Workshop que aconteceu no CTBE, um dos laboratórios do Centro Nacional de Pesquisas em Energias e Materiais, reuniu usinas, entidades do setor sucroenergético e órgãos públicos
“Nós precisamos de alternativas ao petróleo”. Gonçalo Pereira, diretor do CTBE, deu o start no Workshop de Bioeletricidade do Projeto SUCRE, nesta quinta-feira, com uma afirmação óbvia, mas que deve ser constantemente lembrada. Se aceitamos o açúcar na forma de fibra, nosso potencial muda totalmente. Na cana-energia, a gente duplica a quantidade produtiva com custo de produção reduzido enormemente”, destacou em sua apresentação, demonstrando a força da cana-energia.
Pereira utilizou sua sessão para antecipar detalhes sobre o Workshop Estratégico RenovaBio, que acontece no CTBE no próximo dia 17 de agosto. “Com esse programa, cada usina será uma espécie de geradora de certificados de carbono. Com isso vamos reduzir drasticamente a emissão de CO2, emitiremos certificados e iremos negociar na bolsa de valores. Esse é o futuro”, acredita Pereira.
Produção de energia limpa
Manoel Regis Lima Verde Real, pesquisador do CTBE, apresentou as contribuições do Projeto SUCRE (Sugarcane Renewable Electricity) para o setor sucroenergético. “Simples. Nosso objetivo é aumentar a produção de energia elétrica com baixa emissão de gases de efeito estufa”, comenta. “Trabalhamos para que a palha seja um produto cada vez mais valioso para as usinas”, destaca.
Regis acredita que a palha pode vir a ser uma solução muito eficiente para a geração de energia limpa, renovável e sustentável. O pesquisador avalia que as barreiras tecnológicas, porém, devem receber destaque. “Há questões sérias relativas ao recolhimento, transporte, limpeza, processamento e queima”, lembrando que as impurezas minerais presentes no recolhimento é um dos gargalos a ser resolvido.
“O SUCRE se propõe a gerar mais informações, com metodologias claras, para que possamos comparar os resultados entre uma e outra usina, desde os investimentos necessários para a adoção da palha e os impactos sobre o recolhimento dessa palha”, avalia ao reconhecer que a remoção da palha também pode implicar na produtividade e longevidade do canavial. “O que vale é o equilíbrio. Recolher o suficiente para produzir energia sem impactar o campo”, sugere.
A venda de eletricidade pelas Usinas esbarra também no Marco Regulatório. Os detalhes serão aprofundados no Boletim CTBE tratando sobre esta edição do Workshop.
A visão da UNICA sobre a geração de energia limpa
“É importante resgatar uma regularidade [de geração de energia a partir de biomassa], nós queremos estimular novamente o setor para elevar seu potencial - e esse é o papel de entidades como a UNICA. Nós poderíamos, simplesmente com novas medidas de incentivo, elevar em seis ou sete vezes a produção de energia a partir de biomassa”, destacou Zilmar José de Souza, da UNICA. “A biomassa tem uma função estratégica para a geração de energia no País. Nos meses de julho e agosto, por exemplo, essa energia representa 8% de todo o consumo nacional”, reforça Zilmar.
Participação da biomassa na matriz energética
O papel da energia gerada a partir da biomassa, as características e o potencial da biomassa na matriz energética foram apresentados pela analista de pesquisa energética Rachel Martins Henriques da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). São algumas características relevantes da eletricidade gerada a partir da biomassa ser uma fonte energética importante para suprir as intermitências das fontes renováveis, por possuir baixa variabilidade de geração, disponibilidade previsível; tratar-se de uma fonte de geração situada próxima ao grande centro de consumo; e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (de 2012 a 2016 foram evitadas 17 mil toneladas de CO2).
A expansão do mercado livre de energia elétrica, o suporte adicional a oferta cada vez maior de fontes intermitentes, ser uma fonte de energia mitigadora de emissões, além de gerar empregos e renda, alinhados às crescentes dificuldades do Brasil em construir hidrelétricas de grande porte, foram algumas das oportunidades elencadas por Rachel. No entanto, existem desafios a serem vencidos. Segundo a analista, é necessário que sejam criadas consições igualitárias de competição entre as fontes de energia.
A cana-de-açúcar foi responsável, de janeiro a maio de 2017, por 75,7% de toda a geração de energia a partir de biomassa no Brasil, segundo dados apresentados pelo membro da administração da Câmera de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Roberto Castro. No entanto, Castro explica que esse número não significa aumento de geração. “Apesar do aumento da capacidade instalada e do número de usinas, a geração à biomassa está praticamente estagnada”, afirma. Castro destaca que com o crescimento do mercado livre, há demanda para a bioeletricidade, já que os consumidores são obrigados a contratar energia incentivada.
A experiência do grupo Raízen com a palha na geração de bioeletricidade
Segundo o líder de um projeto que estuda recolhimento de palha na Raízen, Marcio Cezarini Borges, o grupo enxerga a importância dessa biomassa para o aumento de geração de eletricidade. Segundo Borges, é possível dobrar a geração atual das usinas da Raízen trazendo para a indústria 50% da palha gerada no campo. “É dinheiro que estamos deixando no chão e não voltamos para buscar”, afirma. Não estão trazendo o potencial possível, pois existem barreiras que precisam ser solucionadas. Borges menciona a imprevisibilidade dos leilões, a necessidade de se ter condições de financiamento adequado e a potencialidade do Plano Decenal de Expansão de Energia 2026, disponível até o dia 6/agosto para consulta pública.
O CTBE compilou dez pontos que serão divulgados em breve, via Boletim, com os tópicos que devem ser solucionados para que a Bioeletricidade avance e supere os gargalos do uso de palha e bagaço para geração e cogeração. O evento reuniu 70 pessoas.
Texto de Erik Nardini e Viviane Celente