicas disponíveis em experimentos reais. As linhas de luz e os experimentos disponíveis nesta chamada são:
- Carnaúba: Micro e nano-fluorescência e espectroscopia de raios-X e pticografia. Realiza análises dos mais diversos materiais nano-estruturados, visando a obtenção de imagens 2D e 3D com resolução nanométrica da composição e estrutura de solos, materiais biológicos e fertilizantes, além de outras investigações nas áreas de ciências ambientais.
- Cateretê: Imagem por difração coerente (pticografia) e espectroscopia de correlação de fótons de raios-X (XPCS). Otimizada para a obtenção de imagens tridimensionais com resolução nanométrica de materiais para as mais diversas aplicações.
- Ipê: Espectroscopia de absorção de raios X (XAS) e Espectroscopia de fotoelétrons (XPS). Esta linha de luz é otimizada para combinar técnicas de análise de superfície e interface de materiais, e sistemas moleculares. Aplica-se ao estudo da composição química, estrutura eletrônica e excitações elementares em materiais para transformação química, conversão de energia e tecnologia da informação.
- Ema: Difração e espectroscopia de raios X em altas pressões. As técnicas disponíveis nesta linha permitem a investigação de materiais submetidos a condições extremas de temperatura, pressão ou campo magnético. O estudo da matéria nessas condições pode revelar novas propriedades com características que não existem em condições ambientes normais. Este é o caso, por exemplo, dos materiais supercondutores, capazes de conduzir correntes elétricas sem resistência, com o potencial de revolucionar a transmissão e o armazenamento de energia.
- Imbuia: Micro e nano-espectroscopia de infravermelho (FTIR). Esta estação experimental é dedicada a experimentos utilizando a luz infravermelha, que permite a identificação dos grupos funcionais de moléculas e a análise da composição de praticamente qualquer material, com resolução nanométrica.
- Manacá: Micro cristalografia de Macromoléculas (MX). Equipada com instrumentos que permitem revelar estruturas tridimensionais de proteínas e enzimas com resoluções atômicas, revelando a posição de cada um dos átomos que compõem uma determinada proteína estudada, suas funções e interações com outras moléculas, como as usadas como princípios ativos de novos medicamentos.
A submissão de propostas de pesquisa à linha Manacá segue a modalidade Fast Track – esta linha de luz está aberta para submissões em fluxo contínuo, sem qualquer interrupção, conforme adotado anteriormente durante a fase de comissionamento científico.
Novas linhas
Além das seis linhas abertas para a operação regular, outras quatro linhas estão começando a funcionar no modo de comissionamento científico, quando usuários podem realizar experimentos que ajudem a avaliar os parâmetros da linha.
Processo de avaliação inédito
Para que todas as propostas sejam avaliadas por múltiplos pontos de vista de especialistas, foi adotado um novo esquema de avaliação distribuída, onde todos os proponentes da chamada também são potenciais revisores para a mesma chamada, dentro das suas áreas de atuação. Pelo menos cinco revisores avaliam cada proposta.
“Os avaliadores não têm acesso aos nomes dos proponentes e suas instituições de origem. Pronomes de gênero também não vão constar nas propostas de pesquisa. Para atender ao anonimato, os autores deverão remover qualquer linguagem que identifique pesquisas publicadas anteriormente por seu grupo, para eliminar as possibilidades viés dos revisores”, enfatiza o diretor do LNLS.
O mesmo sistema de análise também se aplica às pesquisas conduzidas pelos grupos científicos do CNPEM.
Resultados
Na primeira chamada, aberta em novembro de 2022, foram recebidas 334 propostas, a maior parte de instituições brasileiras, mas também de instituições da América Latina, América do Norte, Europa e Ásia. Cerca de 25% das propostas recebidas foram submetidas por novos usuários, ou seja, por pesquisadores que nunca haviam utilizado as instalações abertas disponíveis em nenhum dos quatro laboratórios nacionais que fazem parte do CNPEM.
Ao final do processo foram selecionados 125 projetos, dos quais 108 deles foram submetidos por pesquisadores de quase todos os estados do Brasil e 17 por pesquisadores de instituições estrangeiras.
Um dos destaques foi o aproveitamento de propostas da região Nordeste, que obtiveram aprovação de 48,6% das pesquisas submetidas.
A região Sudeste, que submeteu o maior volume de propostas, obteve um percentual de aprovação de 37%. Em seguida aparecem as regiões Sul e Centro-Oeste, com percentuais de 31% e 25% de propostas aprovadas, respectivamente. A região Norte não obteve aprovação de propostas nessa primeira chamada.
Sobre o CNPEM
Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, único no Brasil e presente em poucos centros científicos do mundo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Centro opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM reúne equipes multitemáticas altamente especializadas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e formação de investigadores e estudantes. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. Por meio da plataforma CNPEM 360 é possível explorar, de forma virtual e imersiva, ambientes de todos os laboratórios instalados em Campinas (SP) e também obter informações sobre trabalhos realizados e recursos disponibilizados para a comunidade científica e empresas. A partir de 2022, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência. O curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação adota propostas inovadoras com o objetivo de oferecer formação de excelência, gratuita, em período integral e com imersão no ambiente de pesquisa do CNPEM.