Em visita ao Sirius, superlaboratório de luz síncrotron de 4ª geração, em Campinas (SP), o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, confirmou que o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM) abrigará um laboratório de biossegurança máxima (NB4), inédito na América Latina, e capaz de estudar e analisar vírus mais perigosos que o Sars-Cov-2, causador da Covid-19.
A informação foi divulgada nesta segunda-feira (17), dia em que Pontes apresentou o acelerador de elétrons e possível aplicações do do equipamento científico, que já fez imagens relacionadas a Covid-19, ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Os ministros não responderam a perguntas da imprensa.
A construção de um laboratório NB4, o de nível de biossegurança mais alto, já era pauta do ministério que, em 2020, liberou cerca de R$ 3 milhões ao pré-projeto da estrutura, agora confirmada para ser construída ao lado do Sirius.
De acordo com o MCTI, o projeto terá início no segundo semestre deste ano. A pasta, entretanto, não informou o orçamento nem o prazo de conclusão da obra. Estruturas desse tipo permitem a manipulação e estudo de vírus de alta periculosidade, como o Ebola, por exemplo.
“O Brasil precisa ficar preparado para as próximas pandemias, porque elas virão. Estruturas como essa são extremamente importantes para preparar o nosso país para o futuro. Para que tenhamos menos mortes no país, para que possamos desenvolver rapidamente soluções para proteger o país”, disse Pontes.
Ministro da Ciência, Marcos Pontes, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em visita ao Sirius nesta segunda-feira (17) — Foto: Luciano Claudino/Código19
Visita ministerial
A visita de Marcelo Queiroga, a primeira ao CNPEM e ao Sirius, tinha como foco as aplicações em pesquisas na área da saúde que são e podem ser realizadas no superlaboratório, que ainda depende de recursos do governo federal para ser concluído.
Por conta da pandemia, as equipes do CNPEM aceleraram o processo de montagem das primeiras linhas. Em julho de 2020, por exemplo, foram realizados os primeiros experimentos ao obter imagens em 3D de estruturas de uma proteína imprescindível para o ciclo de vida do novo coronavírus.
Imagem em 3D de proteína do novo coronavírus obtida no Sirius, superlaboratório instalado em Campinas (SP) — Foto: Sirius/CNPEM/Divulgação
Em setembro de 2020, um grupo do Instituto de Física da USP de São Carlos utilizou o acelerador na busca por uma “chave” para desativar o novo coronavírus. Foi o primeiro experimento de pesquisadores externos no Sirius, realizado na linha de luz Manacá.
Estação de pesquisa Manacá, primeira a ficar pronta e operacional no Sirius, em Campinas (SP) — Foto: CNPEM/Divulgação
O que é o Sirius?
Principal projeto científico do governo federal, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Além do Sirius, há apenas outro laboratório de 4ª geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia.
Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para realizar os experimentos.
Esse desvio é realizado com a ajuda de imãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
Entenda como funciona o Sirius, o Laboratório de Luz Síncrotron — Foto: Infográfico: Juliane Monteiro, Igor Estrella e Rodrigo Cunha/G1