Galileu em 23/09/2018
Apesar da redução de investimentos em ciência e tecnologia, o governo federal anunciou a liberação de R$ 70 milhões para a conclusão de parte das obras do acelerador de partículas Sirius. Contruído na cidade paulista de Campinas, o equipamento será o mais avançado do mundo na geração de luz síncrotron, que tem alto brilho e permite o estudo na escala atômica de praticamente qualquer material.
A verba do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) será utilizada para a conclusão das instalações que abrigarão o acelerador de partículas. Com custo estimado de R$ 1,8 bilhão, até agora R$ 1,29 bilhão já foi investido no projeto — R$ 352 milhões neste ano.
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), responsável pelo projeto, acredita que em novembro deste ano será possível realizar os primeiros testes no equipamento. Diferentemente de aceleradores como o LHC, que fazem a colisão de partículas, os síncrotrons usam os elétrons apenas como meio para obter esse tipo especial de radiação.
O prédio que abriga o Sirus tem 68 mil metros quadrados e será equipado com aceleradores de partículas capazes de analisar a estrutura atômica de materiais orgânicos e inorgânicos. Com extensão superior de 500 metros, o anel por onde os elétrons percorrerão será capaz de prover até 40 linhas de luz responsáveis pela análise das partículas — para isso, as oscilações devem ser mínimas. A precisão e a capacidade tecnológica são tantas que será possível, por exemplo, realizar a tomografia de celulas e vasculhar o DNA do interior de seu núcleo, em uma projeção realizada em três dimensões.
Após a realização dos testes, os responsáveis pelo projeto darão início às obras para a criação de vácuo no interior dos túneis em que os elétrons percorrerão. A conclusão de todo o acelerador deverá estar pronta em 2020.
Em entrevista concedida no final do ano passado para a GALILEU, Antônio José Roque, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), destacou a importância do projeto para a ciência nacional. “O Sirius é um projeto estruturante no país porque ele impactará de forma decisiva em um conjunto de ações ou de áreas. Ele colocará o Brasil em um patamar de fronteira, e isso serve para a área acadêmica e também para empresas que desejam desenvolver seus produtos e processos”, afirmou. “Durante sua construção, componentes tecnologicamente sofisticados precisaram ser desenvolvidos e conseguimos em grande parte envolver empresas nacionais. E há a questão cultural, de você ter a coragem de fazer a inovação de ponta e de que é possível fazer essas coisas no Brasil.”
Para que as obras sejam concluídas, será necessário o investimento de ao menos R$ 510 milhões. De acordo com o governo federal, R$ 270 milhões serão dedicados ao Sirius em 2019 — a lei orçamentária depende de aprovação do Congresso Nacional.