Valor Econômico, 01/07/2016
O grupo Boticário está investindo em uma nova tecnologia para identificar, com mais rapidez e eficácia, os riscos de um cosmético provocar alergias ou irritações na pele. O trabalho está sendo desenvolvido com chips que reproduzem com fidelidade a fisiologia dos órgãos humanos.
A tecnologia, chamada ‘Organs on Chips’, vem sendo usada pela indústria farmacêutica mundial para avaliar os efeitos bioquímicos, metabólicos e genéticos de novos medicamentos, em nome de resultados mais seguros e rápidos. No Brasil, o Boticário é o primeiro a criar uma metodologia para utilização dos chips nos testes da indústria cosmética.
“A avaliação da sensibilidade da pele é um tema altamente discutido na comunidade científica e complementa o desenvolvimento de novas técnicas alternativas in vitro para a substituição de testes em animais”, explica o gerente de pesquisa biomolecular do Grupo Boticário, Márcio Lorencini.
O Boticário eliminou os testes em animais em 2000. Além da questão ética sobre o sofrimento das cobaias, nem sempre o organismo de um rato ou de um coelho se parece com o metabolismo humano. Além disso, alguns testes demandam uma resposta além da pele, como é o caso das alergia
Os chips, basicamente, são formados por canais minúsculos preenchidos com células e tecidos vivos, mantidos em um fluido que simula o corpo humano. Eles permitirão, por exemplo, simular a resposta das células do sistema imunológico a loções e maquiagens.
A tecnologia usada no chip é da empresa alemã TissUse. O desenvolvimento no Brasil é feito em parceria com o Laboratório Nacional de Biociência, ligado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O investimento previsto inicialmente é de R$ 1,5 milhão nas diversas fases do projeto. O Boticário vai arcar com até um terço do valor o restante corresponde à contrapartida pública. À medida que o projeto evoluir, os aportes podem aumentar, tanto por parte da iniciativa privada quanto dos órgãos públicos. Isso porque a tecnologia pode vir a atender outros setores, como a indústria farmacêutica.
“É provável que a empresa demore entre um ou dois anos para desenvolver a metodologia, mas, quando estiver bem estabelecida, poderá ser aplicada a todo o portfólio, de cerca de 2 mil produtos”, diz Lorencini.
Os ‘órgãos em chips’ permitirão aprimorar a segurança de avaliação de cosméticos, fortalecerão a sustentabilidade, por evitar os testes em animais em toda a cadeia, e tendem a acelerar o ciclo de lançamentos de produtos. A empresa terá de recrutar menos voluntários para testes, o que deve se traduzir em menos recursos gastos e processos de avaliação mais
curtos.
Repercussão: Ipupo; NIT Mantiqueira