Agência Fapesp, em 26/08/2010
A busca de novas possibilidades de parcerias entre instituições acadêmicas e empresas privadas marcou as apresentações, os debates e as conversas do 4º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), que terminou ontem (25/08) em São Paulo.
Já há alguns resultados. Em colaboração, a Fundação Biominas e a empresa farmacêutica Sanofi-Aventis lançaram um edital em busca de moléculas que possam ser desenvolvidas e transformadas em novos medicamentos. Chegaram 230 propostas, das quais 15 se mostraram mais promissoras e entraram em um processo final de análise.
“Essa é uma forma de aproximar empresas e universidades”, comentou Eduardo Soares, presidente da Fundação Biominas. “A empresa farmacêutica ganha novas moléculas, mas a universidade também ganha.” Ele lembrou, porém, que as iniciativas de investimento ainda se concentram no começo da cadeia de desenvolvimento de fármacos.
A Farmacore, criada a partir de pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, é uma das empresas interessadas em colaborações para ampliar a escala de produção e desenvolver produtos que cheguem ao mercado consumidor. “Pequenos e grandes devem trabalhar juntos”, comentou o diretor científico, Fabio Galetti. Segundo ele, a empresa já domina a produção de três moléculas em reatores de 15 litros.
Os grupos de pesquisas de universidades raramente trabalham em escalas de produção superiores a 50 litros, lembrou Fernanda Piza, gerente de inovação do Instituto Vita Nova. “Houve avanços na legislação, mas ainda há muitos elos faltantes na cadeia de desenvolvimento de novos medicamentos no Brasil”, disse ela. Empresas especializadas em serviços de biotecnologia que complementam as competências de institutos de pesquisa acadêmicos e empresariais já são comuns na China e na Índia, mas ainda raras no Brasil. “É muito difícil pensarmos em registro [de medicamentos novos] no exterior nos moldes feitos no país.”
Kleber Franchini, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou de uma molécula descoberta por seu grupo que está sendo desenvolvida em colaboração com o laboratório nacional Cristália. Depois de mostrar que protegia células do coração após um infarto, a molécula se mostrou também eficaz contra diabetes, inflamação e aterosclerose (enrijecimento dos vasos sanguíneos) em testes pré-clínicos, fundamentando a perspectiva de testes em seres humanos. “Nossa universidade está preparada”, disse. “O que temos de fazer é reduzir a distância com os financiadores e com a indústria.”
Futuro da nanotecnologia – Uma parte da nanotecnologia é a nanogeopolítica. Oswaldo Luiz Alves, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), adotou esse termo, colocado sobre um mapa múndi, para lembrar que o Brasil possui reservas de lítio, índio, nióbio e grafite, quatro minerais importantes para a construção de dispositivos que funcionem em escalas nanométricas.
“Esses recursos têm de ser cuidados de maneira especial, caso o país queira mesmo ser um ator importante na área de nanotecnologia”, comentou, em sua apresentação no ENIFarMed.
Ele mostrou como a nanotecnologia já tomou a forma de produtos diferentes, como tintas para carros e medicamentos, e em seguida concluiu: “A nanotecnologia não será uma indústria, mas estará em todas as indústrias. O conhecimento nessa área está sendo construído pelos mais diferentes atores.”
Nelson Duran, outro pesquisador da Unicamp especializado nessa área, falou dos avanços no Brasil, mostrando as 30 empresas listadas no relatório do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) de 2007 a 2010 que receberam financiamentos próximos a US$ 30 milhões.
No Brasil, ele informou, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) já aceitou o registro de 19 produtos farmacêuticos de base nanotecnológica, enquanto nos Estados Unidos existem 63 novos produtos registrados (a maioria para tratar câncer ou infecções).. “A nanotecnologia oferece oportunidades únicas para melhorar os desenhos e a produção dos fármacos”, comentou Duran.
Duran ressaltou a preocupação internacional com a segurança na produção e uso de medicamentos de base nanotecnólogica. “Os órgãos de governo do Canadá e da Austrália já estão pedindo às empresas para listarem os componentes nano em seus produtos”, disse. “O Brasil poderia começar a pensar a fazer o mesmo.” Se não manipulados adequadamente, as partículas nanométricas podem ter efeitos prejudiciais sobre o pulmão, a pele e as defesas do organismo contra vírus e bactérias.