G1 em 21/10/2020
Presidente irá conhecer nesta quarta (21) as instalações do acelerador de partículas de R$ 1,8 bilhão e participar da cerimônia de abertura da Manacá, linha de luz que já funciona em caráter emergencial desde julho na tentativa de ajudar no combate à Covid-19.
Jair Bolsonaro visita nesta quarta-feira (21) o Sirius, superlaboratório de luz síncrotron de 4ª geração instalado em Campinas (SP). Será a primeira visita ao acelerador de partículas de R$ 1,8 bilhão, e o presidente participará de uma cerimônia de abertura da primeira linha de pesquisa que, na verdade, já funciona em caráter emergencial na tentativa de ajudar cientistas no combate à Covid-19.
Maior investimento da ciência brasileira, o Sirius realizou em julho os primeiros experimentos ao obter imagens em 3D de estruturas de uma proteína imprescindível para o ciclo de vida do novo coronavírus.
Em setembro, um grupo do Instituto de Física da USP de São Carlos utilizou o acelerador na busca por uma “chave” para desativar o novo coronavírus. Foi o primeiro experimento de pesquisadores externos no Sirius, instalado dentro do Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), organização vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC).
O CNPEM espera receber, após a inauguração oficial da primeira linha de luz, batizada de Manacá, propostas de pesquisadores de outros objetos de estudos que não apenas a Covid-19.
A primeira linha a ficar ativa é dedicada a técnicas de Cristalografia de Proteínas por Raios X. Na prática, é a estação que pode ajudar cientistas a encontrar ou melhorar, por exemplo, um fármaco capaz de inibir ou agir frente ao novo coronavírus.
“Ao receber pesquisas científicas que vão além de Covid-19, ainda que em fase de comissionamento científico, a Manacá poderá apoiar o avanço de pesquisas em áreas como biotecnologia industrial, biorrenováveis, biocombustíveis, biologia vegetal, agricultura, nutrição, busca de novos candidatos a medicamentos e doenças, como Alzheimer, câncer, esquizofrenia, cardiopatias, dentre outras”, informa, em nota, o CNPEM.
Imagem em 3D de proteína do novo coronavírus obtida no Sirius, superlaboratório instalado em Campinas (SP) — Foto: Sirius/CNPEM/Divulgação
Quase lá
Uma força-tarefa vem sendo realizada desde o início da pandemia para entregar duas das 13 linhas de pesquisas previstas na 1ª fase do projeto do Sirius. Depois da Manacá, a expectativa dos cientistas é colocar em operação, ainda neste ano, a Cateretê.
Essa nova estação de pesquisa utiliza a aplicação de técnicas de Espalhamento de Raios X, capaz de produzir imagens celulares únicas no mundo, segundo os especialistas. Na prática, os cientistas conseguiriam, pela primeira vez, ver e resolver todos os processos biológicos que ocorrem em única célula.
Estação de pesquisa Manacá, primeira a ficar pronta e operacional no Sirius, em Campinas (SP) — Foto: CNPEM/Divulgação
O circo e a mexerica…
Para ser ter uma ideia do que os cientistas que trabalham no Sirius tentam “enxergar” e entender com a ajuda do superlaboratório, basta ver a comparação feita pela pesquisadora do CNPEM, Daniela Trivella.
“Se uma célula humana fosse do tamanho de um circo, o vírus seria o equivalente a uma mexerica.”
Com as linhas de pesquisa, os cientistas esperam ver e distinguir a interação do vírus em tanto espaço. E com a potência do equipamento será possível enxergar, inclusive, até os pequenos “gominhos da fruta”, estruturas menores que as proteínas do Sars-Cov-2, por exemplo.
Sirius: maior estrutura científica do país, instalada em Campinas (SP). — Foto: CNPEM/Sirius/Divulgação
O que é o Sirius?
Principal projeto científico do governo federal, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Além do Sirius, há apenas outro laboratório de 4ª geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia.
Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para realizar os experimentos.
Esse desvio é realizado com a ajuda de imãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
Repercussão: Panorama Farmacêutico; Vale São Patrício; Litoral Hoje; Resende News; Jornal Floripa