Portal do Meio Ambiente, em 26/06/2009
A Embrapa Instrumentação Agropecuária (CNPDia) inaugurou, no dia 28 de maio, o Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA), em São Carlos, interior de São Paulo. Foram R$ 10 milhões de investimento, vindos do orçamento da própria Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que aplicou R$ 4 milhões na compra dos equipamentos, via Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O laboratório já iniciou pesquisa com polímeros ou plásticos biodegradáveis, área de grande potencial para produção dos chamados filmes comestíveis, usados em recobrimento de alimentos, entre outras aplicações. A nanotecnologia trabalha na escala nanométrica: um fio de cabelo, por exemplo, tem 30 mil nanômetros de diâmetro; um átomo, em média, 0,2 nanômetro.
“O laboratório vai explorar um campo bastante amplo para a Embrapa e para a agricultura tropical. É um exemplo de convivência com outros segmentos: os recursos vieram dos Ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia”, destaca Tatiane Deane de Abreu Sá, que ocupa a presidência da Embrapa de forma interina, até a nomeação do substituto de Silvio Crestana para o cargo. Segundo ela, o LNNA será um “foco de convergência” das diversas iniciativas dentro e fora da Embrapa de aplicação da nanotecnologia ao agronegócio, como a pesquisa na área de fibras — em que a nanotecnologia poderá ser usada para produção de fibras mais resistentes; ou o uso de plásticos biodegradáveis muito finos, com propriedades como o aumento da durabilidade dos produtos quando aplicados em embalagens. Tatiane conta ainda que o laboratório terá forte preocupação com a formação de pessoal.
O chefe de pesquisa e desenvolvimento do CNPDia, Luiz Henrique Capparelli Mattoso, diz que as pesquisas em nanotecnologia vão ajudar na sustentabilidade e no aumento da produtividade e competitividade por agregar valor à agropecuária nacional. Como um dos filões de aplicação, ele cita a redução de insumos agrícolas por meio da nanotecnologia, que pode promover um uso mais eficiente dos fertilizantes e agrotóxicos. “Com nanotecnologia, podemos fazer com que esses insumos fiquem mais tempo no solo, causando menos impacto em rios e lagos, aumentando a eficiência com benefício para o meio ambiente”, diz.
Entre as linhas de pesquisa a ser trabalhadas no LNNA, o desenvolvimento dos chamados filmes comestíveis, feitos de plástico biodegradável, é uma das que estão mais avançadas. Os pesquisadores já trabalham com testes de resistência mecânica com amostras de plásticos biodegradáveis contendo nanoestruturas de origem natural em sua formulação. A pesquisa pode resultar em embalagens para produtos como margarina ou refrigerante. Segundo a Embrapa, o consumo per capita de plásticos nos países desenvolvidos é da ordem de 60 quilos por ano. Nos Estados Unidos, o plástico corresponde a 30% do volume total de lixo produzido diariamente. Na cidade de São Paulo, das 12 mil toneladas de lixo produzidas por dia, 10% são materiais plásticos.
Outras áreas de pesquisa que poderão se beneficiar da infraestrutura do LNNA são a aplicação de novas ferramentas para biotecnologia e nanomanipulação de genes e materiais biológicos; o desenvolvimento de catalisadores mais eficientes para produção de biodiesel; a utilização de óleos vegetais e outras matérias-primas de origem agrícola para produção de plásticos, tintas e novos produtos; produção de nanopartículas para liberação controlada de nutrientes, pesticidas e drogas; e nanopartículas e nanodeposição de filmes bioativos para biofiltros, membranas e embalagens biodegradáveis e/ou comestíveis para alimentos.
Pesquisadores da Embrapa Instrumentação
Segundo Mattoso, o LNNA vai atender inicialmente às demandas do próprio CNPDia, onde seis pesquisadores já conduzem estudos em nanotecnologia, e da Rede de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio, da qual participam 90 pesquisadores de 17 centros da Embrapa, incluindo o CNPDia, e 15 universidades. Mattoso é o coordenador da rede e também do LNNA, cuja criação foi anunciada em abril de 2006. Ao final desse mesmo ano foi constituída a rede, que atua em três linhas de pesquisa: sensores e biossensores para monitoramento de processos e produtos; membranas de separação e embalagens biodegradáveis, bioativas e inteligentes; e novos usos de produtos agropecuários. Quando foi anunciada a criação do LNNA, em 2006, o coordenador da iniciativa era Ladislau Martin Neto, que agora está participando do processo de seleção para escolha do novo diretor da unidade do Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior (Labex) situada nos Estados Unidos.
A parte do LNNA já inaugurada tem 700 metros quadrados. O laboratório deve ser ampliado no futuro. No planejamento da construção, optou-se por usar um padrão modular, de forma a poder expandir a área construída sem precisar de grandes intervenções. “À medida que formos identificando oportunidades de novas parcerias e linhas de pesquisa, podemos aproveitar o pouco que resta do nível horizontal para ampliação, e os alicerces são bons o suficiente para suportar mais três andares”, afirma Tatiane.
O LNNA trabalhará com prestação de serviços, em um modelo que a Embrapa ainda está definindo, segundo Mattoso. A ideia é que ele tanto opere a partir de projetos de P&D da academia e do setor privado como atue oferecendo serviços, como a disponibilização dos equipamentos para testes. “As alternativas vão da realização de projetos conjuntos a simples prestação de serviço, de uma consultoria, com remuneração para a Embrapa pelo serviço prestado”, explica Mattoso. Um dos modelos considerados pela Embrapa na operação do LNNA é o usado pela Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLus), que administra o complexo do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP). A instituição seleciona propostas apresentadas por pesquisadores dos setores público e privado e destina horas de uso das instalações do LNLS para esses estudos.
“Estamos sendo procurados por empresas brasileiras que trabalham com fertilizantes e fármacos e temos grande potencial para explorar os insumos que produzimos, aumentando sua eficiência e reduzindo seu custo”, afirma. “Estamos negociando com as empresas, por isso seria bom não citar nomes agora”, responde, quando questionado sobre quem seriam os interessados. Quando do lançamento do LNNA, algumas empresas e instituições privadas demonstraram interesse pelo laboratório, como White/Pix, Braskem, Ouro Fino, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé, do sul de Minas Gerais), Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag) e Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). (J.S.)