Revista Canavieiros em 31/08/2015
É bastante significativo esse dia. A parceria que sempre tivemos com a STAB (Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil) e a ideia de fazer esse evento no dia do aniversário da Canaoeste são muito significativas para nós”. Foi dessa forma que o presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan, abriu o Seminário de Mecanização “José Fernandes”, realizado no auditório da associação, em Sertãozinho-SP, no dia 22 de julho. A data foi especial porque marcou os 70 anos de existência da Canaoeste, fundada em 22 de julho de 1945.
O seminário, organizado juntamente com a STAB, contou com a presença de cinco palestrantes, que abordaram diversos aspectos relacionados à mecanização tanto do plantio como da colheita da cana-de-açúcar.
Coordenado pelo superintendente da Canaoeste, Luiz Carlos Tasso Júnior, pela gestora técnica e pelo gestor operacional da associação, Alessandra Durigan e Gustavo Nogueira, respectivamente, além de José Paulo Stupiello, presidente da STAB, o evento teve início às 8 horas, com recepção e credenciamento dos participantes, e se estendeu até as 18 horas.
Marcado providencialmente para o dia do aniversário da Canaoeste, o seminário teve na abertura, além do discurso de Ortolan, a exibição do vídeo comemorativo dos 70 anos da entidade, produzido pelo Departamento de Comunicação e que, além de contar a história dessas sete décadas de trajetória, busca refletir sobre o futuro do setor sucroenergético, ouvindo pais associados que estão entre os pioneiros da atividade canavieira na região de Sertãozinho e filhos que continuaram no ramo. O assunto foi, inclusive, abordado pelo presidente da Canaoeste. Para ele, é necessário começar já a preparação de novas lideranças, que assumam o compromisso de integrar uma sucessão segura e continuar lutando pelo desenvolvimento da cadeia produtiva canavieira.
“Com as mudanças provocadas pela mecanização, entendemos que chegou a hora da Canaoeste mudar um pouco o rumo também. Essa dificuldade que todo o setor passa hoje mostra que precisamos estar mais em Brasília, como entidade de produtores. Precisamos da entidade sempre forte, para que se possa fazer o trabalho lá na frente. Queremos que a Canaoeste permaneça firme por reestruturação, ditado pela Markestrat, organização de projetos e pesquisa formada por mestres e doutores em negócios e com escritórios em Ribeirão Preto e São Paulo. Sob coordenação do professor Marcos Fava Neves, da USP–Ribeirão, o trabalho, que teve início em junho, visa ouvir diretores, associados e colaboradores para traçar as diretrizes de atuação para as próximas décadas, a exemplo do que vem sendo realizado na Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro–Sul), que também é presidida por Manoel Ortolan.
As reuniões, que contarão com um total de mais de três mil produtores, estão sendo realizadas por meio do projeto “Caminhos da Cana”, que vai percorrer mais de dez mil quilômetros na região de abrangência da associação. “O que a gente quer é que o setor volte ao ritmo de atividades, que retome o gás e que todo mundo tenha bastante cana para produzir, com muito sucesso”, concluiu Ortolan.
Por cerca de 30 minutos, ele lembrou os principais movimentos de reivindicação de que a Canaoeste participou ao longo da história. Com 40 anos de associação – entrou em 1975 no departamento técnico – e 15 na presidência – assumiu em fevereiro de 2000, Manoel Ortolan voltou a 1974, quando um grande volume de recursos liberados pelo antigo Funproçucar permitiu uma modernização da frota de caminhões e tratores dos fornecedores.
Resultado da mobilização de entidades representativas do setor.
A luta continuou na implantação de programas de melhoramento genético e no incentivo constante à pesquisa, para o desenvolvimento de variedades mais resistentes e produtivas, principalmente a partir de 1978, quando foi instituído o pagamento de cana pelo teor de sacarose – e não mais pelo peso. Passou pelo sistema de rotação de culturas, que se consolidou em Sertãozinho e Guariba-SP, com os produtores alternando a cana com amendoim, pelo Pro-álcool, programa que impulsionou os investimentos no etanol, e pela construção e desenvolvimento do Hospital Netto Campello, em Sertãozinho, que aproveitava o recolhimento de taxas determinadas pelo IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) para aplicar em prol da saúde de trabalhadores do setor.
Com a extinção do IAA, em 1999, e a liberação de açúcar e etanol para mercado, as taxas passaram a não ser mais recolhidas, o que dificultou a manutenção do hospital, hoje terceirizado para o Grupo São Francisco. “Com a queda das taxas oficiais, foi feita uma assembleia na Canaoeste e institui-se a taxa que mantém a associação até hoje”, explicou o presidente.
Novos modelos de gestão surgiram, como o sistema Consecana para o pagamento da cana, a assinatura do Protocolo Agroambiental no Estado de São Paulo, que antecipou o fim das queimadas para 2014, em áreas planas, e para 2017 em locais com declividade, além da introdução da mecanização no plantio e na colheita.
Ortolan encerrou a fala com projeções para o setor. Chamou a atenção para o crescimento do mercado da bioeletricidade, afirmou que um dos desafios é atingir e manter uma produtividade sempre na casa dos três dígitos, “caso contrário será muito difícil cobrir os custos de produção”, e garantiu que a Canaoeste tem um corpo técnico e jurídico preparado para atender a todas as necessidades dos fornecedores.
Vídeo comemorativo
O discurso do presidente da Canaoeste antecipou a exibição do vídeo elaborado pelo Departamento de Comunicação em comemoração aos 70 anos da associação.
Com quase 14 minutos de duração, a produção conta, brevemente, a história da entidade, desde a sua fundação, destaca o trabalho de Fernandes dos Reis, o presidente que por mais tempo esteve na presidência (1968-1999), e as conquistas da atual diretoria, com Manoel Ortolan à frente.
Com o objetivo de provocar uma reflexão sobre o futuro da Canaoeste e do setor sucroenergético, o vídeo traz, além dos depoimentos de Ortolan e do superintendente, Luiz Carlos Tasso Júnior, a palavra de pais e filhos cujas famílias participam dos rumos da associação praticamente desde o início. O produtor Carlos Rossetti, da Fazenda Santo Antônio da Boa Vista, em Ribeirão Preto-SP, é um exemplo. Associado desde 1961, quando comprou a propriedade junto com a mãe, ele contribui, ao lado do filho, Roberto, para pensar a evolução das práticas e da administração agrícolas. Fernando e José Guilherme dos Reis, filho e neto de Fernandes, complementam com as mudanças que ocorreram na produção canavieira e como é possível se adaptar a elas.
O vídeo pode ser visto pelos sites da Canaoeste: www.canaoeste.com.br/videos e da Revista Canavieiros: www.revistacanavieiros.com.br/videos
Mecanização
Plantio e na colheita da cana e os desafios que precisarão ser vencidos pelo setor sucroenergético começaram a ser postos em pauta pelo pesquisador da UFSCar Rubismar Stolf. Em tom de homenagem, ele expôs aos participantes algumas das pesquisas feitas por José Fernandes, que deu nome ao evento, visando ao desenvolvimento de novos materiais e técnicas para a agricultura.
“Ele foi pioneiro em estudos começados em 1973 de sulco combinado e também idealizou, no Brasil, o sistema de sulco de base larga, ambos para controle de tráfego. Outra inovação foi adicionar asas aos subsoladores, que antes não utilizavam”, afirmou. “Fica claro, portanto, que foi uma pessoa bastante inovadora, criativa”.
Após esta apresentação, vieram as palestras. Os temas em discussão foram “A importância da manutenção automotiva”, com Luiz Antonio Ferreira Bellini, engenheiro mecânico e diretor da Bellmec Consultoria e Assessoria Agrícola; “Sistematização de área para plantio mecanizado”, com Jairo Mazza, consultor em manejo de solos com cana e pesquisador da ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz); “Plantio mecanizado, espaçamento combinado”, com José Vanderley Gonçalves, gerente de produção agrícola do Grupo Clealco; “Inovação no processo de colheita da cana-de-açúcar: uma necessidade”, com Oscar Braunbeck, coordenador do curso de Engenharia Agrícola da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), do CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) e do Programa de Engenharia Agrícola do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira); e “Mecanização: erros e perdas operacionais”, com Luiz Carlos Dalben, agrônomo e consultor da Agrícola Rio Claro.
“O tema da mecanização é muito importante e se faz muito necessário para que o produtor adquira conhecimentos e se atualize, principalmente em relação ao assunto ‘plantio mecanizado e colheita mecanizada’, já que a mecanização é uma realidade no processo de produção da cana-de-açúcar. É um caminho sem volta”, disse Alessandra Durigan, gestora técnica da Canaoeste.
Para o presidente da STAB, José Paulo Stupiello, a importância do evento esteve em dois fatores. Um deles é que a mecanização está exigindo preparo do setor para lidar com novos desafios e tecnologias, como o sistema de mudas pré-brotadas, “que vai mudar bastante o perfil dos canaviais”. O outro é a comemoração do aniversário da Canaoeste.
“É um prazer estar aqui. Nós provocamos essa coincidência de data por tudo aquilo que a Canaoeste representa para o setor”.