Folha de São Paulo, 17 de fevereiro de 2015
Começaram há poucas semanas as obras do Sirius, um dos mais importantes –e caros– projetos da história da ciência brasileira.
Se tudo se materializar conforme o planejado, em 2018 funcionará em Campinas (SP) um anel de 235 metros de diâmetro cuja função é acelerar elétrons a velocidades inimaginavelmente altas.
Seu objetivo não é o de provocar colisões entre partículas para estudar suas propriedades, como ocorre, por exemplo, no LHC, o maior acelerador do mundo. No Sirius não existem tais choques.
A máquina, orçada em R$ 1,3 bilhão e bancada na maior parte por dinheiro federal, produzirá um tipo especial de radiação, a chamada luz síncrotron, que possui utilidade em várias áreas de pesquisa, como física, química, biologia, geologia, nanotecnologia, engenharia de materiais e paleontologia.
O dispositivo funciona como um gigantesco microscópio, permitindo enxergar a estrutura atômica e molecular dos mais diversos materiais, desde proteínas e fármacos até ligas metálicas, passando por produtos da agroindústria.
Batizado em homenagem à estrela mais brilhante do céu, o Sirius substituirá o acelerador UVX, operado desde 1997 pelo LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), divisão do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), também responsável pela nova máquina.
O UVX, apesar de ter servido bem aos cientistas por toda uma geração, é considerado ultrapassado. Seu substituto, asseguram os construtores, estará entre os mais sofisticados do planeta, comparável apenas a um instrumento atualmente em construção na Suécia.
Trata-se de projeto com aplicação para a ciência e a tecnologia nacionais. Em primeiro lugar, porque já existem demandas não satisfeitas pelo atual equipamento tanto na academia como nas empresas.
Além disso, com a capacidade do Sirius, o país deverá se tornar um competidor em nível mundial nesse tipo de técnica, com potencial para atrair colaborações internacionais nos mais diversos campos de pesquisa.
Por fim, a construção do acelerador prevê uma articulação de empresas brasileiras no desenvolvimento e na produção das tecnologias necessárias para pôr a máquina de pé, com ganhos para o país.
Os frutos dessa empreitada serão colhidos por décadas. Mas, para que o cronograma do Sirius não atrase, será necessário um fluxo anual de cerca de R$ 300 milhões –verba que, a esta altura, já deve viver sob a ameaça dos inúmeros cortes no Orçamento.