Communication of LNBio – 15th July 2013
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Brasil e França se associam para pesquisar a biologia de bactérias
Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e Instituto de Biologia Estrutural (IBS) se unem para expandir conhecimentos sobre infecções bacterianas
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) foi nomeado na última sexta-feira, 12 de julho de 2013, Laboratório Internacional Associado (LIA) do Instituto de Biologia Estrutural (IBS) de Grenoble, na França. A assinatura do acordo foi realizada no Campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) em Campinas – SP e formalizou a cooperação científica entre o LNBio e o IBS nas pesquisas sobre parede bacteriana.
O conhecimento das estruturas moleculares e das funções das proteínas que formam a parede bacteriana é fundamental para compreender como bactérias infectam as células e desenvolvem resistência aos antibióticos. Os resultados dessas pesquisas são importantes para a criação de novos medicamentos e vacinas.
O LNBio se tornou um Laboratório Internacional Associado (LIA) do IBS, estratégia de cooperação internacional promovida pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), órgão do governo francês. Por meio desses, chamados popularmente de ´laboratórios sem paredes´, os institutos de pesquisa da França desenvolvem projetos em parceria com instituições estrangeiras e compartilham disposições relacionadas à propriedade intelectual, recursos humanos e financeiros.
A parceria entre o LNBio e o IBS nos estudos sobre a biologia estrutural de bactérias começou em 2012, com a volta da pesquisadora Andrea Dessen ao Brasil. Fora do país há mais de 25 anos, Dessen foi a primeira selecionada pelo “Programa-piloto São Paulo Excellence Chairs” (Spec), uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que promove colaborações entre instituições paulistas e pesquisadores brasileiros de alto nível radicados no exterior. Andrea lidera um grupo de patogenia bacteriana no IBS e, por meio do SPEC, passou a coordenar pesquisas nessa área no LNBio há cerca de um ano e meio.
A formalização dessa parceria contou com a presença, pelo lado francês, de Gilles Bloch, diretor do Departamento das Ciências da Vida da Comissão Francesa de Energias Alternativas e Energia Atômica (CEA); Renaud Blaise, diretor de Relações Internacionais do CEA; Serge Perez, conselheiro do Serviço Nuclear da Embaixada da França em Brasília; Jean-Pierre Briot, representante do CNRS no Brasil; Yassine Lakhnech, vice-presidente de Pesquisa da Universidade Joseph Fourier; Gérard Chuzel, Adido para a Ciência e a Tecnologia do Consulado Geral da França em São Paulo. O CNRS, a CEA e o Universidade Joseph Fourier são órgãos públicos franceses responsáveis pela tutela do IBS.
Durante a cerimônia que formalizou o acordo, Giles Bloch ressaltou o forte progresso do Brasil no desenvolvimento de ciência e tecnologia desde a sua última visita ao País, há cinco anos. Bloch comentou ainda a importância da parceria entre LNBio e IBS. «Esse laboratório mostra bem o que é a biologia molecular, onde você parte do estudo de uma estrutura molecular, analisa a sua função e chega a possíveis aplicações», explica Bloch.
Do lado brasileiro, acompanharam a cerimônia: Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP; Andrea Dessen, líder da parte francesa do LIA e pesquisadora do LNBio e do IBS; Kleber Franchini, líder do lado brasileiro do LIA e diretor do LNBio e o Carlos Alberto Aragão, diretor-geral do CNPEM.
As pesquisas sobre a biologia bacteriana
As pesquisas realizadas no LNBio estudam uma estrutura presente na superfície das células bacterianas, semelhante à uma agulha, utilizada para injetar toxinas dentro das células humanas saudáveis, com a intenção de matá-las. O trabalho consiste em desvendar como essa ´agulha´ é sintetizada pela bactéria, assim como as toxinas e seus efeitos envolvidos no processo.
Esse é um sistema de infecção agressivo, tanto que algumas toxinas destroem as células em cerca de 30 minutos. A bactéria que causa peste bubônica e a que infecta pessoas que têm fibrose cística são exemplos que utilizam esse mecanismo. Compreender como esse sistema é gerado e pode ser controlado é de grande valia no desenvolvimento de antibióticos e vacinas que possam controlar esse tipo de infecção no futuro.
Uma segunda linha de pesquisa investiga como a parede bacteriana é formada e as enzimas envolvidas nesse processo. Sabe-se que a penicilina, por exemplo, bloqueia parte dessas proteínas, mas muitas bactérias já desenvolveram resistência a esse antibiótico. A ideia é estudar tais enzimas, tendo em vista o desenvolvimento de novas moléculas antibióticas. No LNBio esses ensaios são conduzidos principalmente com bactérias do tipo Pseudomonas, conhecidas por causarem infecção hospitalar.
Tais projetos combinam técnicas de cristalografia com raios X, bioquímica, biologia molecular e microscopia eletrônica e são desenvolvidos em parceria com a Universidade de Oxford; Universidade de Ljubljana, na Eslovênia; Universidade de Utrecht, na Holanda e Instituto Pasteur, de Paris. Essas colaborações, firmadas antes da formalização do LIA e previstas no SPEC, serão mantidas no novo acordo.