Jornal da Ciência, em 01/11/2012
Pesquisadores do LNLS e LNBio testam o uso de nanopartículas contra Escherichia coli e Staphylococcus aureus.
A nanotecnologia estabeleceu uma nova fronteira para a indústria farmacêutica, já que abre a possibilidade de desenvolvimento de fármacos dotados de sistema de liberação controlada de medicamentos que garantem maior efetividade do tratamento e reduzem efeitos colaterais para o paciente. Um dos grandes desafios é desenvolver nanopartículas com propriedades físicas e químicas adequadas para “carregar” medicamentos no organismo humano, considerando que os materiais têm suas propriedades alteradas em escalas nano quando comparadas com as escalas macrométricas.
Um grupo de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, está testando o poder bactericida de nanopartículas de sílica com o objetivo de obter antibióticos de maior eficácia. A pesquisa, que foi matéria de capa da edição nº 22 do Journal of Materials Chemistry, publicada em outubro, utilizou como alvo duas bactérias relevantes do ponto de vista biomédico – a Escherichia coli e Staphylococcus aureus – para os testes de nanopartículas formada por sílica e lisozima, uma proteína encontrada na lágrima e no muco dos seres humanos. “A nanopartícula revelou-se efetiva contra as duas bactérias, mas funcionou melhor com a E. coli”, explica Mateus Borba Cardoso, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), coordenador do projeto que envolveu pesquisadores também do Laboratório Nacional de Biociência (LNBio), instalados no campus do CNPEM.
Os resultados indicam que as nanopartículas de sílica e lisozima têm ação bactericida, mas a qualidade desta ação está diretamente relacionada à carga superficial das nanopartículas (nesse caso, nanopartículas com cargas positivas devido à presença da proteína) que têm mais efetividade em bactérias Gram-negativas. “Isso significa que, para combater bactérias Gram-negativas precisamos de nanopartículas com carga positiva com a mesma ordem de grandeza da que encontramos nas nanopartículas sintetizadas”, explica Cardoso. Os pesquisadores já tinham publicado outro artigo relacionado, em que descrevem que a eficácia das nanopartículas é inversamente proporcional ao seu tamanho: quanto menor, mais efetiva. O problema é que, quanto mais efetiva a nanopartícula, mais tóxica ela pode ser para as células sadias. “O próximo passo é aprofundar o estudo sobre a carga e, em paralelo, retomar a análise de sua toxicidade”.
(Ascom do CNPEM)