Unicamp, em 20/08/2012
Elas têm entre 16 e 17 anos, são alunas do ensino médio de escolas públicas de Campinas e já colocam a mão na massa num laboratório de Química Analítica, no Instituto de Química (IQ) da Unicamp. Ao lado de alunos de graduação, de mestrado e doutorado, elas desenvolvem um projeto de pesquisa e conseguem colocar em prática conteúdos que são ensinados em sala de aula. Recebem uma bolsa de iniciação científica júnior, financiada pelo CNPq, além da ajuda de custo para transporte e alimentação. Só por tudo isso a experiência já teria valido a pena, pois a oportunidade de vivenciar “o dia-a-dia do cientista” já é algo único para adolescentes que sonham em cursar a Universidade. Mas, as estudantes Tainara Lehn Barros, Raíssa Frasson e Vitória Zancani foram além das paredes dos laboratórios e ganharam destaque ao apresentar os resultados de pesquisa no 2º Workshop Científico de Microfluídica, que ocorreu em julho último no Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), em Campinas.
O evento contou com especialistas de renome internacional na área de microfluídica – que estuda e aplica o comportamento de fluidos em sistema de pequenas dimensões – e “as meninas do PIC Jr”, foram as únicas bolsistas de iniciação científica que conquistaram espaço para apresentação de seminário, dentre outros 12 trabalhos de mestrado e doutorado. “O assunto ganhou repercussão até mesmo em Salvador, onde eu participava de um congresso. Fiquei extremamente animada com o resultado, pois muitos participantes ficaram surpresos ao saberem que o trabalho havia sido desenvolvido por adolescentes do ensino médio”, destaca a professora Adriana Rossi, orientadora do projeto. Em sua opinião, as adolescentes causaram uma boa impressão pela apresentação que fizeram e os resultados da pesquisa foram comparáveis a trabalhos de pesquisa de pós-graduação.
O Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC-Jr) seleciona, anualmente, 300 estudantes de escola pública com o objetivo de desenvolverem pesquisas nos vários laboratórios da Universidade. Adriana Rossi afirma que o sucesso da iniciativa financiada pelo CNPq pode ser medido pelo aumento a cada ano do número de inscritos. São em média 800 inscrições de estudantes de escolas públicas da Região Metropolitana de Campinas. Para Adriana Rossi trata-se de um programa em que todos saem ganhando com a experiência: os jovens talentos que têm interesse, mas não têm oportunidade em suas escolas podem vir desenvolver pesquisa de excelência, e a Universidade, que investe de forma sistematizada naqueles que poderão ser seus futuros alunos.
A apresentação oral do trabalho foi feita pelas alunas Tainara e Vitória, pois Raíssa não pôde comparecer ao workshop. A pesquisa refere-se à determinação de íons ferro II usando a técnica de microfluídica em papel. A expectativa das futuras pesquisadoras foi desenvolver um método capaz de ser aplicado para detecção do ferro total em solo. “Nossa bolsa vai até janeiro e queremos continuar no processo para conseguirmos resultados não só com ferro total, mas também com alumínio e amônia”, declara Tainara.
As estudantes fazem parte do Grupo de Pesquisa em Química Analítica e Educação (GPQUAE), coordenado pela professora Adriana Rossi. Também participaram deste trabalho outros membros do grupo: Patrícia Castro, Suryyia Manzoor, Tathiana Guizellini, William Silva e Acácia Salomão.
A pesquisa desenvolvida pelas iniciantes envolve spot testes, que são procedimentos analíticos simples, rápidos e de baixo custo, além de ter alta seletividade e consumo reduzido de amostras, gerando pouco resíduo. As soluções foram aplicadas em papel cromatográfico que os testes de Taynara, Vitória e Raissa apontaram ser uma alternativa eficiente para o sucesso dos resultados. “A cor fica mais intensa para as concentrações mais altas de ferro (II)”, esclarece Vitória, lembrando que se trata de um indicativo positivo de desempenho do método para quantificar esse cátion metálico.
Segundo a professora, a ênfase do trabalho apresentado pelas garotas durante o workshop foi a simplicidade da técnica utilizada, que é muito versátil e tem potencial para o desenvolvimento de sistemas miniaturizados, de grande interesse atual. Além disso, é necessário conhecer e aplicar reações químicas. No ensino médio, argumenta a professora, muitos conceitos importantes passam desapercebidos ou poucas vezes há oportunidade de conhecê-los em experimentos. “Toda a equipe do GPQUAE esteve envolvida com as adolescentes e elas receberam todo suporte necessário para alcançarem os resultados positivos, gerando ótimas oportunidades de crescimentos para todos”, afirma a orientadora.
Quanto ao futuro, Tainara e Vitória esperam cursar Química na Unicamp e já se preparam para prestar vestibular ainda este ano. Já Raíssa, que está no segundo ano, ainda não se definiu. De qualquer forma, as estudantes das Escolas Estaduais Pedro Salvetti Netto (Jardim Ipiranga), João Lourenço Rodrigues (Cambuí) e Jornalista Roberto Marinho (Vila Padre Anchieta) conseguem vislumbrar uma trajetória diferente daquela traçada antes da experiência vivenciada na Unicamp. (R.C.S.)