Correio Popular, em 06/02/2009
Cientistas debatem o avanço da tecnologia estratégica para produção de fármacos
Cientistas do mundo inteiro participam em Campinas, na segunda e terça-feira, de um seminário sobre o uso estratégico da luz síncrotron no desenvolvimento de materiais. A tecnologia, descoberta na Alemanha em 1969, é controlada por um número reduzido de países. Apenas 26 nações contam com o sofisticado acelerador de elétrons, que permite a análise microscópica dos elementos. A fonte brasileira da luz, inaugurada em 1997, possui atualmente cerca de mil usuários. São físicos, químicos, biólogos e engenheiros do Brasil e do Exterior.
O anel gerador da energia, com 90 metros de cumprimento, funciona no Polo 2 de Alta Tecnologia de Campinas, região ocupada por importantes centros de pesquisa. Ali, um seleto grupo de 20 cientistas trabalha com o apoio de 180 especialistas de segmentos como instrumentação, microeletrônica e mecânica fina. Embora desconhecida de grande parte dos campineiros, a fonte emite uma luz potente, formada por diversas faixas do espectro eletromagnético. Uma é visível. Outras três são imperceptíveis: o raio X, o raio ultravioleta e o raio infravermelho.
Cada raio tem uma finalidade. O ultravioleta, por exemplo, permite o estudo da interação entre os diferentes elementos. Ou seja, é possível saber como é a troca de informações entre os átomos e moléculas. O raio X é mais popular, por conta dos exames que identificam fraturas nos ossos. Acontece que o raio X do laboratório, muito mais forte, mostra a estrutura das nanopartículas. Com um menor cumprimento de ondas, ele permite o “espalhamento” dos átomos. Se conhece a “estrutura geométrica dos elementos” . “É possível saber, por exemplo, como uma proteína reage à ação de um medicamento”, explica o pesquisador Arnaldo Brito.
O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNNS) é capaz de desenvolver, por exemplo, novos fármacos e catalisadores (substâncias que apressam reações químicas). Analisando os elementos microscópicos, é possível ao cientista intervir na combinação de moléculas. “Um remédio, por exemplo, pode se tornar mais eficiente.”
O objetivo dos pesquisadores é abrir a Reunião Anual dos Usuários ao público em geral. Divulgando as atividades científicas, apostam, será possível despertar nos governantes o interesse em investir mais na tecnologia. O LNLS brasileiro foi construído com investimentos de R$ 70 milhões. Hoje, os projetos de pesquisa e a modernização dos equipamentos consomem algo em torno de R$ 28 milhões anuais. O drama, segundo Brito, é que a fonte corre o risco de se tornar obsoleta. Menos de 10% do orçamento provém da iniciativa privada. “É claro que o empresário nem sempre dispõe de recursos para o financiamento indefinido de uma pesquisa, que pode levar dez ou 15 anos. O cliente adquire o produto final. Por isso, dependemos do governo para manter uma atividade de excelência” , explica Brito.
Segundo laboratório
E as pretensões são grandes. Há um ano, se debate na comunidade científica a construção de um segundo laboratório brasileiro da luz síncrotron. O atual, por exemplo, opera com 14 linhas de luz, o dobro do contabilizado na inauguração. A capacidade total do anel é de 24 linhas, marca que deve ser alcançada em duas décadas. “Com a reunião aberta, pretendemos mostrar os governantes a necessidade de se acompanhar o aperfeiçoamento mundial da tecnologia”, fala o pesquisador.
O LNLS é operado de acordo com as normas de um contrato de gestão que envolve o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência e Tecnologia. A participação privada se resume à formação de pesquisadores associados, sem qualquer fim lucrativo. Em todo o Hemisfério Sul, só existem dois laboratórios do gênero: o campineiro e um australiano (inaugurado há apenas dois anos).
SAIBA MAIS
Desde 1999, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron opera reforçado com um centro de microscopia eletrônica. São três microscópios e todos os equipamentos necessários para preparar amostras de materiais. Um deles é o microscópio mais potente da América Latina, capaz de ampliar um objeto em 1,5 milhão de vezes. Existe ainda um laboratório de ressonância magnética nuclear com dois espectrômetros. Os equipamentos e a tecnologia disponível podem ser podem ser usados por pesquisadores externo. O LNLS fica na Rua Giuseppe Máximo Scolfaro, 10.000, no Polo 2 de Alta Tecnologia de Campinas. Informações detalhadas sobre as atividades estão no site www.lnls.br.
PROGRAMAÇÃO
A 19º Reunião Anual de Usuários do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron ocorre na segunda e terça-feira. Neste ano, estarão participando 293 pesquisadores brasileiros, quer vão apresentar os resultados de 196 pesquisas. Confira as principais atrações:
Stephan Hoffmann, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), vai falar sobre as nanoestruturas de catalisadores de sicílio e nanotubos de carbono, materiais inovadores produzidos com a luz síncrotron. Ele participa da plenária das 10h50 da segunda-feira.
Antônio Rubens Brito de Castro, pesquisador da Unicamp que trabalha em pesquisas com a luz síncrotron na Alemanha, fala na plenária das 10h da terça-feira, sobre o desenvolvimento do laser de elétrons livres para o desenvolvimento de fármacos.
Peter Fischer, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley (EUA), participa da plenária das 11h dda terça-feira falando das potencialidades e aplicações futuras do raio X conjugado à microscopia magnética.
Durante os dois dias, pesquisadores do Brasil inteiro vão apresentar os resultados de trabalhos recentes que envolvem o uso da luz síncrotron, por exemplo, na produção de fármacos e no estudo de doenças em vegetais e seres humanos. Detalhes da programação e esclarecimento de dúvidas podem ser conseguidos pelo e-mail aco@lnls.br.