Soluções inovadoras utilizadas no acelerador de elétrons Sirius impulsionam cooperação científica entre o CNPEM e IHEP, instituto da Academia de Ciências da China
Brasil e China assinaram nesta terça-feira, dia 30, um Memorando de Entendimento com o objetivo de facilitar a cooperação científica no campo de tecnologias aplicadas ao uso de fontes de luz síncrotron. O acordo foi firmado entre o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) do Brasil e o Instituto de Física de Alta Energia (IHEP, do inglês Institute of High Energy Physics), organização da Academia de Ciências da China.
O CNPEM é responsável pelo projeto Sirius, uma das únicas três fontes de luz síncrotron de quarta geração em operação no mundo. A China tem dois projetos de síncrotrons em andamento para atualização para a mesma geração tecnológica brasileira.
Na cerimônia de assinatura, Antonio José Roque da Silva, Diretor-Geral do CNPEM comentou: “Os dois países entendem que as fontes de luz síncrotron são ferramentas importantes para resolver grandes problemas e que redes internacionais de cooperação são fundamentais para resolver desafios de longo prazo nas mais diversas áreas, como meio ambiente, aquecimento global, energia e saúde. Importante destacar que a parceria Brasil-China em ciência e tecnologia faz parte de um amplo cenário que envolve, além de luz síncrotron, satélites, biotecnologia, nanotecnologia. Colaborações como essa são essenciais para promover a troca de conhecimentos e acelerar a solução de desafios globais”.
“A assinatura deste Memorando de Entendimento é a concretização das intenções manifestadas pelos dois países na última visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos à China. O tema foi, inclusive, parte da declaração conjunta dos presidentes do Brasil e da China, publicada ao final da viagem do Governo Federal”, lembra Carlos Matsumoto, Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
As relações com a China no âmbito do projeto Sirius começaram há algum tempo. O país asiático forneceu, inclusive, alguns de seus componentes. Atualmente, a Academia Chinesa de Ciências (CAS) tem interesse em estabelecer laços mais fortes e institucionais com o Brasil visando trocas tecnológicas mais intensas e de longo prazo.
“A parceria com o CNPEM é uma notável conquista e a principal razão de nossa visita. Queremos unir esforços para encorajar a comunidade científica a trabalhar em colaboração, usufruindo das técnicas de luz síncrotron não só para publicar artigos, mas para abordar projetos de longo prazo em busca de soluções para grandes problemas mundiais”, pontou Yiqi Jiang, representante da Secretaria de Cooperação Internacional da Academia de Ciências da China (CAS).
O acordo bilateral coloca o Brasil em uma posição estratégica. Isso porque Sirius teve como um dos seus objetivos estimular o desenvolvimento da indústria brasileira, por meio da indução de demandas de serviços, matérias-primas e equipamentos. Graças ao envolvimento das empresas brasileiras, 85% dos recursos do projeto foram investidos no Brasil. Assim, o acordo com a China pode beneficiar as empresas brasileiras que estiveram envolvidas com o Sirius, além de posicionar o Brasil como um exportador de conhecimento de alta tecnologia.
“Ao longo da última década, o Brasil e a China têm colaborado na ciência e tecnologia da radiação síncrotron em momentos fundamentais para a criação da Sirius, um dos três síncrotrons operacionais de 4ª geração do mundo. Agora, o IHEP lidera a construção do HEPS, seu avançado síncrotron de 4ª geração, e estamos prontos para retribuir o apoio e compartilhar nossa experiência. Hoje, nossa parceria, consolidada pelo conhecimento e experiências compartilhados, está sendo formalizada através desse acordo assinado entre o CNPEM e o IHEP para possibilitar nossas colaborações científicas e tecnológicas e iluminar o caminho para um futuro melhor, promovendo conhecimento, descoberta e inovação para o benefício de ambas as nações”, declara Harry Westfahl Jr., Diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron do CNPEM.
O documento foi firmado pelo diretor-geral do CNPEM, Antonio José Roque da Silva e o Vice-Diretor do Instituto de Física de Altas Energias (IHEP) Yuhui Dong, acompanhado do diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/CNPEM), Harry Westfahl Jr. A cerimônia também contará com as presenças de Yiqi Jiang – Vice-Diretor do Escritório de Assuntos Americanos e Oceânicos, Secretaria de Cooperação Internacional, Academia de Ciências da China (CAS); You Zhou – Primeiro Secretário do Departamento de Ciência e Tecnologia da Embaixada da China no Brasil, Huan Li – Segundo Secretário do Departamento de Ciência e Tecnologia da Embaixada da China no Brasil, Lijun Guo – Vice-Diretor do Instituto de Física de Altas Energias (IHEP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS), Vice-Diretor Executivo do High Energy Photon Source (HEPS) do IHEP, Miao He – Diretor da Divisão de Linhas de Feixe, (HEPS) do IHEP, Carlos Matsumoto – Coordenador Geral de Cooperação Multilateral (MCTI), Liu Lin, Chefe da Divisão de Aceleradores (LNLS), Lucas Sanfelici, chefe da divisão de Engenharia de linhas de luz (LNLS), Helio Cesar Nogueira Tolentino, chefe da Divisão de Matéria Heterogênea e Hierárquica (LNLS); Narcizo Marques de Souza Neto, chefe da Divisão de Matéria Condensada e Ciência dos Materiais (LNLS); Mateus Borba Cardoso, chefe da Divisão de Matéria Mole e Biológica (LNLS); Eduardo Coelho Pereira, representante da Divisão de Aquisição e Processamento de Dados (LNLS), liderada por Daniel de Oliveira Tavares.
Status do Projeto Sirius
O Sirius começou a operar em 2020, quando a primeira linha de luz, como são chamadas as estações de pesquisa, foi aberta prioritariamente para pesquisas relacionadas a aprofundar os conhecimentos sobre o vírus Sars-CoV-2 e contribuir com o combate à pandemia. Atualmente, 6 linhas estão em operação, recebendo propostas de pesquisadores de todo o Brasil e do exterior. Outras quatro linhas estão começando a funcionar no modo de comissionamento científico, quando são realizados experimentos que ajudam a avaliar os parâmetros das estações de pesquisa. A primeira fase do projeto ainda prevê a instalação de outras 4 linhas, mas a conclusão dessa etapa depende da disponibilidade de recursos no orçamento federal.
Sobre o CNPEM
Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, único no Brasil e presente em poucos centros científicos do mundo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Centro opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM reúne equipes multitemáticas altamente especializadas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e formação de investigadores e estudantes. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. Por meio da plataforma CNPEM 360 é possível explorar, de forma virtual e imersiva, ambientes de todos os laboratórios instalados em Campinas (SP) e também obter informações sobre trabalhos realizados e recursos disponibilizados para a comunidade científica e empresas. A partir de 2022, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência. O curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação adota propostas inovadoras com o objetivo de oferecer formação de excelência, gratuita, em período integral e com imersão no ambiente de pesquisa do CNPEM.
Sobre o Sirius
Projetado e construído por brasileiros e financiado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Sirius é uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. Este grande equipamento científico possui em seu núcleo um acelerador de elétrons de última geração, que gera um tipo de luz capaz de revelar a microestrutura de materiais orgânicos e inorgânicos. Essas análises são realizadas em estações de pesquisa, chamadas linhas de luz. O Sirius comporta diversas linhas de luz, otimizadas para experimentos diversos, e que funcionam de forma independente entre si, permitindo que diversos grupos de pesquisadores trabalhem simultaneamente, em diferentes pesquisas nas mais diversas áreas, como saúde, energia, novos materiais, meio ambiente, dentre outras.
As diferentes técnicas experimentais disponíveis nas linhas de luz do Sirius permitem observar aspectos microscópicos dos materiais, como os átomos e moléculas que os constituem, seus estados químicos e sua organização espacial, além de acompanhar a evolução no tempo de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em frações de segundo. Em uma linha de luz é possível acompanhar também como essas características microscópicas são alteradas quando o material é submetido a diversas condições, como temperaturas elevadas, tensão mecânica, pressão, campos elétricos ou magnéticos, ambientes corrosivos, entre outras. Essa capacidade é uma das principais vantagens das fontes de luz síncrotron, quando comparadas a outras técnicas experimentais de alta resolução.
As linhas de luz do Sirius são instrumentos científicos avançados, projetados para solucionar problemas em áreas estratégicas para o desenvolvimento do País. Seis linhas de luz já foram abertas para a comunidade científica e tecnológica, dentre um conjunto de 14 linhas inicialmente planejadas para cobrir uma grande variedade de programas científicos. Ao todo, Sirius poderá abrigar até 38 linhas de luz.