O Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM) capacitou a primeira turma de pesquisadores externos para operar em laboratórios com nível de biossegurança 3 – ambientes destinados para manipulação de agentes patogênicos que apresentam alto grau de transmissibilidade. O treinamento, parte do Programa de Treinamento e Capacitação do Projeto Orion, atendeu sete pesquisadores da Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A iniciativa visa aprimorar os recursos humanos que já atuam com pesquisas em patógenos e que, no futuro, poderão ser usuários das instalações abertas do Orion – Complexo Laboratorial para Pesquisas em Patógenos que será instalado no campus do CNPEM.
O treinamento foi realizado entre os dias 26 de fevereiro ao dia 1º de março, e abrangeu tanto atividades teóricas quanto sessões práticas no Laboratório de Treinamento em Biossegurança do CNPEM, que é um espaço mockup, que simula um laboratório NB3. Nesse ambiente de simulação, os pesquisadores em treinamento puderam praticar protocolos de segurança sem manipular materiais infecciosos ou enfrentar riscos de contágio. Tudo isso ocorreu sob a supervisão de profissionais especializados, que conduziram avaliações individuais sobre os protocolos de biossegurança.
“Esse é apenas o primeiro passo para o início da profissionalização e capacitação dos pesquisadores que trabalham em ambientes de alta contenção biológica no país. O complexo Orion abrigará laboratórios de níveis de biossegurança 1,2 e 3 e, pela primeira vez no país, um laboratório NB4. Até a conclusão deste novo complexo laboratorial para pesquisas em patógenos, o Programa de Capacitação e Treinamento terá a oportunidade de capacitar as equipes brasileiras nas melhores práticas de biossegurança do mundo”, ressalta Tatiana Ometto, especialista em biossegurança de alta contenção biológica do CNPEM.
Pesquisadores & diversidade
Os pesquisadores que concluíram a primeira turma do Programa de Treinamento e Capacitação em NB3 do CNPEM estão atualmente envolvidos em projetos de mestrado, doutorado e pós-doutorado que lidam principalmente com o agente etiológico SARS-CoV-2, entre outros. Este vírus, classificado como de classe de risco III, requer manipulação em laboratórios de nível de biossegurança 3.
Os cientistas capacitados pelo Programa são provenientes das cinco regiões brasileiras: Ana Paula Cunha Chaves do estado do Pará, Brenno Fernandes da Paraíba, Cristina Peter do Rio Grande do Sul, Simone Ravena de Brasília, e Danilo Mendonça, Beatriz Moreira e Márcia Duarte de São Paulo.
“Embora os pesquisadores sejam do mesmo grupo de pesquisa da UNIFESP, eles são provenientes de cinco estados diferentes e possuem formações diversas. Com isso, temos representantes das cinco regiões brasileiras, demostrando o alcance, e o potencial de diversidade e representatividade que o Programa de Treinamento pode proporcionar para a comunidade acadêmica brasileira”, comenta Tatiana Ometto.
Orion: Complexo Laboratorial para Pesquisas em Patógenos
Uma empreitada inédita no mundo, o complexo Orion abrigará laboratórios de alta e máxima segurança (NB3 e NB4), sendo que o de máxima contenção biológica, será conectado à fonte de luz síncrotron do acelerador de elétrons de quarta geração Sirius – a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no país. Serão três linhas de luz, como são chamadas as estações experimentais de pesquisa do Sirius, que serão interligadas ao Orion, capazes de fornecer estudos de materiais biológicos em diferentes escalas.
Assim como as demais instalações do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, o complexo Orion terá como princípio atender e estimular a colaboração científica entre diferentes atores e instituições de pesquisa nacionais e internacionais, que poderão usufruir de sua infraestrutura e equipe especializada para promover o avanço do conhecimento sobre os patógenos e as doenças relacionadas.
O Orion possibilitará condições inéditas para pesquisas sobre doenças graves e com alto grau de transmissibilidade, que hoje não podem ser estudadas no mundo devido à falta de infraestrutura adequada. O Projeto também contribuirá para a formação de recursos humanos a serem capacitados para lidar com agentes infecciosos desse tipo.
O projeto Orion, financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), integra o Novo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal e começará a ser construído ainda no primeiro semestre deste ano.
Perfil dos participantes do treinamento
Ana Paula Chaves é biomédica. Para a pesquisadora, é essencial esse “background” (plano de fundo) para conduzir suas investigações científicas de uma maneira correta. Ela menciona a importância da padronização dos processos para garantir mais segurança nos espaços laboratoriais. “Vamos conseguir iniciar as atividades do novo NB3 da UNIFESP de forma muito mais coordenada do que antes”, observa.
Brenno Fernandes é formado em Biotecnologia, e destaca que o Programa de Treinamento e Capacitação permitiu rever hábitos que não estavam em conformidade com as boas práticas laboratoriais. “O treinamento aprimorou consideravelmente minhas habilidades em biossegurança. Aprendi muito mais sobre a importância dos equipamentos para garantir a proteção necessária. Sem dúvida, estarei mais confiante para operar no laboratório NB3”, afirma.
Cristina Peter é médica veterinária, e compartilha uma de suas motivações de participação no Programa. “Durante toda minha formação eu trabalhei em ambientes de biossegurança 2. Ao retornar para o Brasil de um pós-doutorado dos Estados Unidos, enfrentei o desafio de trabalhar em um ambiente de biossegurança 3. Estamos trabalhando com agentes etiológicos como o coronavírus e o HIV, que são manipulados em nosso laboratório. Particularmente, não possuo formação técnica nesse sentido”, pontua a importância de integrar a capacitação.
Simone Ravena é biomédica. “Esse treinamento vem para agregar conhecimento, que levarei para meu grupo de pesquisa. O desenvolvimento do senso crítico para tomada de decisões foi um dos principais aprendizados, especialmente ao considerar possíveis derramamentos e acidentes”.
Danilo Mendonça, é biomédico e destaca a infraestrutura que foi instalada no CNPEM, que estará disponível para a comunidade científica brasileira. “É inovador ver o ambiente que temos aqui e toda a capacidade que o país possui para oferecer esse treinamento, dispensando a necessidade de estar em um laboratório real para entender processos como acidentes. Ter um ambiente de simulação e compreender como agir é muito interessante, pois nos permite conter esses riscos para proteger a nós mesmos e a comunidade como um todo”, observa. “Todas as medidas que estou aprendendo aqui certamente irão aprimorar significativamente minha prática de biossegurança, mesmo em laboratórios de níveis inferiores”, complementa.
Beatriz Moreira é biomédica com experiência prévia em ambientes NB3 na UNIFESP, o que lhe permitiu simular situações com as quais ela já estava familiarizada em seu trabalho diário. A princípio, ela pretende aplicar o conhecimento adquirido em seu Doutorado, não apenas para desenvolver seu projeto, mas também para estabelecer parcerias visando o desenvolvimento de tecnologias na área da saúde e em outras áreas biológicas.
Márcia Duarte, bióloga, compartilha sua experiência: “Recebemos um treinamento abrangente que simulou diversas situações que enfrentamos diariamente. Foi um curso dinâmico, com atividades que integraram teoria e prática do início ao fim”.
Os interessados no programa de capacitação e treinamento do Orion podem obter mais informações no site: https://pages.cnpem.br/treinamentonb3/.
Certificação internacional
Recentemente, pesquisadoras da Universidade da Califórnia, do campus de Irvine (UCI), estiveram presencialmente nas instalações do CNPEM para capacitar as equipes do Centro a trabalharem em laboratórios de nível 3. Pesquisadores, engenheiros e técnicos foram certificados para operar em laboratórios de nível de biossegurança 3 e também foi possível a certificação para oferecer treinamento a outros profissionais interessados na capacitação sobre as melhores práticas de trabalho, documentação e manutenção de laboratórios de nível de biossegurança nível 3.
A Universidade da Califórnia- Irvine School of Medicine é uma instituição de excelência nos Estados Unidos e já foi responsável pelo treinamento de mais de 2 mil profissionais nos EUA e vários países.
Assista ao vídeo do treinamento oferecido pela UCI ao CNPEM, clicando aqui.