Jornal Nacional em 13/08/2018
Um estudo publicado nesta segunda-feira (13) por uma revista científica internacional mostra como o trabalho desenvolvido por pesquisadores de Campinas, em São Paulo, pode ajudar a entender o funcionamento do cérebro.
Abílio tem um tipo de epilepsia resistente a medicamentos usados para controlar as crises. Ele faz tratamento, mas não se sente seguro. “Tenho muito medo porque, às vezes eu fico nervoso e, se eu saio um pouquinho nervoso, já fico com medo de me dar crise na rua, em algum lugar”, diz.
Uma das dificuldades para tratar não só a epilepsia, como outras doenças neurológicas, é a complexidade do cérebro. “Sem sombra de dúvida é o órgão mais complexo que existe no organismo humano e é ainda um órgão, comparado com outros, relativamente desconhecido. Porque ele é de difícil acesso”, afirma Iscia Lopes Cendes, médica geneticista da Unicamp.
Dentro do nosso cérebro há uma rede de comunicação celular cheia de ramificações, com conexões específicas e dinâmicas que regulam todas as funções do nosso corpo. Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram visualizar parte desses circuitos de neurônios em atividade e como eles são afetados pela epilepsia. Um grande avanço para entender melhor como o nosso cérebro funciona.
Até agora era necessário fatiar fisicamente partes de cérebro para analisar as células. Os cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais de Campinas usaram um acelerador de partículas para fazer microtomografias por raios-x capazes de mostrar os neurônios com precisão. A partir disso, eles obtêm imagens tridimensionais da organização das células dentro do cérebro.
“Se a gente quer procurar curas para as doenças, primeiro a gente tem que entender exatamente como elas funcionam”, explica o pesquisador Matheus de Castro Fonseca.
Os resultados foram publicados na revista “Nature Science Reports”. Embora a técnica tenha sido usada para visualizar a região do cérebro que desencadeia a epilepsia, ela também abre novas perspectivas para entender como ocorre a morte de neurônios, que provoca doenças como Parkinson e Alzheimer.
“Conseguindo quantificar essas células morrendo ao longo do processo de neurodegeneração, eu consigo acompanhar a progressão da doença, eu consigo saber também exatamente qual região do cérebro é afetada pela morte dessas células e, talvez no futuro, eu consiga controlar essa morte neuronal”, diz Matheus.