Portal Aprendiz UOL, em 03/07/2012
Crianças e adolescentes coletam um pouco de saliva da boca e sob a lente de um microscópio, com a visão aumentada milhares de vezes, observam as suas próprias células e também “coisinhas de mexendo”: as bactérias. Desde o início do ano, um bairro vulnerável de Campinas, em São Paulo, e cidades ribeirinhas do Acre, estão aprendendo, na prática, conhecimentos sobre ciências.
A iniciativa faz parte de um projeto internacional MicroGlobal Scope, da Science House Foundation, fundação americana que apoia e financia programas educativos de ciências e matemática em todo mundo. Por meio do MicroGlobal Scope, a fundação distribui microscópios a escolas primárias e fornece uma plataforma virtual para que alunos compartilhem suas descobertas.
No Brasil, o projeto ganhou o nome de Pontos de Ciências e conta com parcerias locais para a implementação de laboratórios – equipados com microscópios, câmeras e computadores – e para a capacitação de monitores quem acompanham os alunos em suas descobertas.
O primeiro Ponto de Ciências está acontecendo na ONG Anhumas Quero-quero, em Campinas, em parceria com LNBio (Laboratório Nacional de Biociências) . A organização atende cerca de 90 crianças, entre 6 e 18 anos, de comunidades vulneráveis da região, oferecendo atividades de reforço escolar, dança, música e oficinas de jornalismo. Em maio deste ano, passou também a ministrar aulas de ciências. Lápis e cadernos agora dividem espaço com microscópios e lupas.
Os experimentos científicos são realizados por monitores voluntários, adolescentes da própria ONG, capacitados por Ana Carolina Zeri, uma das coordenadoras do Pontos de Ciências, pesquisadora na área de ressonância magnética nuclear e coordenadora do programa ensino e difusão da LNBio.
“Primeiro, eles se familiarizam com os equipamentos. Vão à campo explorar pequenos animais, plantas, microrganismos, células animais e vegetais”, afirma a coordenadora. No laboratório, observam as células e depois registram suas descobertas no site do MicroGlobal Scope, que abarca as experiências de jovens de várias partes do mundo.
Através dos microscópios, eles enxergam a sujeira do aquário, observam os ovinhos dos peixes e também os protozoários. Já em outra atividade observam a própria pele do braço e descobrem – como também se surpreendem – que, quando ampliadas milhares de vezes, as células dos braços são iguais aos dos outros colegas.
“Realizamos as atividades no laboratório uma vez por semana. Dividimos os alunos em grupos que fazem suas observações e depois desenham e escrevem o que viram. A prática está ajudando também a desenvolver as habilidades de escrita”, afirma Ana Zeri.
Ponto de Ciência no Acre
Outros Pontos de Ciências estão em fase de implementação no Acre. Em parceria com o programa Involking The Pause, dos Estados Unidos, os coordenadores do projeto visitaram comunidades indígenas e extrativistas para onde levaram kits de microscópios. “Nesse caso, escolhemos como viés as mudanças climáticas e como isso estava afetando aquelas comunidades”, afirma Ana Zeri.
No Centro Yorenka Ãtama , a equipe de cientistas capacitou professores para levar às crianças e adolescentes noções sobre como observar os microorganismos, descobrir quais seres vivos têm no rio e qual a importância de filtrar a água. Agora, os professores-monitores são acompanhados e tiram suas dúvidas via Facebook.
O projeto também implementou pontos nas cidades de Rio Branco e Marechal Thaumaturgo.
Repercussão: Folha de S. Paulo,