Informe Abipti, em 05/10/2011
Por Felipe Linhares
Quando o governo brasileiro decidiu criar a primeira Organização Social (OS) despertou a desconfiança de alguns críticos. Passados 14 anos, completos em outubro, a Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS) se consolidou como exemplo de gestão e de centro de pesquisas tecnológicas.
No campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), estão instalados os quatro laboratórios que são geridos pela ABTLuS: Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano).
De acordo com o diretor-geral da ABTLuS, Carlos Alberto Aragão, a flexibilidade oferecida pelo modelo de OS é o responsável pelo sucesso dos trabalhos dos laboratórios. “Podemos contratar e desenvolver um plano de carreira semelhante ao das empresas privadas. Como podemos fazer nossas compras sem burocracia ganhamos maior agilidade nos investimentos para a modernização da infra-estrutura de pesquisa, importação de equipamentos e de insumos de pesquisa”, explicou Aragão.
Outra vantagem são os instrumentos científicos operados no centro. Em todo o hemifério sul eles são encontrados apenas no CNPEM. Esses equipamentos estão no mesmo campus e disponíveis aos pesquisadores dos quatro laboratórios nacionais. Com a proximidade e a interação entre pesquisadores eles formam um grande complexo de pesquisas.
Com exceção do CTBE, todos estão abertos a pesquisadores externos. O LNLS é o único acelerador de partículas da América Latina e recebe anualmente 2,7 mil pesquisadores. Dados da ABTLuS mostram que por ano mais de 500 estudos são feitos nos laboratórios, sendo que 20% deles são propostos por estrangeiros. Essas pesquisas resultam em aproximadamente 250 artigos publicados nas mais importantes revistas científicas indexadas.
Resultados
Diversos setores da indústria são contemplados com os resultados de pesquisas feitas nos quatro laboratórios da ABTLuS. Todos os laboratórios desenvolvem pesquisas em parceria com as diversas áreas industriais. Para o setor químico, por exemplo, projetos desenvolvidos no LNLS geraram novos catalisadores, que reduzem significativamente o tempo de produção e ajudam a aumentar a produtividade.
O LNLS também trabalha em parceria com a indústria petrolífera. Para a Petrobras, por exemplo, foi criado o projeto de solda por atrito. De acordo com o diretor-geral da ABTLuS, Carlos Alberto Aragão, esse projeto nasceu no LNLS e agora está no Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano). “O modelo é um método de união de materiais sem a necessidade de fusão de metais. A nova tecnologia poderá ser para soldar tubos de alumínios em grande profundidade”, explicou.
Apesar de não estar aberto aos pesquisadores externos, o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) desenvolve cinco programas de pesquisas: pesquisa básica, agrícola, industrial, de avaliação tecnológica e de sustentabilidade. Em parceria com a Jacto, uma fabricante de máquinas agrícolas, o CTBE está desenvolvendo um equipamento para atuar em todas as fases do ciclo agronômico da cana. A intenção é reduzir os danos gerados ao solo durante a colheita, como a compactação e a erosão.
A integração dos pesquisadores da Unicamp, Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e o Centro Infantil Boldrini despertou mais esperança em pacientes com câncer. Em setembro, a revista Nature Genetics publicou o resultado da pesquisa com células de leucemia linfóide aguda. Foi descoberto nas bancadas do LNBio uma mutação específica que altera o gene de uma proteína fundamental para o desenvolvimento e o amadurecimento de um tipo importante de células de defesa. Os resultados podem contribuir para o desenvolvimento de medicações para o tratamento dessa doença.
Recursos e Desafios
Para manter os quatro laboratórios funcionando, a ABTLuS conta com um orçamento de R$ 70 milhões, vindos do MCTI. A Organização Social também busca verbas em projetos com a Finep, CNPq, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com instituições privadas. Para Aragão, as parcerias são muito importantes para os laboratórios.
“Um dos grandes desafios é estreitar a cooperação com o setor industrial, mas a meta é aprofundar essa relação com outros setores como, por exemplo, o de mineração, aeronáutica, energia e fármacos.”
Em 1997, foi inaugurado o Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS). O equipamento foi construído integralmente pela equipe do LNLS em dez anos. Com 85% de peças nacionais, ele custou US$ 70 milhões. Na época, esse valor correspondia a 0,02% do PIB e a 4,4% dos gastos em C&T. O equipamento colocou o país em condições favoráveis para desenvolver pesquisas em áreas emergentes da física, química, biologia e outras.
O LNLS tem agora um projeto mais ambicioso: construir o Sirius. A nova fonte de luz Síncroton, de acordo com o cronograma, deve ficar pronta em 2016 e está avaliada em US$ 207,3 milhões. Comparado a equipamentos construídos recentemente na Europa e Ásia, o Sirius permitirá que sejam feitas pesquisas em áreas estratégicas como nanociência, nanotecnologia, biologia molecular e estrutural, além de outras.
Ele será o primeiro equipamento de Luz Síncroton de 3ª Geração do hemisfério sul. “O uso de um equipamento como o Sirius poderá, sem dúvida nenhuma, contribuir para descobertas importantes em várias áreas da ciência”, garantiu Aragão. “Já tivemos casos de pesquisadores, como Ada Yonath e Thomas Steitz, que utilizaram síncrotrons de 3ª geração para descrever a estrutura molecular e ganhar o Nobel de Química. O Nobel brasileiro pode surgir do Sirius.”