G1, 20/04/2016
Tecidos preservados foram encontrados em fósseis de milhões de anos. Descoberta pode ajudar no tratamento de doenças cardiovasculares.
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Uma pesquisa coordenada pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBIo), em Campinas (SP), em parceria com 12 universidades e instituições brasileiras e estrangeiras recriou o coração fóssil de um peixe que existiu entre 113 e 119 milhões de anos e foi encontrado na Chapada do Araripe, no Ceará, um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo. A pesquisa iniciada há dez anos foi publicada nesta semana na revista britânica “ Elife” e pode abrir caminho para o esclarecimento da evolução cardíaca dos fósseis dos animais mais primitivos e auxiliar no futuro na cura de doenças cardíacas em humanos.
Os pesquisadores descobriram nos fósseis encontrados tecidos internos preservados e que os corações tinham cinco válvulas, sendo que hoje os peixes possuem apenas um. Isso nunca havia sido encontrado antes. A partir das tomografias feitas em um laboratório de luz síncroton , na França, em 63 fósseis, os cientistas criam um modelo do coração em três dimensões e em tamanho real. O chefe da pesquisa do Laboratório Nacional de Biociências, José Xavier Neto, afirma que é possível notar mudanças no órgão.
“Ele [o coração] tem cinco válvulas, enquanto os peixes atuais têm apenas uma na saída do coração. Isso indicou para nós que, durante o processo de evolução, houve uma simplificação da opção de saída do órgão”, explica.
Uma das espécies presente no aquário do laboratório em Campinas, mais primitiva que a do fóssil encontrado, possui mais válvulas. Essa comparação foi importante para entender como se deu a evolução do coração de espécies vertebradas, além de buscar novas alternativas para tratamentos para doenças cardiovasculares, através do uso de células tronco, como afirma o pesquisador.
“Com o auxílio da bioengenharia é possível, então, pelo menos em teoria, programar células tronco para que elas se desenvolvam formando o arcabouço de uma válvula e esta poderia ser implantada no paciente, com suas próprias células. Isso ainda está no futuro, mas não há nada que diga que é impossível. Muito pelo contrário”, ressalta o pesquisador.
As cirurgias para correções em bebês são feitas com tecidos de animais. Para famílias como a de Dário Perboni, que nasceu com quatro malformações, a descoberta é sinônimo de alívio. Os médicos chegaram a sugerir uma interrupção na gestação, mas o bebê nasceu e passou por duas cirurgias.
Bruna Coimbra Perboni, analista de sistema e mãe da criança, expressa a felicidade com os resultados da pesquisa. “Qualquer conquista nessa área é muito interessante. (..) A gestação é um momento delicado na vida da mulher, é uma fase especial”, disse Bruna.
Repercussão: Mega Saúde