O evento Integração, Boas Práticas e Parcerias Tecnológicas no Setor de Insumos Farmacêuticos, idealizado pela Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (ABIQUIFI), EMBRAPII e CNPEM, com a adesão de diversas unidades EMBRAPII, empresas e instituições, reuniu no dia 9 de setembro representantes da indústria farmacêutica, farmoquímica, startups, órgãos reguladores e academia para discutir como transformar o potencial brasileiro em realidade e avançar na produção nacional de fármacos inovadores.
Para Claudia Caparelli, gerente de Inovação do CNPEM, este encontro no CNPEM com empresas produtoras de medicamentos e startups de tecnologias disruptivas na produção de medicamentos, foi um marco nacional ao permitir não apenas a discussão sobre Boas Práticas no Desenvolvimento de Fármacos no Brasil, mas por permitir o estreitamento das relações entre os ambientes que promovem ciência aplicada com quem implementa as tecnologias para novos medicamentos no mercado. “Saímos deste evento com um plano de ação, com o objetivo de potencializar ainda mais o desenvolvimento e a chegada de novos medicamentos ao mercado nacional, com a certeza de que estamos no caminho certo para melhorar a qualidade e a rapidez não apenas na identificação de novas moléculas potenciais de novos remédios, mas do interesse na indústria em desenvolver e produzir nacionalmente estes insumos”, relata.
Desafios e oportunidades
Nesse contexto, Iaralice Medeiros de Souza, da Fiocruz, ressaltou a relevância de parcerias sólidas para acelerar o desenvolvimento. “A cooperação é fundamental para facilitar e dar velocidade a processos que, sozinhos, levariam muito mais tempo. Assim conseguimos transformar resultados de pesquisa em produtos de qualidade para a população”, observou.
Luciene Ballotin, representante do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, Inmetro, reforçou que certificações e boas práticas laboratoriais são essenciais para dar credibilidade internacional, mas destacou que devem ser aplicadas de forma proporcional à maturidade de cada projeto, para evitar custos desnecessários nas fases iniciais.
Colaboração e regulação
O encontro reforçou a importância de aproximar empresas, institutos de ciência e tecnologia (ICTs) e órgãos reguladores para reduzir a distância entre pesquisa e mercado. Essa conexão já se reflete em iniciativas conduzidas pelo CNPEM com parceiros estratégicos. Na área de biodiversidade e fármacos, o Projeto Iwasa’i, em parceria com a UFPA, explora bactérias do solo amazônico com potencial para novos antibióticos e antitumorais.
Outros projetos em colaboração com a Nintx e financiados pela Embrapii usam produtos naturais brasileiros como base para terapias inovadoras contra doenças multifatoriais, incluindo câncer e distúrbios metabólicos. Entre eles, a iniciativa Aliança Dor busca alternativas para o tratamento de dor neuropática a partir da modulação da microbiota. Essas pesquisas combinam a biblioteca de produtos naturais do CNPEM, desenvolvida em parceria com a Phytobios, ao uso do Sirius e de algoritmos avançados.
O Centro também participa do desenvolvimento de ferramentas abertas, como o NP3 MS Workflow, software construído com USP e Unicamp que acelera a identificação de moléculas bioativas, e integra o projeto Cadeia Produtiva do Licuri (MCTI), que alia investigação farmacológica do óleo de licuri a ações de capacitação e boas práticas de manejo para comunidades do Semiárido.
Para o presidente-executivo da ABIQUIFI, Norberto Prestes, a infraestrutura científica de excelência já instalada no Brasil precisa ser utilizada como ativo estratégico. “O CNPEM é hoje o cartão de visita do país em ciência e inovação. Essa credibilidade internacional tem aberto portas para novos projetos com farmacêuticas nacionais e estrangeiras. Nossa missão agora é acelerar esse processo e posicionar o Brasil como protagonista”, destacou.
Biodiversidade e inovação radical
A exploração sustentável da biodiversidade brasileira foi apontada como uma das principais oportunidades de geração de inovação. Tania Sawada, do Grupo Centroflora, lembrou que a empresa já desenvolve projetos em parceria com o CNPEM para a descoberta de novas moléculas em biomas como a Amazônia e o Cerrado, associando inovação radical a programas de agricultura familiar que asseguram rastreabilidade e retorno social.
Na avaliação de Germano Bassmann, responsável pela área de P&D em Biotecnologia da Cristália, a cooperação com o CNPEM tem sido decisiva para avançar em pesquisas com menor risco. “O Centro é referência em qualidade de pesquisa e entrega resultados que nos dão segurança, diminuindo riscos e aumentando as chances de sucesso dos projetos”, disse.
Papel das startups e das unidades EMBRAPII
O encontro reforçou que cerca de 70% da inovação radical no mundo vem de startups, o que reforça a necessidade de apoiar essas empresas com acesso a infraestrutura de ponta e parcerias estratégicas. Para Fábio Cavalcante, coordenador de Relações com o Mercado da Embrapii, a cooperação entre as unidades é essencial. “O setor farmacêutico exige projetos complexos que raramente podem ser atendidos por apenas uma instituição. O caminho é unir competências para atender a indústria de forma cooperativa”, explicou.
Já Milena Soares, pesquisadora do Senai Cimatec e da Fiocruz Bahia, destacou que a colaboração é decisiva para dar escala ao setor. “A ciência hoje não se faz sozinha. É fundamental compartilhar infraestrutura e otimizar recursos para ampliar a capacidade de desenvolvimento”, afirmou.
Próximos passos
Como encaminhamento, o grupo definiu que irá contribuir para a agenda regulatória da Anvisa, elaborar guias e orientações práticas voltados a startups e universidades e realizar um mapeamento detalhado das capacidades e da infraestrutura disponíveis nas unidades EMBRAPII. Também foi consenso a necessidade de estabelecer prioridades para certificações e treinamentos em boas práticas laboratoriais, além de articular parcerias que assegurem a capacitação contínua de profissionais. Outro ponto considerado essencial é buscar soluções conjuntas com agências de fomento para garantir a manutenção de equipamentos estratégicos.
Participantes
Entre os participantes estiveram representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério da Saúde, Inmetro, IQ-USP, FMRP/USP, CEINFAR, ISI Biossintéticos, CIEnP, UFMG – FarmaVax, CQMED-UNICAMP, Cinatec, Fiocruz, Biotimize, Libbs, Bionovis, Nintx, Cristália, Aché, Microbiológica, Grupo Centroflora, Biominas Brasil e ISI São Paulo Materiais Avançados.
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) abriga um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País. O CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. As atividades de pesquisa e desenvolvimento do CNPEM são realizadas por seus Laboratórios Nacionais de: Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), além de sua unidade de Tecnologia (DAT) e da Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC).Sobre o CNPEM