Por Folha Online em 29/01/2021
Beatriz Montesanti
Em meio à pandemia, a Sanofi -uma das maiores farmacêuticas do mundo- lançou novos produtos no Brasil, avançou em pesquisas de vacinas contra o coronavírus no exterior e priorizou diversidade de suas equipes.
A multinacional projeta que até 2030 metade de seu faturamento no país venha de medicamentos inovadores produzidos no centro de desenvolvimento de Campinas (SP), maior plataforma industrial da empresa fora da Europa.
“Estamos fazendo inovação de brasileiros para brasileiros” afirma o venezuelano Félix Scott, que assumiu em 2019 a missão de liderar os negócios da Sanofi Brasil.
Como avalia o mercado de saúde durante a pandemia? O mercado brasileiro recebe inovação positivamente. O principal que está acontecendo no mercado farmacêutico é que os pacientes estão mais cientes de sua saúde, estão se cuidando mais. Em especial pacientes com doenças crônicas, e por isso adiantamos o lançamento de novos produtos. A pandemia não tem sido um obstáculo para levarmos inovações para os pacientes.
O que tem sido feito em termos de inovação no Brasil? Temos três tipos de inovação na Sanofi: global, incremental, e no jeito como estamos entregando essas evidências. Os brasileiros estão nos três processos. Nosso centro de desenvolvimento em Campinas tem por função entender pacientes brasileiros e gerar soluções para os brasileiros, que satisfaçam as necessidades brasileiras. O propósito principal é aumentar a qualidade de vida. Estamos investindo mais de ? 30 milhões [R$ 187 milhões] nos próximos cinco anos para gerar essas soluções. Temos um projeto que começou com essa equipe no Brasil e que tornou-se uma inovação global. Estamos lançando em todos os países em que temos operações.
Do que se trata o projeto? Temos dois medicamentos que são comercializados separadamente e que têm impacto positivo para o controle do colesterol. Colocamos esses medicamentos juntos, e isso tem um benefício enorme, porque quando você é um paciente cardiovascular tem que tomar muitos medicamentos, cinco, seis. É uma enorme conveniência ter esses dois medicamentos em um só, além de aumentar a eficácia do tratamento.
Onde os ? 30 milhões serão investidos? Principalmente em talentos. Também investimos em novos equipamentos para desenvolverem as pesquisas. Temos estudos de bioequivalência, para ver como esses produtos funcionam com o corpo humano, e pesquisas clínicas, para entender se novos produtos são efetivos. Esses são os principais trabalhos desenvolvidos em Campinas.
O governo vê a região de Campinas, onde está o acelerador Sirius, como embrião para um grande polo de inovação. Acha esse um cenário possível? Sabemos que inovação é fundamental para o país, para o crescimento da economia e também para essas soluções terapêuticas para os pacientes. Temos muitas relações com esses centros de desenvolvimento para realizar pesquisas e os resultados são muito positivos. Temos que trabalhar para garantir mais investimento, e não só o público, também o privado.
É muito difícil fazer inovação sozinho, por conta de todos os investimentos necessários, então se tem alguém mais fazendo parte dessa inovação, que tem equipamentos, é muito bom. É muito positivo termos uma rede integrada, fazer com que os governos federal, estadual e regional garantam as melhores soluções para o Brasil. Temos uma jornada pela frente, sim, mas vamos caminhar juntos.
A Sanofi adiou lançamentos e mudou estratégias durante a pandemia? Mudamos a estratégia de como levar os produtos para o mercado. Por exemplo, as vitaminas Medley, uma das marcas mais importantes do mercado farmacêutico no Brasil, tínhamos um plano para lançar em 2021, mas com a pandemia, os pacientes ficaram mais preocupados com sua saúde e cresceu a demanda por elas. Então adiantamos esse lançamento.
Como a Sanofi buscou informações corretas sobre o uso de seus medicamentos, como a hidroxicloroquina? Primeiro, procuramos entender quais produtos estavam no mercado, como neste caso da hidroxicloroquina, e que poderiam ser usados como terapia para o coronavírus. Nossas conclusões não deram evidências para afirmar ou negar que haja valor no tratamento.
Falando com pacientes temos algumas limitações, porque não temos um canal direto com eles. Nós falamos com os médicos. Nesse caso específico, também trabalhamos com redes de farmácia para garantir o fornecimento do produto para as pessoas que já o utilizavam para tratamentos.
Mas nossa contribuição mais importante foi a vacina. Aí que vem a importância dos investimentos em inovação. Uma vacina normalmente leva cinco, seis anos para ser produzida, e toda a indústria nesse momento, em menos de um ano, tem gerado opções.
A Sanofi pretende testar no Brasil a vacina que está desenvolvendo? A vacina candidata à base de proteína recombinante com adjuvante da Sanofi, em parceria com a GSK, entrará em um estudo de fase 2 b com início previsto para fevereiro. Além dessa vacina, a Sanofi está desenvolvendo uma vacina de mRNA (RNA mensageiro) em parceria com a Translate Bio e esperamos que o estudo de fase 1/2 comece no primeiro trimestre.
RAIO-X
Félix Scott, 60
Com mais de 35 anos de experiência profissional, executivo passou pela Unilever, Diageo e Farmatodo. Na Sanofi desde 2009, assumiu em 2019 a missão de liderar os negócios da Sanofi Brasil.