Jornal O Tempo, em 18/08/16
Pesquisadores brasileiros conseguiram reduzir infecção viral em 50% com nova tecnologia
Pesquisadores brasileiros conseguiram desenvolver um procedimento inovador para impedir que o vírus HIV se conecte ao sangue, num processo que poderia detectar e eliminar o vírus em bolsas de sangue para doação.
Para se reproduzir, um vírus passa por um processo de ligação das suas partículas às células do corpo infectado, conectando-se a receptores da membrana celular. Os pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) utilizaram nanopartículas – elementos mil vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo – carregadas de grupos químicos capazes de atrair os vírus, ligando-se a eles e ocupando as vias que seriam usadas para que se ligassem às células saudáveis.
“Esse mecanismo de inibição viral se dá por meio da modificação de nanopartículas em laboratório, atribuindo-se funções à sua superfície pela adição de grupos químicos capazes de atrair as partículas virais e se conectar a elas. Esse efeito estérico, relacionado ao fato de cada átomo dentro de uma molécula ocupar uma determinada quantidade de espaço na superfície, impede que o vírus chegue até o alvo, as células, e se ligue a ele, porque já está ‘ocupado’ pela nanopartícula”, explica o coordenador Mateus Borba Cardoso.
Os cientistas criaram nanopartículas de sílica, componente químico de diversos minerais, com propriedades superficiais distintas e avaliaram sua biocompatibilidade com dois tipos de vírus, o HIV e o VSV-G, que causa estomatite vesicular.
As nanopartículas de sílica foram escolhidas por sua porosidade, que permite uma boa utilização da superfície com a adição de grupos químicos em seus poros. Depois de sintetizadas, essas partículas passam por reações necessárias para que sua superfície seja funcionalizada de acordo com as afinidades químicas dos vírus.
Grupos químicos específicos foram inseridos na superfície das partículas para que as proteínas virais sejam naturalmente atraídas por elas. As nanopartículas chegaram a reduzir a infecção viral em até 50%.
“Esse resultado poderia chegar a 100% se aumentássemos a quantidade de nanopartículas funcionalizadas no período de incubação, mas os testes são realizados em uma faixa otimizada de inativação viral, para que possam ser observados os efeitos nas células atingidas pelos vírus, realçando as diferenças para fins de comparação”, diz o pesquisador. A estratégia poderia ser utilizada, por exemplo, na detecção e eliminação de vírus em bolsas de sangue antes de transfusões.
Tecnologia reduz efeitos da quimioterapia
Pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPem), em Campinas, também obtiveram sucesso com o uso de nanopartículas.
A pesquisa, publicada por O TEMPO há dois dias, utiliza esses elementos para reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com câncer. De acordo com a tecnologia, </MC>as nanopartículas “levam” o medicamento diretamente para as células do câncer, poupando as saudáveis.
Os efeitos colaterais acontecem porque os medicamentos contra o câncer não conseguem diferenciar a célula tumoral de uma partícula saudável. Assim, além de matar as células que causam a doença, elas matam células normais na mesma proporção. Nos estudos realizados pela LNLS, o medicamento matou cerca de 80% de células do câncer, contra somente 15% a 20% de células normais.
Na quimioterapia convencional, a proporção é de uma célula normal morta para cada célular cancerosa atacada. (Da redação)