Publicado originalmente em Época Negócios em 28 de março de 2023
A metodologia Human-on-a-chip usa impressora 3D para simular o funcionamento do organismo humano e avaliar a segurança dos produtos
Desde 2006, a Natura investe em métodos alternativos para não precisar testar seus produtos em animais — a empresa conta com aprovação do Programa Leaping Bunny, da Cruelty Free International, e da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). O desafio da companhia é encontrar metodologias disponíveis e validadas que forneçam informações sobre os ingredientes e produtos.
Agora, a empresa espera dar um salto com o desenvolvimento de uma tecnologia inédita na América Latina: a Human-on-a-chip. A técnica usa uma impressora 3D para simular o funcionamento do organismo humano e avaliar a segurança dos produtos.
A nova metodologia foi desenvolvida em parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LnBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Em estudo desde 2019, a tecnologia agora passa a ser aplicada nos testes de segurança realizados pela Natura em seu Laboratório de Inovação, situado em Cajamar (SP).
O diferencial da Human-on-a-chip em relação a outros métodos que utilizam órgãos impressos em 3D para testes é a combinação de estruturas biológicas equivalentes a órgãos humanos e integrados, o que possibilita a reprodução do funcionamento do organismo. Isso permite aos pesquisadores e cientistas avaliarem os efeitos de um ingrediente cosmético tanto dentro (órgãos) quanto fora do corpo (pele) simultaneamente.
Segundo Kleber Franchini, Diretor do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do CNPEM, desde 2015 o grupo trabalha com a implementação das tecnologias microfisiológicas. “Desde então, avançamos no desenvolvimento de pele reconstituída, esferóides de tecido adiposo e hepático, modelos de barreira intestinal e de epitélio pulmonar”.
No caso da parceria com a Natura, a empresa utiliza modelos impressos em 3D de pele, fígado e intestino. As impressões do laboratório não possuem o tamanho original da versão humana, sendo reproduzidos em micro versões funcionais apenas para os testes.
Tecnologia facilita inovação em produtos
Para a diretora geral de pesquisa e desenvolvimento da Natura, Roseli Mello, os testes em órgãos e pele 3D facilitam o processo de inovação em produtos. A técnica permite análises específicas e aprofundadas em ingredientes naturais que, muitas vezes, são inéditos e complexos.
“Temos a tradição de encontrar na biodiversidade brasileira possíveis novos ingredientes para criar novos produtos. Mas a falta de dados e testes sobre uma matéria-prima pode acarretar redução da concentração permitida ou até a proibição de seu uso em determinados produtos”, explica.
Kelen Fabiola Arroteia, gerente do Núcleo de Avaliação Pré-Clínica da Natura e uma das profissionais envolvidas no desenvolvimento da Human-on-a-chip, reforça a tese de Roseli. Segundo ela, a tecnologia já mostra resultados surpreendentes.
“Conseguimos avaliar uma nova matéria-prima em desenvolvimento na empresa e o resultado do ensaio possibilitou a liberação da mesma em produtos numa concentração três vezes maior do que seria possível sem esse novo método”, conta.