Revista Pesquisa FAPESP em Fevereiro/2016
O desejo de ir além da carreira acadêmica tradicional e investir no desafio de transformar o conhecimento adquirido na universidade em um modelo viável de negócio foi o que motivou o biólogo mineiro Marcos Valadares, então com 27 anos, a criar a Pluricell Biotech, startup dedicada à produção e comercialização de células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês), células maduras que podem ser reprogramadas para se tornarem outra vez capazes de gerar tecidos diferentes do organismo. A ideia nasceu, como ele próprio conta, de um convite de seu colega e futuro sócio, Diogo Biagi, também biólogo, que à época trabalhava no desenvolvimento de uma técnica capaz de transformar células adultas de qualquer tecido em células-tronco induzidas. Ainda durante o doutorado — sob orientação da geneticista Mayana Zatz, no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) —, Valadares uniu-se a Biagi e ao médico Alexandre Pereira para abrir a empresa. No início, a falta de visão comercial e administrativa atrapalhou o trabalho de prospecção e avaliação de possíveis clientes, além da elaboração de um plano de negócio.
Em 2013, a empresa conseguiu financiamento da FAPESP por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe). “Com o investimento, pudemos transformar nossa ideia em realidade rentável”, diz. “Isso foi importante já que aproximadamente 90% do material que usamos na produção desse tipo de célula, como os reagentes usados no processo de diferenciação celular, é importado dos Estados Unidos e Europa.” A bolsa do Pipe também lhe permitiu ampliar sua visão de negócio durante o período que passou na Inglaterra, onde participou de um curso promovido pela Leaders in Innovation Fellowships Programme da Royal Academy of Engineering (RAEng) em Londres e Oxford.
A Pluricell Biotech está incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), em São Paulo. A startup atualmente produz células-tronco que se transformam em células cardíacas, que mais tarde podem ser usadas em testes in vitrode moléculas candidatas a fármacos, um mercado que começa a se estabelecer no Brasil, segundo Valadares. Também já foram produzidos alguns lotes para grupos de pesquisas do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, interior paulista, e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mais recentemente, a empresa começou a investir na produção de células-tronco da pele, em geral usadas no desenvolvimento de produtos pela indústria de cosméticos.
Em outra frente comercial, o biólogo criou uma nova empresa voltada ao desenvolvimento de testes genéticos. Um deles, por exemplo, serve para identificar anomalias em genes associados a doenças recessivas, como algumas distrofias musculares, em casais que pretendem ter filhos. “Importamos a tecnologia, fazemos os testes e os vendemos aos laboratórios e clínicas do país por um preço mais acessível”, explica Valadares. “Estamos trabalhando para desenvolver esses testes no Brasil e baratear ainda mais o custo.”
Repercussão: Jornal da Ciência