02/06/2009 – Jornal da Ciência
Para Alexander McPherson, da Universidade da Califórnia, o Brasil é um dos países onde a cristalografia está começando a se desenvolver de maneira mais promissora
Com o objetivo de trocar conhecimentos sobre técnicas, procedimentos e equipamentos utilizados na cristalização de proteínas, o Centro de Biologia Molecular Estrutural (CeBiME) reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros no IV Workshop de Biologia Molecular Estrutural do LNLS: técnicas, ferramentas e desenvolvimentos em cristalização de proteínas.
Realizado nos dias 28 e 29 de maio em Campinas, o workshop possibilitou à comunidade sul-americana de cristalografia contato com especialistas em cristalização, uma etapa essencial para as pesquisas em biologia estrutural, mas ainda pouco desenvolvida por aqui.
A formação de cristais é um dos passos mais críticos da resolução da estrutura tridimensional das proteínas, uma vez que se trata de um processo imprevisível, que requer centenas de testes e para o qual não há garantia de sucesso. Alguns tipos de proteínas, contudo, são ainda mais difíceis de se trabalhar.
É o caso das estudadas por Liz Carpenter, líder de grupo do Membrane Protein Laboratory (MPL), do Diamond Light Source, e pesquisadora do Imperial College London, ambos na Inglaterra, que trabalha com cristalização de proteínas de membrana. “Até onde eu saiba, ninguém na América do Sul está trabalhando com esse tipo de proteína ainda”, afirmou.
Segundo ela, as proteínas solúveis são as mais estudadas e ficam imersas em uma solução. Já as proteínas de membrana encontram-se na superfície das células e realizam o transporte de metabólitos através da barreira da membrana celular e também a comunicação dos sinais biológicos entre o interior e o exterior celulares.
“Essas proteínas são difíceis de manipular, mas muito importantes de serem estudadas. Algumas técnicas utilizadas para as proteínas solúveis, um pouco mais fáceis de manipular, também podem ser usadas para as proteínas de membrana, mas são necessários alguns procedimentos extras, alguns truques, para que o processo funcione”, relata.
De acordo com ela, cerca de 30% das proteínas que se expressam a partir do genoma humano são proteínas de membrana, mas apenas 0,2% das estruturas resolvidas são desse tipo de proteína. Por outro lado, mais de 50% dos fármacos desenvolvidos pela indústria farmacêutica têm seu funcionamento influenciado por essas proteínas. “Então, se você está interessado em curar doenças, que é um dos objetivos finais da biologia estrutural, tem que estar habilitado a trabalhar com as proteínas às quais as drogas se vinculam”, ressalta.
Já o pesquisador Alexander McPherson, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, trouxe ao Brasil sua experiência com técnicas que se baseiam na cristalização de pequenas moléculas e de proteínas modificadas quimicamente. “Essas são ideias relativamente novas que estamos começando a desenvolver, que foram publicadas recentemente ou que nem sequer foram publicadas ainda”, relata.
Além de Carpenter e McPherson, vieram também ao Brasil para participar do workshop Alejandro Buschiazzo, do Institut Pasteur de Montevideo, no Uruguai, e Terese Bergfors, pesquisadora do Biomedical Center da Universidade de Uppsala, na Suécia, instituição que tem uma tradição de quase cinquenta anos em cristalografia.
Intercâmbio
Segundo o coordenador do workshop, João Alexandre Ribeiro Gonçalves Barbosa, pesquisador do CeBiME, outra das principais finalidades do evento era divulgar as condições existentes nos laboratórios do Brasil e da América do Sul para realização de estudos na área.
“Vários grupos brasileiros estão começando a comprar robôs de cristalização, equipamentos que nós já temos aqui no CeBiME. Nesse momento, é muito importante trocar informações com pessoas que já estão usando esse tipo de instrumentação há mais tempo”, lembra.
De acordo com McPherson, o Brasil e a China são, provavelmente, os dois lugares no mundo onde esse tipo de ciência está começando a se desenvolver de maneira mais promissora e o CeBiME realiza um trabalho de nível mundial. “Por isso, é muito importante compartilhar o que sabemos nas outras partes do mundo para que esse conhecimento possa ser aplicado e não seja necessário reinventar coisas que já são conhecidas ou feitas em outros lugares”, finaliza.
Carpenter também salientou a importância desse intercâmbio e demonstrou interesse de estabelecer cooperações com pesquisadores e estudantes brasileiros. “Ficaremos muito felizes de realizar colaborações para que as pessoas possam vir trabalhar conosco, aprender como fazer esse tipo de estudo e depois voltar ao Brasil para repassar todo esse conhecimento para outras pessoas”, finalizou.
O CeBiME é um dos centros de pesquisa operados pela Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS) para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Desde sua criação, em 1999, suas instalações e pessoal dedicam-se à elucidação da estrutura e função de macromoléculas, como as proteínas.
Até maio deste ano, o CeBiME era um centro vinculado ao LNLS. Agora autônomo, ele cresce em direção ao desenvolvimento de fármacos. Além do laboratório de cristalografia, o centro conta também com laboratórios de ressonância magnética nuclear, espectroscopia, biologia molecular, calorimetria e espectrometria de massas.
(Informações da Assessoria de Comunicação do LNLS)