Folha de S. Paulo em 03/08/2011
Sabine Righetti
Enviada especial a Campinas
O governo vai firmar no final deste mês um convênio com a China para implantação de um centro binacional de nanotecnologia, o campo da ciência que envolve a manipulação de objetos muito pequenos, com dimensões de bilionésimos de metro.
A ideia é que os dois países entrem com a mesma quantidade de dinheiro no projeto. Ontem, em uma reunião em Campinas, o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) propôs R$ 4,7 milhões para os dois anos iniciais. Mas a China quer mais.
O valor final será acordado em viagem que o ministro Aloizio Mercadante (MCT) fará à China no próximo dia 22.
Como inicialmente o centro será virtual, a ideia é que o dinheiro seja gasto com infraestrutura e com a troca de pesquisadores entre os países –pelo menos 30 por ano.
“O valor parece pequeno. Mas pode ser um primeiro passo para começarmos uma série de parcerias com a China”, diz Adalberto Fazzio, coordenador da área de nanotecnologia do MCT.
Sustentável
Uma das áreas de interesse da China é o grafeno, material obtido quando o grafite é fatiado em camadas muito finas, com apenas um átomo de espessura. Os eletrônicos do futuro poderão ter como base o grafeno.
Já o Brasil está interessado em nanotecnologia aplicada à sustentabilidade, como novas abordagens para o tratamento de resíduos agrícolas.
“É uma vantagem cooperar com o Brasil. Esse projeto tem futuro”, definiu Chunli Bai, presidente da Academia Chinesa de Ciências (que tem status de ministro no país), em entrevista à Folha durante visita que fez a Campinas.
A China é o país que mais produz artigos científicos em nanotecnologia. “Queremos aumentar essa produção com parcerias internacionais e dar mais peso a áreas estratégicas”, completou Bai.
Fernando Galembeck, diretor de um dos laboratórios que integrarão a parceria, diz que a nanotecnologia “poderia ter avançado mais no Brasil”. “Um centro como esse poderá alavancar a área.”
O centro binacional terá a colaboração de pelo menos quatro laboratórios, localizados em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
No lado chinês estarão alguns dos 117 institutos de pesquisa da Academia Chinesa de Ciências.
Empate técnico
A academia gerencia hoje um orçamento de mais de R$ 6 bilhões por ano, ou seja, praticamente a mesma quantidade de recursos anuais do Ministério da Ciência e Tecnologia no Brasil.
“O governo chinês está investindo muito em ciência. Hoje temos 1,78% do PIB em pesquisas”, diz Bai –a porcentagem brasileira foi de 1,3% no ano passado.
A agenda de Bai no Brasil incluiu visitas a instituições de pesquisa nas áreas de saúde, energia, espaço e agricultura. Os chineses já sinalizaram interesse pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o que pode render novas parcerias.
Repercussão: Jornal Floripa; FAPEAM; Academia Brasileira de Ciências