MCTI, em 1/06/15
Brasil ganha prêmio internacional com estudo sobre moléculas capazes de inibir a atividade da enzima G6PDH, fundamental para a sobrevivência do Trypanossoma cruzi no organismo humano
Pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) trabalham para o desenvolvimento de novos fármacos contra doença de Chagas. O grupo de pesquisadores mira uma enzima chave para a sobrevivência do parasitaTrypanosoma cruzi,causador da doença de Chagas. As investigações com a enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH) progridem e detalhes de sua interação com outras moléculas foram revelados recentemente. O avanço no conhecimento da estrutura tridimensional da G6PDH foi reconhecido pela comunidade acadêmica internacional e o Brasil ganhou, pela primeira vez, o troféu Derbyshare Blue John, concedido pela Associação Britânica de Cristalografia.
Estudos in vitro sugerem que a enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH) desempenha papel fundamental para a sobrevivência parasita no organismo humano. Diante destas evidências, pesquisadores do LNBio trabalham, desde 2011, em busca de moléculas que possam inibir a atividade desta enzima, levando o parasita causador do mal de Chagas à morte.
Para encontrar inibidores da G6PDH, o grupo liderado por Artur Cordeiro, pesquisador do LNBio, desenvolveu ensaios de high throughput screening (HTS) para esta enzima. O uso de HTS permite testar, de forma rápida e robotizada, milhares de substâncias químicas em ensaios de atividade biológica. Trata-se do ponto de partida para a descoberta de novos medicamentos. Os resultados de HTS permitiram ao grupo selecionar, a partir de uma biblioteca química com 30 mil compostos, 32 novas moléculas capazes de inibir a atividade da G6PDH.
“Identificamos duas novas classes químicas de inibidores da G6PDH, as quinazolinona e tieno-pirimidinas. Estes inibidores apresentaram características promissoras para um candidato a fármaco, como potência e seletividade pela enzima do parasita”, explica Artur Cordeiro.
Neste momento, o grupo de pesquisa trabalha para desvendar como a G6PDH interage com estes inibidores. Para isso, um de seus alunos, Gustavo Mercaldi, doutorando do Programa Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi à Universidade de Dundee, na Escócia.
Mercaldi partiu para o estágio no exterior em outubro de 2014, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Supervisionado pelo professor Willian Hunter, da Universidade Dundee, o pesquisador brasileiro revelou a estrutura da G6PDH ligada ao seu substrato e ao seu cofator.
“O estudo de complexos biológicos é uma das fronteiras da cristalografia de proteínas. Talvez por este motivo, nosso trabalho tenha sido premiado durante a última reunião da Associação Britânica de Cristalografia”, sugere Mercaldi.
O pôster descrevendo a pesquisa do brasileiro ganhou o prêmio David Blow Memorial, concedido pela Associação Britânica de Cristalografia (BCA) durante o BCA Spring Meeting, evento realizado na Escócia em maio. Esta é a primeira vez que instituições brasileiras (LNBio e Unicamp) conquistam o troféu Derbyshare Blue John, concedido desde a década de 80, como parte da premiação ao melhor pôster de biologia estrutural do BCA Spring Meeting. “Estou bastante feliz pelo reconhecimento deste trabalho. O prêmio torna-se ainda mais especial por ser concedido no Reino Unido, o berço da cristalografia”, comemora Mercaldi.
Sobre o LNBio
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social qualificada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O LNBio dedica-se à pesquisa e inovação nas áreas de biotecnologia e à descoberta e desenvolvimento de fármacos e possui instalações abertas às comunidades científicas e empresariais. O laboratório concentra competências, equipamentos de última geração e um time de pesquisadores de classe mundial voltados à realização de estudos multidisciplinares nas áreas de biologia estrutural, proteômica, genômica, metabolômica, bioensaios, dentre outros.
Ascom do LNBio
Repercussão: NIT Mantiqueira; Portal Saúde no Ar