Portal do MCTI em 26/02/2016
Pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) descobriram uma proteína ligada ao zika vírus que pode ser a chave para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas para combater a doença. Usando técnicas de bioinformática e bioquímica, os cientistas observaram que o vírus da zika é bastante similar ao da dengue. Três proteínas seriam responsáveis por manter a estrutura das membranas que revestem o material genético do zika e da dengue. No entanto, a diferença entre os dois vírus estaria na proteína E.
“Uma das pistas é procurar nessa proteína se ela tem alguma diferença, se apresenta alguma peculiaridade que vá determinar essas características que estamos procurando. Utilizamos uma série de técnicas para identificar possíveis regiões que vão determinar as diferenças entre o que é zika e o que é dengue. Isso é insumo para uma série de desenvolvimentos adicionais”, explicou o diretor do LNBio Kleber Franchini, que apresentou a pesquisa para o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera.
Segundo Franchini, as pesquisas, que começaram em novembro de 2015, têm pelo menos dois impactos. O primeiro é a produção de insumos para um kit diagnóstico que permita a detecção de traços do vírus em pessoas que foram infectadas anteriormente e que já não apresentam os sintomas da doença. O segundo é a produção de uma molécula capaz de combater a infecção provocada pelo zika. A ideia é produzir um anticorpo monoclonal para tratar exclusivamente da enfermidade.
O pesquisador alerta, no entanto, que o desenvolvimento deste “antídoto” é uma medida paliativa até que seja desenvolvida uma vacina eficaz contra o zika vírus. “O anticorpo monoclonal é eficiente por ser específico. Ele funciona como uma chave própria para abrir a fechadura do envelope do vírus. Enquanto você não tem a vacina, é muito importante que você tenha meios de antagonizar aquele vírus.”
Síncrotron
O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) é parte importante nos estudos sobre a estrutura do zika vírus. Com o uso do acelerador de partículas vai ser possível identificar a disposição tridimensional dos átomos presentes na proteína E. “Um trabalho razoavelmente sofisticado de engenharia genética”, definiu Franchini.
Os pesquisadores do LNBio precisam seguir um longo caminho entre o isolamento de parte da proteína e implantá-la em uma célula para que ela reproduza aquele trecho. Depois, é necessário purificar o resultado e cristalizá-lo. Só então ele poderá ser levado para ser analisado no acelerador de luz síncrotron. Com base nas pesquisas do LNLS, será possível desenvolver os anticorpos monoclonais.
“No síncrotron, você precisa ter um cristal para poder estudar a proteína. Por técnicas de difração, você consegue dizer a posição dos átomos de cada elemento. Aí, conseguimos localizar como a proteína se coloca espacialmente e como ela é tridimensionalmente”, ilustrou.
Laboratórios
O LNBio conduz atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em áreas de fronteira de biociências, com foco em biotecnologia e desenvolvimento de fármacos. O estudo de estrutura de proteínas também é parte do seu escopo. Já o LNLS opera desde 1997 a única fonte de luz síncrotron da América Latina, que permite investigações em níveis atômico e molecular de materiais orgânicos e inorgânicos, com aplicações em diversas áreas do conhecimento. As duas unidades estão instaladas em Campinas (SP), dentro do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Repercussão: Portal Brasil; Jornal do Sol; Revista Amazônia; Primeira Hora; PROTEC.