O Correio do Povo, 31/05/2014
Multinacional é uma das principais parceiras do ambicioso Projeto Sirius, que irá construir o maior equipamento científico já produzido no Brasil, um dos melhores aceleradores de elétrons do mundo em sua categoria
Uma das maiores fabricantes de motores elétricos, transformadores, geradores e tintas industriais do mundo, a Weg agora também investe no ramo de ciência e pesquisa. A empresa jaraguaense tornou-se uma das principais parceiras do maior projeto da história da ciência brasileira, o Sirius. Os protótipos dos eletroímãs, componentes imprescindíveis para o sucesso do maior equipamento científico já produzido no Brasil, o Acelerador de Elétrons; já são produzidos desde março de 2013 nas instalações da Weg Motores, em Jaraguá do Sul.
O ambicioso projeto, que leva o nome da estrela mais brilhante no céu (Sirius), foi orçado inicialmente em R$ 650 milhões e é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em conjunto com agências de fomento e outras instituições.
Desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP), o Sirius faz parte da terceira geração dessas máquinas e será uma das melhores fontes de luz síncrotron do mundo, capaz de acelerar elétrons a velocidades próximas a da luz, produzindo uma fonte luminosa intensa, com alto poder de penetração. Produto final do acelerador, a luz síncrotron é uma radiação eletromagnética de amplo espectro que abrange desde o infravermelho até os raios X. Ela já é utilizada em várias áreas de pesquisa como física, química, biologia, geologia, nanotecnologia, engenharia de materiais e até paleontologia. O acelerador funciona como um gigantesco microscópio, utilizado para enxergar a estrutura atômica e molecular de diferentes materiais, de uma proteína até uma rocha.
O “casamento”
O “casamento” entre Weg e LNLS foi firmado em 2012, mas já havia negociações há pelo menos um ano antes. “A Weg é uma líder mundial na área de fabricação de motores e a gente entendeu que seria uma parceria muito proveitosa. No começo não foi fácil porque a própria palavra ‘síncrotron’, pouca gente conhecia. Imagina então falar em acelerador de partículas. Precisou de um namoro, que demorou um pouquinho, mas agora já estamos ‘saindo regularmente’ e, daqui a pouco, ‘estaremos casando’”, prevê em tom de brincadeira, Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS. “Fizemos investimentos em processos, equipamentos, e também em treinamento. Fabricar equipamentos de altíssimo requisito tecnológico, apesar da complexidade, sempre é uma oportunidade muito interessante para testarmos nossa capacidade. Projetos como esse sempre geram conhecimentos que podem ter alguma aplicabilidade prática nos nossos negócios atuais”, analisa Antonio Cesar da Silva.
Acelerador poderá ser utilizado em 2017
A expectativa é de que a construção do novo acelerador de partículas do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, termine em 2016. O terreno onde o prédio será construído, de 150 mil m², que pertencia ao banco Santander, já foi desapropriado pelo governo do Estado de São Paulo (por R$ 23 milhões) e foi cedido ao LNLS. A terraplanagem do terreno e o projeto executivo para construção do prédio já foram concluídos. Roque afirma que a partir de 2017 o acelerador já poderá ser utilizado, depois de passar por todos os testes.
“O plano é colocar o Sirius para funcionar e produzir o primeiro feixe de luz em 2016. Após essa inauguração, a máquina passará por um período em que vários testes serão realizados para depois disponibilizá-lo para a comunidade científica brasileira. O plano é abrir para os usuários e em 2017”, prevê.
Aceno para novas parcerias
Na última quarta-feira, uma equipe de profissionais ligados ao Projeto Sirius visitou a unidade da Weg Motores de Jaraguá do Sul, onde os eletroímãs são desenvolvidos. Após um passeio pela área de produção, o físico Antonio José Roque da Silva, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), se mostrou impressionado com o que viu.
Ele não escondeu a satisfação em ver o nível de excelência da produção e o comprometimento dos profissionais envolvidos. Roque, inclusive, acenou para novas parcerias com a multinacional jaraguaense. “A parceria com a Weg tem sido excelente. Os imãs são de certa forma o coração do acelerador e têm que ser fabricados em uma qualidade extrema, senão, não funcionará. E a Weg consegue entregar isso com essa capacidade. Os primeiros protótipos já estavam bastante bons, mas a evolução que a empresa demonstrou é excepcional. Acho que essa parceria só tende expandir-se para novas áreas”, afirma Roque.
Diretor de Marketing Corporativo da Weg, Antonio Cesar da Silva vê com bons olhos a possibilidade de outras parcerias com o Sirius. “Sem dúvida acreditamos em oportunidades adicionais. Iniciamos nossa parceria fornecendo algo muito complexo e que nem fazia parte da nossa linha de produtos. Em um projeto com este porte e requisitos tecnológico, existem naturalmente muitas outras necessidades que podem ser supridas pela extensa linha já existente de produtos e soluções Weg”, explica.
Desafios da WEG
A produção seriada do primeiro eletroímã, a Corretora do Booster, será iniciada já nos próximos dias. O próximo eletroímã a entrar em produção, logo após a corretora, será o Quadrupolo do Booster. Montar as peças com precisão tem sido um desafio vencido pelos profissionais da Weg, já que eletroímãs não faziam parte da linha de produção da empresa e as peças têm tolerâncias dimensionais mínimas, na ordem de microns (1micron = 0,001mm).
Ao todo, a Weg irá fornecer nove tipos de eletroímãs, que são bobinas de cobre montadas em um núcleo laminado, com objetivo de criar um campo magnético. Para o anel do ‘booster’ (responsável pela aceleração dos elétrons), foram desenvolvidos quatro modelos: a Corretora, Quadrupolo, Sextupolo e o Dipolo. Outros cinco protótipos, o QF, Quadrupolo QD, Quadrupolo QFC, Sextupolo e a Corretora serão produzidos para o anel externo (onde os elétrons irão circular e produzir luz síncrotron), e serão responsáveis pela correção do sentido dos feixes.
De acordo com o responsável pelo gerenciamento do projeto Eduardo Ramos, quase todos os setores da empresa estão mobilizados para o projeto. “Hoje temos 14 colaboradores ligados diretamente ao projeto, no entanto, o projeto tem envolvido mais de 40 colaboradores. Temos o envolvimento de praticamente todas as áreas. O apoio dos gestores e da alta direção tem sido fundamental. Precisamos de agilidade na condução do projeto, e temos conseguido isto”, comemora Eduardo.
Avanço da ciência
Outro desafio é desenvolver os equipamentos e processos que possibilitem a fabricação dos componentes de cada magneto, como polos e bobinas, de forma seriada. Os desafios, a magnitude e a importância do Sirius para o país, fizeram criar uma espécie de engajamento a mais nos funcionários da Weg.
“Participar de um projeto que te desafia a buscar novos conhecimentos, a entender o que deve ser realizado e qual seu objetivo, nos deixa orgulhosos. Ao conhecer a finalidade do projeto Sirius, para que serve um acelerador de partículas, percebemos a importância, não somente para nossa realização pessoal e profissional; mas principalmente para o futuro de nosso país”, exalta Paulo Roberto Oliveira Santos, engenheiro de produção, responsável na fábrica VII da Weg pelo projeto Sirius.
Conheça o Projeto Sirius
Com um anel de mais de 500 metros de circunferência, instalado num prédio de 250 metros de diâmetro, do tamanho de um estádio de futebol, a nova máquina será cinco vezes maior e muito mais avançada do que a atual, que será desmontada. A luz será gerada pela aceleração de elétrons, que viajarão dentro de um anel de 518 metros de comprimento (165 metros de diâmetro) a uma velocidade muito próxima (99,999999%) a da luz, que é de aproximadamente 300 mil km/s.
O Sirius começará a operar com 13 linhas de luz, mas poderá chegar a 40. A nova máquina será a única do tipo na América Latina e apenas a segunda no Hemisfério Sul, além de uma na Austrália. Mais do que isso, suas especificações técnicas deverão colocá-la na linha de frente das melhores fontes de luz síncrotron do mundo. A capacidade do Sirius fez com que a Petrobras se tornasse uma das empresas com maior interesse no projeto, atraída pela possibilidade de realizar estudos detalhados em matérias como rochas, para a extração da camada do pré-sal. Empresas do ramo cosmético também já demonstraram interesse, já que a luz síncrotron permitirá realizar estudos ainda mais aprofundados em fios de cabelos, por exemplo, ou em qualquer outra matéria.