Jornal Nacional em 19/12/2019
Luz síncrotron atravessa e material e consegue enxergar partículas minúsculas. O feixe de luz é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo
Os primeiros testes do maior empreendimento científico do Brasil deram, nesta quinta (19), um resultado impressionante. É um feixe de luz que funciona como um microscópio gigantesco e muito potente.
Um vídeo revela a estrutura interna de uma rocha. Outro mostra o coração de um camundongo. Eles foram feitos com os primeiros feixes de luz síncrotron de quarta geração, produzidos no Brasil pelo laboratório Sirius, que será inaugurado em 2020.
“A gente não esperava que fosse conseguir imagens tão bacanas tão cedo. Mas ainda é um teste e a gente ainda está longe do final dessa máquina. Ela consegue entregar muito mais do que isso”, disse Nathaly Archilia, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Foi o primeiro trabalho dos braços robóticos, que colocam amostras e experimentos no ponto exato, e a primeira viagem de luz no túnel de vácuo feito com mil ímãs.
A luz síncrotron é como raios-x das coisas. Quando atravessa o material, consegue enxergar partículas minúsculas, do tamanho dos átomos, e ver como as moléculas estão organizadas. O feixe de luz é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
É muito brilhante, mas invisível para nós. Por isso, para alinhar o equipamento, os pesquisadores usam raio laser.
Disparado por um canhão, o feixe de elétrons percorre um túnel com 500 metros de comprimento, 600 mil vezes por segundo, quase na velocidade da luz. Depois, ele é desviado para as estações de experimento. Seis devem ser construídas até 2020 e pesquisadores vão poder até estudar à distância.
“No futuro, a gente vai estar fazendo mais e mais o experimento de acesso remoto. As pessoas mandam as amostras aí o pessoal do laboratório monta as amostras, aí a pessoa pode fazer do computador dele ou até eventualmente do celular, controlar o experimento e já baixar os dados para ele”, explicou Ana Carolina Zeri, pesquisadora do CNPEM.
O Sirius será o segundo equipamento desse tipo no mundo e vai trazer avanços em várias áreas do conhecimento.
“Na área de saúde, por exemplo, medicamentos, o entendimento do funcionamento do corpo humano numa escala das células. Você tem o desenvolvimento de energias renováveis, na área de solo, agricultura, meio ambiente, materiais avançados para carros e aviões”, explicou o diretor-geral do CNPEM, Antônio José Roque.
“A gente vai conseguir estudar estruturas bem menores em mais alta resolução num tempo muito menor”, destacou a pesquisadora Nathaly Archilia.