G1 em 03/10/2019
Com o cronograma das estações de pesquisa prejudicado pelo contingenciamento de verbas, o Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração em construção em Campinas (SP), segue à espera de recursos do governo federal. Duas semanas após receber a visita de ministros de ciência e tecnologia do Brics, o maior projeto científico do País não obteve nenhuma sinalização de quanto dinheiro terá para avançar na montagem das primeiras linhas de luz. Nem mesmo se terá mais alguma verba em 2019.
Em sua primeira e única visita ao Sirius, o ministro Marcos Pontes estimou a quantia de R$ 400 milhões para concluir o laboratório, e disse que aguardaria as liberações da verba do acordo da Petrobras e do descontingenciamento do orçamento federal para definir quanto seria destinado ao projeto – apesar de informar à Casa Civil a necessidade de cerca de R$ 1 bilhão, a pasta recebeu R$ 80 milhões, uma das menores fatias do montante liberado pela União.
Na ocasião, o ministro reclamou da pouca destinação de verba, e chegou a comparar a diferença entre “expectativa e realidade” como se tivessem “tirado o motor de um Fórmula 1“. “É basicamente quando você tem uma corrida, um carro de Fórmula 1, você quer aumentar a velocidade do carro e corta o motor”, disse.
Organização social responsável pelo Sirius, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) confirmou ao G1 que ainda não recebeu nenhuma sinalização sobre as verbas. Dos R$ R$ 255,1 milhões previstos no orçamento para 2019, foram empenhados até o momento R$ 75 milhões, ouo 29,4% do total.
Procurado para comentar o atraso nos repasses e os valores que serão destinados ao laboratório, o MCTIC não enviou posicionamento até a publicação desta reportagem.
Entenda o Sirius
O laboratório, que já está com toda a obra civil concluída e aguarda testes no terceiro e principal acelerador de elétrons, é uma das mais modernas do mundo. Com a luz síncrotron gerada pelo Sirius os pesquisadores poderão analisar diferentes materiais em escalas de átomos e moléculas.
A estrutura pode revolucionar a pesquisa brasileira e internacional em várias áreas, como saúde, agricultura e exploração do petróleo.
Atualmente, há apenas um laboratório de 4ª geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia. O equipamento brasileiro, no entanto, foi projetado para ter uma luz mais brilhante que o europeu.
O ministro de ciência e tecnologia, Marcos Pontes, durante visita ao Sirius, em Campinas (SP) — Foto: Fernando Evans/G1
O atraso nos repasses, por enquanto, não deve afetar a abertura das primeiras linhas de pesquisa do Sirius em 2020. Pelo menos é o que garante o diretor do projeto, Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM.
“Não tem milagre. Você atrasa o escopo total do projeto, mas o ponto importante é que foi possível fazer uma gestão para que o Sirius comece a dar retorno. Com a entrega da primeira linha de luz, ele começa a ser utilizado”, explicou Silva.
Linhas de luz
Das 13 linhas de luz previstas no projeto do Sirius, que poderá comportar no futuro até 40, três estão em fase acelerada de montagem. Uma delas, batizada de Manacá, é mais avançada e foi a instalação visitada por Marcos Pontes e representantes do Brics.
De acordo com o CNPEM, essa linha será responsável por pesquisas e estudos que podem auxiliar no desenvolvimento de fármacos e na descoberta de enzimas com aplicações na produção de alimentos, biocombustíveis e cosméticos, entre outros.
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