Em seminário realizado em Campinas (SP), especialistas discutiram as potencialidades e possiblidades de cada país para futuros projetos conjuntos
Assessoria de Comunicação, em 31/03/2014
Brasil e China continuam estreitando suas relações para materializar possíveis projetos conjuntos em nanotecnologia. Em seminário realizado entre 25 e 27 de março, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), especialistas discutiram necessidades e propostas de projetos em nanotecnologia que contribuam para o aumento da qualidade de vida das populações de ambos os países. As ações fazem parte do Centro Brasil-China de Pesquisa e Inovação em Nanotecnologia (CBC-Nano).
Organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), o evento contou com a participação de, em média, 90 pessoas por dia, incluindo pesquisadores de dois Centros Nacionais chineses: o de Nanociência e Tecnologia (NCNST, Pequim) e o de Pesquisa em Engenharia para Nanotecnologia (NERCN, Xangai). Do lado brasileiro, participaram representantes do MCTI, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, além de várias empresas e pesquisadores de laboratórios participantes do SisNano, vinculados a universidades ou centros de pesquisa.
O Seminário foi transmitido ao vivo por meio da página da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), atingindo cerca de mil acessos durante os três dias. O evento foi gravado em vídeo, que está sendo editado para ser disponibilizado em breve, via internet.
No último dia houve uma rodada de discussões que tratou de estímulos às parcerias, participação de empresas nos projetos e desburocratização de procedimentos. Esta visão é compartilhada pelos representantes de ambos os governos, como declarou Flávio Plentz, coordenador-geral de Micro e Nanotecnologias do MCTI. “É preciso facilitar a participação das empresas nos projetos. Destaco também a necessidade de reforçarmos a proteção da propriedade intelectual quanto à geração de inovações que sejam implantadas em conjunto pelos dois países”.
As ações resultantes deste seminário deverão aumentar a interação entre pesquisadores brasileiros e chineses, estimulando o intercâmbio de profissionais e estudantes entre os centros de pesquisa em nanotecnologia dos dois países. “Esta visita ao Brasil é muito importante para nós. Esperamos em breve recebê-los em nossos laboratórios na China para que os brasileiros tenham um panorama mais detalhado do nosso atual patamar em P&D”, disse Dr. Guilin Yin, representante do NERCN. O mesmo pensamento é compartilhado pelo Prof. Nie Guanjung, do NCNST. “A segunda edição do Seminário será realizada em 2015, na China, e estamos de braços abertos para receber os colegas brasileiros”.
O diretor do LNNano, Prof. Fernando Galembeck, destaca que os seminários são um forte elemento para o sucesso da cooperação. “A maciça participação de pesquisadores, o forte envolvimento de empresas e a alta qualidade dos resultados apresentados no evento indicam que essa cooperação deverá ser muito bem sucedida”.
Discussões
Quatro grandes áreas da nanotecnologia foram exploradas como eixos principais do seminário: (a) Nanodispositivos e sensores para meio ambiente, alimentação, saúde e agronegócio; (b) Nanomedicina, nanotoxicologia, nanopartículas e nanomateriais para aplicações na área da saude; (c) Materiais avançados para remediação, descontaminação e tratamento ambiental; e (d) Nanofabricação, nanoprocessamento, caracterização e análises de nanomateriais e nanocompósitos.
Foram apresentados dois projetos que já estão em andamento com o NERCN: um da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), voltado para produção de nanocompósitos para descontaminação ambiental, e outro do CNPEM/LNNano, que está utilizando resíduos das usinas de açúcar e álcool para obter materiais adsorventes de alto desempenho, destinados à remoção de poluentes de águas e ar.
Com relação a novos projetos conjuntos, uma das possibilidades resultante das discussões é a remoção de níquel e outros íons metálicos de águas residuais e de cursos de água na China, resultantes de processos de eletrodeposição. Devido a um longo e bem sucedido histórico de controle das emissões destas substâncias e de outros poluentes no meio ambiente, grupos de pesquisa do Brasil terão muito a contribuir com os chineses neste tópico.
Por outro lado, a China poderá ajudar os brasileiros com sua experiência no escalonamento industrial de processos e na operação de plantas-piloto, áreas-chave para transformar os produtos nanotecnológicos resultantes da P&D em inovações de aplicação e valor comercial, ainda pouco desenvolvida no Brasil.
Outra área de intensa atividade que poderá contar com o suporte dos chineses é o desenvolvimento de soluções para a saúde e aplicações em nanotoxicologia: “Para que estas soluções sejam aplicadas, é necessário constituir uma regulação e diretrizes adequadas para avaliação da toxicidade e para a produção, manipulação e testes de aplicação destes materiais. As recentes iniciativas chinesas neste tema poderão contribuir para que o Brasil consolide sua legislação e oriente seus esforços de pesquisa”, citou o Prof. Nie Guangjun, do NCNST.
Outras áreas estratégicas são a produção de nanocompósitos a partir de biomassa e matérias-primas naturais abundantes e a produção de materiais avançados auto-cicatrizantes à base de matrizes poliméricas/elastoméricas e nanopartículas, para diferentes aplicações.
Os projetos resultantes deste encontro serão detalhados por pesquisadores dos dois países e submetidos a uma chamada especial, que será aberta pelo MCTI ainda em 2014, em conjunto com o MOST, Ministério da Ciência e Tecnologia da China.