Jornal Nacional em 13/10/2018
No interior de São Paulo, pesquisadores estão usando técnicas científicas para preservar as obras do pintor Candido Portinari.
O fragmento milimétrico de tinta isolado em resina é a chave para descobertas sobre um dos maiores artistas do brasil, o pintor paulista Candido Portinari.
“A pergunta nesse caso é bem especifica: tentar entender o processo de degradação de alguns pigmentos que as obras de Portinari estão sofrendo”, comenta Márcia de Almeida Rizzutto, professora de física da USP.
A resposta depende desse acelerador de partículas de Luz Síncrotron em Campinas. Ele funciona como um super microscópio para observar detalhes vezes menores que a espessura de um fio de cabelo.
“A composição de uma tinta ou de uma pintura, ela tem vários componentes e às vezes saber como esses diferentes componentes interagem, define a característica dessa pintura”, diz Raul de Oliveira Freitas, pesquisador.
Esse encontro da física com a arte começou em uma igreja em Batatais, onde está o maior acervo de arte sacra de Candido Portinari no nosso país. Em 2014, a equipe que fazia a recuperação das obras, percebeu que mesmo depois do processo de restauro, o famoso “azul de Portinari”, o tom que o artista tanto perseguiu, continuava perdendo a cor. A saída foi apelar para a ciência.
Como as obras não poderiam sair do local, o laboratório veio para dentro da igreja. As análises iniciais indicaram substâncias que sofriam a degradação pelos raios ultravioleta do sol, por isso, foram colocados vidros de proteção.
E a lasquinha de tinta caída de uma das pinturas na igreja já revelou as primeiras informações. “Você está vendo em uma mostra uma camada de branco de chumbo, uma camada de branco de zinco e uma camada de pigmento misturado com branco de zinco. A gente sabe as tintas que ele está usando”, conta Márcia Rizzutto.
“Conhecendo bem esses materiais, a forma como o artista fez, vai nos permitir, o nosso objetivo final, que é preservar essa coleção, a obra de Portinari, a nossa arte, a nossa cultura e o nosso patrimônio”, diz Angelica Fabbri, diretora do Museu Casa de Portinari.