Equipe do LNBio/CNPEM conquistou cinco prêmios no WC13, participou de debates estratégicos da RENAMA e discutiu perspectivas em cooperações internacionais
Profissionais e bolsistas do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) conquistaram cinco prêmios no 13º World Congress on Alternatives and Animal Use in the Life Sciences (WC13), considerado o mais importante do mundo na área de métodos alternativos. Realizado de 31 de agosto a 4 de setembro, no Rio de Janeiro (RJ), o evento reuniu especialistas internacionais para debater avanços e desafios relacionados à substituição, redução e refinamento do uso de animais na pesquisa, regulamentação e ensino.

Representantes do CNPEM entre os premiados no congresso
“Para nós, receber esses prêmios em um evento como o WC13 é uma forma de reconhecimento do trabalho que estamos fazendo no LNBio. Temos um histórico de entregas de novos métodos desenvolvidos por nós e que já estão sendo utilizados, além de novos estudos que nos mantêm na fronteira do conhecimento das pesquisas na área”, conta Ana Carolina Migliorini Figueira, pesquisadora líder no CNPEM que, junto com a também pesquisadora líder Sandra Martha Gomes Dias, coordena os estudos premiados.
Durante o evento, oito trabalhos de diferentes equipes do LNBio foram apresentados. Entre os temas abordados pelas pesquisas estão modelos 3D, bioimpressão e microfluídica aplicados à toxicologia, doenças metabólicas, câncer e virologia. Quatro desses estudos receberam cinco prêmios concedidos por instituições como a Japanese Society for Alternatives to Animal Experiments (JSAAE), L’Oréal, Natura, a própria WC13, entre outras.
Trabalhos premiados
A analista de desenvolvimento tecnológico do CNPEM, Giovanna Blazutti Elias, recebeu dois prêmios pela apresentação do estudo “Infection of Liver 3D Spheroids with Yellow Fever Virus”. Ela foi contemplada com um dos prêmios da JSAAE e recebeu o prêmio oferecido pela L’Oréal. Neste estudo foi desenvolvido um modelo 3D de fígado humano, formado por pequenas esferas de células, para estudar a infecção pela febre amarela. Após exposição ao vírus, foi observada a redução da vitalidade celular, danos estruturais e perda de funções hepáticas, além de uma forte resposta inflamatória. O modelo reproduz efeitos semelhantes aos vistos em humanos e pode substituir o uso de animais em pesquisas. O trabalho deverá ser submetido à publicação em breve.
A JSAAE também premiou o estagiário do LNBio/CNPEM, Pedro Cavalcante Frizarini, pelo trabalho “Bioprinted and microfluidics Blood-Brain Barrier Model to Study Triple-Negative Breast Cancer Metastasis”. O estudo apresentado descreve os esforços para recriar um sistema bioimpresso da barreira hematoencefálica (BHE) e o parênquima cerebral de um paciente com metástase de câncer de mama. Simulações de dinâmica de fluidos permitiram identificar geometrias ideais de microcanais que favorecem o acúmulo de células tumorais sem comprometer a estrutura bioimpressa e ensaios definiram as melhores biotintas que garantem a sobrevivência dos diferentes tipos celulares.
A pesquisadora e doutoranda no CNPEM, Julia Carnelos Machado Velho, foi premiada pela Natura pela apresentação do estudo “Exploring Vascularization Strategies in Collagen-Based Tissue Constructs for Advanced 3D Tissue Models”. Neste estudo o grupo de pesquisadores do CNPEM está padronizando a vascularização do modelo de pele que contém 3 camadas (derme, epiderme e hipoderme), na tentativa de estabelecer um modelo mais fisiologicamente mimético da pele. No modelo, diferentes estratégias de vascularização em tecidos de pele e gordura foram testadas usando células humanas e colágeno, mostrando avanços promissores para gerar modelos mais realistas e úteis. Este trabalho está sendo desenvolvido em parceria com o Soft Tissue Regeneration Research group – Radboud UMC, no escopo da parceria Fapesp/NWO.
Renata S.N. Tavares, pesquisadora do LNBio/CNPEM, recebeu o prêmio Health Biolux Innovation pela apresentação do estudo “Patient-Deriver Organoids for precision Medicine in Breast Cancer: a Study of Brazilian Patients”. O trabalho apresentado descreveu a montagem de um banco de organoides de tumores de mama da população brasileira e a resposta in vitro destes tumores ao tratamento com quimioterapias e terapias alvo utilizadas na clínica. O estudo faz parte do projeto “Plataforma de testes terapêuticos personalizados em tumores de mama”, que a partir de um financiamento pelo Ministério da Saúde, está sendo desenvolvido em parceria o Instituto do Câncer do estado de São Paulo (ICESP), A.C.Camargo Cancer Center e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM -UNICAMP).
Com quase 800 participantes, esta foi a primeira vez que o congresso ocorreu no Brasil, realizado um mês após a sanção da lei que proíbe o uso de animais em testes de cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes. A partir da publicação da lei, as autoridades sanitárias têm dois anos para adotar medidas que garantam a aplicação dos métodos alternativos, implementar um plano estratégico de difusão no país e definir mecanismos de fiscalização para a utilização dos dados obtidos por meio desses novos testes.
“Mesmo antes dessa lei, o Brasil já era reconhecido como um país bastante avançado em termos de legislação na área. Agora, percebemos um novo entusiasmo tanto no evento quanto entre os grupos que discutem o tema, e estamos confiantes de que novos incentivos sejam oferecidos para o desenvolvimento de tecnologias alternativas ao uso de animais em testes”, afirma a pesquisadora.
RENAMA e integração com outras redes
Durante o evento, representantes do LNBio também participaram da reunião da Rede Nacional de Métodos Alternativos aos Animais (RENAMA), iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) voltada à redução do uso de animais e à substituição de métodos existentes por alternativas igualmente ou mais eficientes.
O LNBio tem papel de destaque na rede: além de ser um dos 42 laboratórios credenciados, integra o grupo das três instituições centrais responsáveis por difundir informações entre os associados e impulsionar a adoção de novos métodos no país.
“Na reunião, que contou com a presença de representantes do MCTI e de laboratórios associados, discutimos projetos colaborativos, incluindo propostas para avaliação de toxicidade sistêmica (DILI), absorção oral e tópica em chip, além de ações de capacitação e treinamentos junto à Anvisa”, explica Ana Carolina.
Além da RENAMA, o LNBio também participou de atividades institucionais de outras redes, ampliando as possibilidades de cooperação com o Centro Brasileiro para Validação de Métodos Alternativos (BraCVAM) e com o Center for Alternatives to Animal Testing (CAAT), da Johns Hopkins University. Segundo a pesquisadora, também foram discutidas iniciativas para a criação de uma rede que integre instituições da América Latina.
Sobre o LNBio
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) dedica-se à investigação da saúde humana, unindo biologia integrativa e tecnologias avançadas. Com competências em edição gênica, sistemas microfisiológicos, bioimagem e engenharia de tecidos, o LNBio busca descobrir alvos moleculares e desenvolver terapias inovadoras para doenças de relevância pública. Essa abordagem abrangente, que inclui moléculas e organismos vivos, desvenda mecanismos moleculares para identificar compostos bioativos, fundamentais para o desenvolvimento de novos insumos farmacêuticos ativos. O LNBio concentra esforços nas demandas do sistema público de saúde, utilizando infraestrutura de ponta e modelo matricial de trabalho em prol da inovação e do desenvolvimento na interseção entre ciência e saúde. Buscando integrar a saúde com fatores socioeconômicos e ambientais, atua como uma plataforma científica à disposição do Estado, capaz de desenvolver tecnologias avançadas para responder a questões estratégicas. O LNBio faz parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), uma Organização Social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).”
Sobre o CNPEM
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) abriga um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País. O CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. As atividades de pesquisa e desenvolvimento do CNPEM são realizadas por seus Laboratórios Nacionais de: Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), além de sua unidade de Tecnologia (DAT) e da Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC).