Especialistas discutem infraestrutura e progressos do Orion, ressaltando sua relevância para o desenvolvimento científico e enfrentamento a crises sanitárias
Uma delegação do Instituto Butantan composta por pesquisadores e alunos do curso de Biotério visitou o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM). A visita teve como objetivo explorar possíveis colaborações para o projeto Orion – complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que compreenderá instalações de alta e máxima contenção biológica (NB3 e NB4, respectivamente) inéditas na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a um acelerador de partículas, o Sirius.
No período da manhã, a agenda contou com uma apresentação geral do CNPEM, com foco no Orion, ministrada pelo Diretor-Geral Antonio José Roque da Silva. Posteriormente, especialistas do Instituto Butantan realizaram suas apresentações, iniciada por Vania Mattaraia, Diretora Técnica da Divisão Biotério Central e vice-coordenadora do Centro de Ensino da Escola Superior do Instituto Butantan, também representante do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) – que regulamenta as discussões de manejo animal no Brasil -, seguida da apresentação do pesquisador Lincoln Suesdek, cuja área de pesquisa é voltada para entender problemas relacionados a mosquitos transmissores de doenças, também responsável por idealizar uma nova plataforma de tecnologia na área de pesquisa em mosquitos.
Suesdek mencionou a importância de se ter biotérios com certificação de biossegurança para investigar a competência vetorial dos mosquitos, a exemplo das instalações previstas para o Orion. “O Brasil é um país muito afetado por mosquitos e consequentemente pelas doenças que eles transmitem. Um dos fatores que precisam ser monitorados, é a competência vetorial, ou seja, a capacidade que um mosquito tem de transmitir um determinado vírus em diferentes situações. Sabemos que existem linhagens diferentes de mosquitos. Eles evoluem, mudam, ficam mais competentes ou menos, e as linhagens de vírus também mudam. E tudo isso precisa ser estudado. A solução para essas doenças, sejam vacinas ou controle de mosquito, passa obrigatoriamente pelo conhecimento dessa competência vetorial. Para conhecer essa competência vetorial de uma maneira dinâmica, é necessário ter biotérios com certificação de biossegurança, porque não se pode trabalhar com esses vírus representando riscos as pessoas que o estudam, ou para a população que reside próximo das instalações. Então o laboratório de biossegurança, todos esses que estão sendo planejados aqui no Orion, serão fundamentais”, salientou.
Sobre a parceria com o CNPEM, ele prevê diversas colaborações, entre elas, o estudo de vírus emergentes. “Não sabemos qual é a relação desses vírus com os mosquitos. Quais são os potenciais de surto, epidêmico, qual a letalidade, qual a capacidade patogênica. Existem muitos casos destes vírus desconhecidos ou pouco conhecidos, assim como têm mosquitos pouco conhecidos também. Temos linhas de pesquisa no Butantan que miram nesse tipo de problema, mas para acelerar esse tipo de estudo, uma parceria entre o CNPEM e o Butantan além de aumentar a capacidade de estudo, vai dar novas possibilidades, por exemplo, de acoplar a luz síncrotron ao estudo da interação de um vírus emergente, ou vírus conhecido, com a imunidade do mosquito, com células do mosquito, e isso é inovador. Não tenho dúvidas de que aqui é o lugar em que esse tipo de trabalho será realizado com excelência, e a parceria entre essas duas instituições vai ser bem produtiva”, avalia.
Entre as instalações planejadas para o projeto Orion, estão os biotérios, além dos laboratórios de microscopia eletrônica, criomicroscopia, técnicas avançadas de bioimageamento, laboratórios com diferentes níveis de biossegurança, entre outros recursos.
Desde o início, o escopo do projeto Orion vem sendo discutido com representantes de diversas instituições, para que sua infraestrutura seja adequada para atender demandas de diferentes naturezas, desde questões estratégicas do Sistema Nacional de Saúde, a problemas científicos e tecnológicos em diferentes frentes das biociências e medicina.
Para envolver parceiros estratégicos e membros da comunidade acadêmica, desde a concepção do projeto foi realizada uma série de eventos, abordando demandas, premissas centrais e as capacidades de experimentação do Orion. E, as colaborações e cooperações continuam a medida em que as discussões dos casos científicos que serão desenvolvidos no Orion avançam.
Antonio José Roque da Silva, Diretor-Geral do CNPEM, avalia que uma futura parceria com o Instituto Butantan irá contribuir para as atividades e competências que estão previstas para o Orion. “Toda essa infraestrutura será aberta, estará à disposição da comunidade acadêmica, por isso é fundamental que o CNPEM estabeleça e amplie parcerias com instituições como o Instituto Butantan. A união entre nossos recursos tecnológicos avançados, como o Sirius, luz síncrotron de última geração e todos aqueles que estarão disponíveis no Orion, somados a expertise do Butantan, maior produtor de vacinas e soros da América Latina, certamente resultará no desenvolvimento de pesquisas e em ações que contribuirão para as áreas de saúde e vigilância no Brasil”, afirma José Roque.
A Diretora Técnica da Divisão Biotério Central Vania Mattaraia, destaca a importância da implementação de um laboratório máxima de biocontenção. “A necessidade de ambientes capazes de proporcionar respostas para desafios futuros é fundamental. Até hoje nós não dispomos de um laboratório NB4. Acredito que será extremamente importante, não apenas para uma determinada área de pesquisa, mas também para o progresso científico e o desenvolvimento do país”, destaca. Ela ainda comenta que uma futura parceria entre CNPEM e Instituto Butantan resultará na combinação da expertise das duas organizações.
No período da tarde da visita, a delegação do Butantan conheceu o laboratório de treinamento que simula ambientes de alta e máxima biossegurança, onde atualmente é conduzido o Programa de Treinamento & Capacitação que objetiva a formação de recursos humanos para operar futuramente nesses ambientes biocontidos, com vistas ao projeto Orion.
Projeto Orion
O projeto Orion será um complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que compreenderá instalações de alta e máxima contenção biológica (NB4) inéditas na América Latina, as primeiras do mundo conectadas a um acelerador de partículas, o Sirius. Em construção na cidade de Campinas-SP, no campus do CNPEM, o Projeto reunirá técnicas analíticas e competências avançadas de bioimagens, que serão abertas a comunidade científica e órgãos públicos. Ao possibilitar o avanço do conhecimento sobre patógenos e doenças correlatas, o Orion subsidiará ações de vigilância e política em saúde, assim como o desenvolvimento de métodos de diagnóstico, vacinas, tratamentos e estratégias epidemiológicas. Instrumento de apoio à soberania nacional no enfrentamento de crises sanitárias, o Orion tem o potencial de beneficiar diversas áreas, como saúde, ciência e tecnologia, defesa e meio ambiente.
A execução do projeto Orion é de responsabilidade do CNPEM. O Projeto integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, é financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do MCTI e apoiado pelo Ministério da Saúde (MS). A iniciativa faz parte da Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial do Governo Federal, atuando como um instrumento de soberania, competência e segurança nacional nos campos científico e tecnológico para pesquisa, defesa, saúde humana, animal e ambiental. A concepção do Orion deve ainda fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), iniciativa coordenada pelo MS, voltada ao atendimento de demandas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre o CNPEM
O CNPEM compõe um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo MCTI, o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País, o CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. Responsável pela operação dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), e também pela Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC).