Istoé Dinheiro, em 22/11/2013
Subsidiária da empresa belga do setor químico usa o bagaço e a palha da cana-de-açúcar como insumo para fabricar produtos sustentáveis
Por Rosenildo Gomes FERREIRA
A nafta, um derivado do petróleo, transformou-se num dos principais insumos para o setor químico. Isso, no entanto, deixou as empresas desse segmento reféns da indústria petrolífera. Mas no que depender da belga Solvay, que faturou US$ 16,6 bilhões no mundo em 2012, dos quais US$ 1,39 bilhão no Brasil, essa hegemonia está com os dias contados. Em 2015, entra em operação no País a fábrica de bio n-butanol que está sendo erguida em parceria com a GranBio, controlada pela Gran Investimentos, da família baiana Gradin. A matéria-prima será o bagaço de cana-de-açúcar.
Osni de Lima, CEO da Solvay na América do Sul: “A matriz garante
que não faltará dinheiro para investir no Brasil”
A expectativa é grande, especialmente em uma época em que um número cada vez maior de empresas busca reduzir sua pegada de carbono, a partir do uso de insumos renováveis. Apesar disso, a Solvay não pretende cobrar um “prêmio” por seu bio n-butanol, cujo foco são os fabricantes de tintas. “Nossos produtos com insumos sustentáveis serão sempre competitivos em preço e terão a mesma qualidade dos convencionais”, afirma Osni de Lima, CEO do grupo Solvay na América do Sul. Colocar a Solvay na rota verde se tornou uma espécie de obsessão para o executivo, que assumiu em janeiro deste ano.
Para isso, Lima dispõe de US$ 60 milhões para investir neste ano, valor semelhante ao gasto em cada um dos últimos três anos. Mas esse montante poderá subir, acompanhando as necessidades da filial. De acordo com Lima, isso ficou evidente na última visita do CEO mundial, Jean-Pierre Clamadieu, ocorrida em agosto. “Ele foi taxativo ao nos passar a seguinte diretriz: ‘São vocês que devem identificar as oportunidades de mercado e nos dizer onde devemos investir’”. O apetite global da Solvay por aquisições cresceu neste ano, com o fim do processo de incorporação da francesa Rhodia pelos belgas em abril de 2011, por US$ 4,8 bilhões.
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Na transação, a marca Rhodia foi aposentada, menos no Brasil. “Este nome tem um grande apelo no mercado local, por isso a direção mundial decidiu mantê-lo”, diz. O trabalho de Lima deverá ser facilitado também pelo fato de a empresa possuir um portfólio verde bem estabelecido por aqui, cujo desenvolvimento contou com técnicos locais. A lista já inclui produtos para diversos segmentos, como o automotivo. Em parceria com a italiana Magnetti Marelli, por exemplo, foi criado um coletor de admissão de ar, feito de plástico de engenharia reciclado quimicamente.
Outro é um componente do sistema de fluidos de freio para caminhão fabricado com plástico derivado de óleo de mamona. Ainda nos tempos de Rhodia, a subsidiária criou o solvente sustentável Augeo, cuja composição leva glicerina, um subproduto do biodiesel. Além de intensificar as pesquisas com insumos verdes, a direção do grupo Solvay quer reduzir sua pegada de carbono a partir da adoção de um processo produtivo cada vez mais sustentável. Para isso, por intermédio da Energy Services, o grupo está investindo na produção de energia renovável, a partir da queima do bagaço e da palha da cana.
A primeira iniciativa nessa área acontece na cidade de Brotas (SP), onde está localizada a usina da Paraíso Bionergia, cliente e fornecedora da Rhodia. A usina de cogeração já começou a operar. Sua capacidade instalada de 70 megawatts será suficiente para abastecer 200 mil residências. O etanol, sem dúvida, terá um papel decisivo na estratégia da subsidiária da Solvay. Além do acordo com a GranBio, a empresa já executa estudos conjuntos com a Embrapa e o Centro de Tecnologia do Etanol (CTBE), para a descoberta de novas moléculas a partir da biomassa. “A indústria química é movida a desafios”, diz Lima. “E queremos superá-los por meio de insumos cada vez mais sustentáveis.”