Roraima+ em 12 de Setembro
A abertura da 68ª Reunião Anual da SBPC, contou com mais de 1800 pessoas no auditório do campus da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFBS), em Porto Seguro, reunindo dirigentes de várias instituições científicas. Estavam presentes na mesa de abertura várias autoridades do país, dentre elas, o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kasab; o reitor da UFSB, Naomar de Almeida; o Ministro da Educação, Celso Pansera; o presidente da Finep, Wanderley de Souza; o conselheiro da SBPC, Marco Antônio Raupp; o secretário de Ciência e Tecnologia da Marinha, Bento Lima; e o presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Luiz Davidovich. O evento foi marcado por manifestações contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o das Comunicações. Durante a cerimônia, teve ainda apresentações da Orquestra Jovem de Trancoso, do Coral Municipal de Porto Seguro e homenagens aos professores William Saad Hossne e Ângelo da Cunha Pinto.
A presidente da SBPC, Helena B. Nader, abriu a sessão com um discurso contundente sobre a necessidade de recuperação de recursos e priorização das áreas de educação, ciência e tecnologia no País. Nader reforçou o posicionamento da SBPC contrário à fusão do MCTI com o Ministério das Comunicações. Ela falou sobre a instabilidade que o país enfrenta. “Desde o ano passado está sendo difícil para todos nós brasileiros. Um ano que vai entrar para história como um período dramático na vida social, política e econômica do país, um período ruim para a ciência e a educação”, disse Nader, completando que o diálogo é fundamental para que as críticas e reivindicações da comunidade científica sejam ouvidas.
“Se a fragilidade das contas públicas aflige a economia, a fragilidade do sistema educacional, científico e tecnológico provoca danos profundos e de longo prazo não só na vida econômica, mas também na sociedade como um todo e na maioria dos cidadãos, especialmente os de baixa renda”. “Devemos lutar para que o diálogo e o combate coerente voltem a prevalecer”, propôs Helena Nader ao reivindicar que o governo federal destine às atividades de ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) os mesmos valores empregados em 2013: cerca de R$ 9,4 bilhões.
Helena enfatizou que “nossa luta continua pela reposição do orçamento pelo menos aos níveis do ano de 2013, já que não podemos pensar num estado soberano sem CT&I”.
A presidente da SBPC deixou clara também a posição contrária da entidade à proposta do governo federal de reduzir o valor mínimo a ser investido pelo poder público para saúde e educação. “Somos frontalmente contra essa proposta”, disse Helena Nader.
Ainda no plano do governo federal, a presidente da SBPC reafirmou a continuidade da luta pela volta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, desvinculado da área de Comunicações.
“A criação de um ministério dedicado a pensar e gerir a ciência brasileira remonta ao início da década de sessenta. O sonho se concretizou em 1985, há exatos 31 anos. Não podemos ter retrocessos, pois acreditamos que somente com ciência e tecnologia fortes, associadas à educação de qualidade poderemos conquistar o país que queremos – justo e igualitário, com forte desenvolvimento econômico, sustentável e social”.
De acordo com a presidente, apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, a sociedade encontra-se sem intolerância. “Precisamos de um mundo com menos Intolerâncias”, disse Helena Nader. “Apesar da globalização, que parecia ser a esperança de uma sociedade mais pacífica, interligada e tolerante, o que se vê são conflitos de toda ordem. Intolerância com a diversidade de gênero, raça e religião, violência urbana, diásporas e terrorismo”, afirmou.
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, parabenizou a SBPC pelo evento. “A SBPC é protagonista na comunidade científica, é um dos principais pilares do desenvolvimento da ciência, tecnologia, e inovação do país”, disse Kassab, lembrando que nas últimas semanas percorreu os institutos federais do país. “Percorri de norte a sul pelos institutos do Brasil, junto com os principais líderes, e pude identificar suas aspirações e os desafios, e contam com todo nosso apoio”.
Para o reitor da UFSB, Naomar de Almeida, é uma grande satisfação receber um dos maiores congressos científicos de difusão do Brasil, e comentou que a UFSB, mesmo sendo uma universidade jovem, já se destaca. “A UFSB é a menor e mais jovem universidade brasileira. Queríamos que ela fosse popular e totalmente inclusiva, e ainda com um ensino de excelência, e nós conseguimos esse desafio”, disse Almeida, completando que mais de 90% dos alunos são nativos.
Prêmio José Reis
Durante a abertura da Reunião Anual foi realizada a entrega do prêmio José Reis de Divulgação Científica. Este ano a premiação foi para Luisa Medeiros Massarini, do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida, localizado no Rio de Janeiro (RJ).
Pavilhão MCTIC
A mostra ExpoT&C apresentou novas tecnologias, produtos e serviços desenvolvidos em universidades e institutos de pesquisa vinculados ao MCTIC. Uma das grandes atrações da ExpoT&C foi o pavilhão do MCTIC com experimentos, oficinas e jogos interativos. O pavilhão se baseou no tema da 68ª Reunião Anual da SBPC, “Sustentabilidade, tecnologias e integração social”. A estrutura possui, por exemplo, uma instalação interativa em relevo com o formato do mapa do Brasil, a fim de explicitar a localização e a abrangência de unidades de pesquisa, organizações sociais e agências vinculadas à pasta e seus programas.
No Espaço da Sustentabilidade, os visitantes da ExpoT&C podiam se informar de maneira lúdica sobre projetos do MCTIC em biodiversidade, construção sustentável, internet das coisas, manejo florestal, microscopia e monitoramento da Terra. Havia demonstrações de trabalhos do Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), do Instituto Mamirauá, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Integravam o pavilhão do MCTIC 28 estandes da Agência Espacial Brasileira (AEB), do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do CGEE, da Ceitec, do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do CNPq, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma), do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), do Inpe, do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Insa, do Instituto Mamirauá, do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), do Museu Goeldi, da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) e do Observatório Nacional (ON).
A Química será a solução
Em sua palestra, Adriano Defini Andricopulo, professor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), afirmou que a maior parte das soluções para os problemas globais de alimentação, poderá vir da Química.
A população mundial deverá saltar do atual patamar de 7 bilhões de pessoas para 9 bilhões até 2050, e só a Quimica possibilitará o acesso a alimentos para esse contingente de pessoas, de forma sustentável.
“A Química, sem dúvida, deve dar a maior contribuição para solucionar os desafios globais no século 21”, estimou Andricopulo, que é membro do comitê executivo e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.
De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, em 1960 um hectare de terra alimentava duas pessoas. Em 2050 a mesma quantidade de terra terá de alimentar mais de seis pessoas.
Esse desafio é agravado pelo fato de que hoje não se consegue alimentar nem os 7 bilhões de pessoas existentes no mundo, ponderou.
“Será preciso desenvolver novos produtos para proteger as culturas agrícolas contra pragas e doenças”, apontou Andricopulo. “Nesse sentido, a síntese química terá um papel fundamental.”
Cerca de 40% dos alimentos existentes no mundo hoje não existiriam se não houvesse agroquímicos para protegê-los do ataque de organismos causadores de doenças em plantas (fitopatógenos), disse o pesquisador.
A fim de desenvolver novos princípios ativos para pesticidas e herbicidas voltados a controlar ervas daninhas, pragas e doenças fúngicas – uma vez que com o passar do tempo os organismos podem desenvolver resistência a elas –, os químicos têm buscado cada vez mais inspiração em compostos naturais.
Muitas plantas produzem misturas complexas de substâncias químicas que afetam o comportamento de insetos, influenciando onde vão se alimentar ou procriar, afirmou o pesquisador. “Essa informação pode ser usada para desenvolver métodos práticos para o controle de pragas”, disse.
Já o aumento do conhecimento sobre a nutrição vegetal pode resultar na melhoria de plantas para absorver nutrientes vitais, como nitrogênio, de forma mais eficiente, indicou Andricopulo.
Um elemento essencial para o desenvolvimento das plantas, uma vez que é usado em uma série de processos metabólicos, o nitrogênio é abundante na atmosfera, mas não tem nenhuma utilidade biológica direta e precisa ser convertido em outras formas, como nitratos, que as plantas são capazes de usar.
“A Química pode contribuir na produção de catalisadores mais baratos, por exemplo, que poderiam ajudar as plantas a fixar nitrogênio de forma mais eficiente”, avaliou Andricopulo.
Outro elemento essencial para as plantas – que, em alguns anos, até 80% dele estarão disponíveis em formas que não podem ser absorvidas e usadas – é o fósforo.
A fim de disponibilizá-lo para as plantas são usados comumente fertilizantes criados a partir de fosfato extraído de depósitos de rocha sedimentária e tratado quimicamente para aumentar sua concentração e torná-lo mais solúvel, de forma a facilitar sua absorção.
O problema, contudo, é que os depósitos de fosfato no mundo podem se esgotar nos próximos 50 a 100 anos. “A Química pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento de novas tecnologias para recuperar o fósforo a partir de resíduos para potencial reutilização”, apontou Andricopulo.
100 Anos da ABC – homenagem da SBPC
A presidente da SBPC abriu a sessão com um pequeno discurso onde salientou o papel fundamental da ABC na institucionalização da ciência no Brasil, como também o fato de que as duas entidades, ABC e SBPC, têm atuado como parceiras em vários momentos da história, mas sobretudo nos últimos anos.
“Já o nascimento da SBPC, em 1948, teve a participação de diversos acadêmicos e sempre houve cientistas que atuaram tanto na Academia como na SBPC, como Maurício Rocha e Silva, Warwick Estevam Kerr, Sergio Ferreira, Crodowaldo Pavan e tantos outros. Também houve momentos muito importantes na construção do sistema brasileiro ciência e tecnologia em que a SBPC e a Academia ocuparam o mesmo cenário e marcharam juntas, como na criação da Capes no início dos anos 1950”, lembrou Nader.
Um momento simbólico do início de parcerias vigorosas entre a ABC e a SBPC foi em 2009, “quando realizamos um estudo em que analisamos em profundidade o marco legal de ciência e tecnologia, e propusemos melhorias, e principalmente em relação às fundações de apoio”, disse a presidente da SBPC. Este era um ponto nevrálgico do sistema porque as fundações de apoio passavam a ter as mesmas restrições e dificuldades para compras e contratos que já tinham as universidades em sua administração direta. Ainda, neste documento apontamos as lacunas e falhas das legislações vigentes em prol da ciência e da educação. Esse estudo foi entregue pelo então presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp e pelo então presidente da ABC, Jacob Palis, ao governo federal, precisamente ao próprio presidente Lula, durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em maio de 2010.”
Outros projetos mais recentes em que ABC e SBPC trabalharam em conjunto e de modo sistemático e organizado foram o grupo de trabalho SBPC-ABC para estudar e encaminhar propostas para o novo Código Florestal; e o novo marco legal de ciência, tecnologia e inovação, aprovado no início deste ano. “Participamos de N reuniões, com outras entidades, com representantes do governo federal e com parlamentares. Resultado: temos um novo marco legal, muito melhor do que o anterior exatamente porque contou com a pró-atividade e a representatividade da comunidade científica, expressas enormemente na atuação conjunta SBPC-ABC,” afirmou Nader em seu discurso.
A parceria tem possibilitado a mobilização de outras entidades do sistema nacional de CT&I, como o Conselho dos Secretários Estaduais de Ciência e Tecnologia (CONSECTI), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Apoio a Pesquisa (CONFAP), e mesmo as entidades empresarias ligadas ao setor empresarial dedicado à inovação, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI) e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC).
Na visão da presidente da SBPC, a ação conjunta tem sido cada vez mais relevante, necessária e vigorosa. “Estamos nos posicionando de maneira conjunta em praticamente todas as pautas da ciência relacionadas aos poderes públicos: da regulamentação retrógrada da lei de acesso à biodiversidade, ao desatino de se ter no MCTI um político com agenda religiosa, incluindo-se, naturalmente, a luta para que a tríade ciência, tecnologia e inovação volte a ser representada”, concluiu Nader.
Parceria em momento de crise
O presidente da ABC, Luiz Davidovich, reforçou a importância do trabalho que é realizado com a SBPC, principalmente em momento de crise política e econômica como vivemos, que tem afetado negativamente grandes projetos de CT&I no Brasil. “Temos programas e projetos quase parados, ou com carência de recursos, como o reator multipropósito brasileiro, o navio oceanográfico e o Instituto de Pesquisas Oceânicas, e diversos outros”, salientou Davidovich. Ele também afirmou que a luta contra a fusão do MCTI com o MiniCom, e pela recuperação do orçamento de CT&I, tem mobilizado a agenda conjunta da ABC e da SBPC nos últimos tempos.
Davidoch apresentou um breve histórico da ABC, onde destacou desde o discurso de posse do 1º. presidente, o cientista Henrique Morize, até o relato de visitas ilustres durante a primeira metade do século XX, como Albert Einstein e Marie Curie. E momentos históricos relevantes, como o eclipse solar observado em Sobral, no Ceará, em 1919, que buscou a comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.
Para Jorge Guimarães, presidente da Embrapii, o momento de crise que vivemos já foi até pior em outras épocas da história brasileira, como na década de 1980. Que no Brasil é ainda muito baixo o investimento em ciência e tecnologia, sobretudo o investimento realizado pelo setor industrial e privado, ao contrário do que ocorre em países desenvolvidos. Além de investir até 3% do PIB em C&T, em países como os EUA, Coreia do Sul, Japão e alguns países europeus, o investimento é por vezes superado pela indústria do que pelos governos. O professor João Alziro Herz da Jornada, da UFRGS, ressaltou o papel que as academias de ciência representam para a validação e reconhecimento das ideias de cientistas de todo o mundo.
O grande potencial do mar Atlântico
Conferência abordou o potencial da Amazônia Azul no desenvolvimento de fármacos. Com mais de 8 mil quilômetros de extensão litorânea, a “Amazônia Azul” guarda no mar um tesouro farmacológico tão rico quanto a área de terra da “Amazônia verde”, afirma a bióloga Leticia Veras Costa Lotufo, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante a conferência “Farmacologia Marinha no Brasil: O potencial da Amazônia Azul no desenvolvimento de fármacos”. Lotufo afirma que o Brasil tem uma costa enorme, mas com uma exploração econômica ainda muito incipiente, quando observamos outros países.
Segundo ela, o ambiente marinho ocupa dois terços do planeta e é um ambiente rico em interações ecológicas. A chamada Amazônia Azul conta com cerca de 3 milhões e meio de km². “Temos a segunda maior costa do mundo, mais algumas ilhas, como o Arquipélago de São Pedro e São Paulo”, afirmou.
Na década de 60, com o desenvolvimento de equipamentos de mergulho, começaram a surgir os primeiros produtos naturais marinhos. “Com o aperfeiçoamento de equipamentos de mergulho podemos coletar em locais cada vez mais profundos no ambiente marinho”, explica.
Segundo ela, os produtos oriundos dessa biodiversidade têm se modificado, já que teve um tempo em que eram produzidos por grandes indústrias e agora são produzidos por institutos de biotecnologia e universidades – que dividem o risco das pesquisas. “Um novo perfil está em curso. Estamos vivendo um novo momento de decisões importantes com o descobrimento de micro-organismos marinhos – bactérias e fungos como fontes de produto naturais.
Para a pesquisadora, é impossível trabalhar no ambiente marinho de forma isolada, por ser uma ciência multidisciplinar. “Precisamos formar recursos humanos para criar uma massa crítica capaz de estudar a ecologia química marinha. Só assim poderemos descobrir o universo fantástico dessas micro e macromoléculas, diluídas na imensidão dos oceanos”, disse.
Lotufo explica que há um potencial imenso de diversidade biológica e química. Mas com exploração sustentável, já que ela não pode ser pautada no extrativismo.
Ela também afirma que, além da rica biodiversidade, a chamada Amazônia Azul tem uma importância econômica estratégica para o País.
Estudo
Ela afirmou que, em um dos estudos, uma nova molécula encontrada em uma bactéria marinha pode ter um papel significativo no tratamento contra o câncer, em especial o câncer de pele do tipo melanoma. Chamada de seriniquinona, a molécula foi isolada de uma bactéria rara do gênero Serinicoccus.
Ela explicou ainda que a molécula seriniquinona é capaz de reconhecer uma proteína presente principalmente nas células cancerígenas: a dermicidina, que está relacionada à sobrevivência da célula. “Quando a molécula se liga nessa proteína, acaba ativando uma série de processos de morte celular”, diz a pesquisadora.
O papel da Embrapii no suporte à Inovação no Brasil (SBPC Inovação)
O presidente da Embrapii, Jorge Guimarães, disse que os acordos da instituição com as universidades federais são minoria entre os projetos realizados em dois anos da empresa, que embora tenham competência para fazer projetos inovadores em parceria com a Embrapii, Guimarães afirmou que uma parte das universidades não está conseguindo se credenciar diante de dificuldades para estreitar relações com o setor privado.
Nesse contexto, Guimarães chamou a atenção para a execução do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, sancionado em janeiro com oito vetos, e acredita que a legislação terá dificuldade para funcionar nas universidades federais. A avaliação é de que existem procuradorias nas universidades que engessam o setor, dificultando, por exemplo, assinaturas de contratos com as empresas para execução de projetos de pesquisa com enfoque industrial. Os sinais também são de dificuldade de contratação de pesquisadores por tempo limitado.
Carência de cientistas e engenheiros
O presidente da Embrapii mostrou o cenário do movimento empresarial em busca da inovação no mundo e a participação dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em países como França, Taiwan, Austrália e Japão, onde o investimento em P&D é elevado e há 3 mil cientistas por milhão de habitantes.
No Brasil são aplicados 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e existem 700 cientistas por milhão de habitantes. Guimarães voltou a lamentar o fato de a maioria (60%) dos investimentos no setor ser aplicada pelo governo, e 40% pelo setor privado, liderado pela estatal Petrobras.
Conforme disse, nos Estados Unidos quem produz patentes são as empresas, enquanto que uma pequena parcela, de 3%, é aplicada pelas universidades, ao contrário do Brasil. “Nossa empresa investe pouco em pesquisa e desenvolvimento.”
Alguns dos principais objetivos da Embrapii é promover inovação na indústria, em um esforço de reduzir riscos e aumentar recursos em P&D pelo setor empresarial, reiterou Guimarães. A intenção é alavancar os investimentos para 2% do PIB, sob a influência do setor privado e também de estimular o aumento de cientistas. Para fazer acordos com a Embrapii, por exemplo, é preciso ter foco em projetos e plano de ação para seis anos.
Para o novo secretário do MCTIC, Álvaro Prata, o principal problema da área de ciência, tecnologia e inovação no Brasil não é somente de financiamento. Para ele, é necessário dobrar o número de cientistas e engenheiros.
Modelo que dá certo
Prata avaliou o projeto Embrapii e disse que “esse é um modelo que dá certo no Brasil”, porque aponta a direção, fomenta e avalia os passos seguintes, parecido “com modelo Capes”. Ele disse que este ano o MCTIC destinou R$ 59 milhões à Embrapii e acrescentou que esse é um “dinheiro bem empregado”.
Hoje a Embrapii tem acordos com 80 companhias, entre pequenas e médias empresas, dentre as quais Embraer, Natura, Votorantim e Vale. O presidente da Embrapii voltou a chamar a atenção para a ausência de acordos com o setor farmacêutico, apesar do déficit superior a US$ 10 bilhões na balança comercial de fármacos.
A instituição está negociando com o Ministério da Saúde para fazer acordos com o Instituto Butantan, por exemplo, prática que será aplicada também em outros setores, como a área da Defesa. A instituição quer acordos também com a Capes, para contratação de pós-doutorado e com o CNPq, para atrair alunos do Programa Ciência sem Fronteiras.
Mesmo diante da crise econômica, o presidente da Embrapii comemora o número de empresas prospectadas a partir de 2014, cujas contratações somaram R$ 10 milhões, valores que subiram para R 116 milhões, em 2015. Segundo Guimarães, de janeiro a março deste ano os números somam R$ 47,47 milhões contratados. “Apesar da crise, a inovação cresceu no caminho que estamos buscando.”
Panorama
Outros destaques da Reunião da SBPC: o lançamento do documentário Banco de Abrolhos: Maior Complexo Coralíneo do Atlântico Sul pelo CNPq, o projeto Bólido CX1, primeiro modelo brasileiro de handbike para atletas de alto rendimento, apoiado pelo Finep, da AEB, o Centro Vocacional Tecnológico Espacial (CVT Espacial), em construção no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Natal (RN).
A coordenadora-geral de Gestão de Ecossistemas do MCTIC, Andrea Portela, abordou o financiamento da pesquisa em biodiversidade no Brasil e o acesso à informação em plataformas de dados. O diretor de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia, Douglas Falcão, apresentou os preparativos para a 13ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT 2016), de 17 a 23 de outubro. Já o diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq, Marcelo Morales, fez uma conferência sobre experimentação animal.
Na agenda organizada pelo MCTIC, estavam, ainda, palestras de representantes do CBPF, do Cemaden, do Ibict, do Inma, do Inpa, do LNCC, do LNLS, do Mamirauá, do Mast, da Nuclep e da Secretaria de Política de Informática (Sepin), além de oficinas de pesquisadores dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) Baiano, de Brasília e do Sul de Minas, com orientações sobre preparo de café orgânico, cerveja artesanal e chocolate.
Desde 1948, a SBPC organiza sua Reunião Anual em universidades públicas de todo o país. A instituição considera o encontro um espaço para difundir avanços da ciência em diversas áreas do conhecimento e um fórum de debates de políticas públicas. O evento tem apoio institucional do MCTIC.
O encerramento
A 68ª Reunião Anual da SBPC, superou todas as expectativas. Durante o encerramento do evento, todos os participantes, como a presidente da SBPC, Helena Nader, e o reitor da UFSB, Naomar de Almeida Filho, elogiaram o trabalho em equipe para que o evento alcançasse êxito.
A presidente da SBPC, emocionada, citou algumas atividades como ExpoT&C, SBPC Jovem e as Sessões Especiais que contaram com homenagens a algumas instituições. “Tivemos, entre as sessões especiais, o centenário da ABC (Academia Brasileira de Ciências), que nos presenteou com um uma vasta história sobre a ciência brasileira. Também teve a homenagem ao 50º aniversário da SBF (Sociedade Brasileira de Física) e da SBFTE (Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental), com marcantes histórias da farmacologia e dos fármacos. Daqui vamos levar conhecimento, participação e colaboração futura”, disse.
O reitor da UFSB, por sua vez, falou sobre o desafio de organizar a Reunião Anual da SBPC e mencionou que o sucesso foi obtido em razão do trabalho em equipe, com a participação de funcionários e do corpo docente.
O coordenador da Comissão Executiva Local, Carlos Caroso, também falou sobre a ousadia da UFSB de aceitar o desafio. “Após a aceitação do desafio e agora passado, de fato, os seis meses de execução do evento, temos sucesso. E ressalto que a realização da SBPC fez com que a universidade fosse mais conhecida além do âmbito regional”, disse.
A 68ª Reunião Anual da SBPC, em números
No total, o evento obteve 6.313 inscritos, público constituído por cientistas, professores e estudantes, além de gestores de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de empresas e profissionais de órgãos governamentais de apoio à pesquisa científica e tecnológica.
Mais uma vez, reafirmando o caráter nacional do evento, houve participantes de todos os estados do País, incluindo o Distrito Federal. Os inscritos se deslocaram de 587 cidades. O Estado da Bahia teve o maior número de inscrições (3.117); seguido de São Paulo (307), Rio de Janeiro (238), Minas Gerais (232), Pernambuco (212), Pará (211), Maranhão (181), Distrito Federal (174), Acre (169), Rondônia (153), entre outros.
A secretária-geral da SBPC, Claudia Masini d’Avila-Levy, observou, porém, que o número de pessoas que frequentaram as atividades da Reunião foi bem superior ao de inscrições. Ela destacou ainda o número de participantes vindos de outros estados. Salientou ainda que 1.200 inscritos são professores que participaram da SBPC Educação, que aconteceu nos dias 1 e 2 de julho, no campus da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Teixeira de Freitas (BA). “Isso trará um grande impacto para a região”, disse.
Para a secretária-geral da SBPC, o sucesso do evento também é devido à qualidade do trabalho da equipe. “O saldo do evento foi muito positivo, já que teve um esforço muito grande de todos os envolvidos para a sua realização”, disse Levy. Ela ressaltou o envolvimento dos estudantes da UFSB no projeto pedagógico da instituição, que é novo. “A gente percebe que eles estão felizes com este projeto e isso é muito bom. E é a primeira vez que a SBPC realiza a Reunião Anual em uma universidade tão jovem. E vai ser difícil bater este recorde porque são dois anos apenas de universidade”, disse.
Qualidade
A programação científica sênior da 68ª Reunião da SBPC contou com cerca de 200 atividades, dentre elas, 52 conferências, 66 mesas-redondas, 6 encontros, 7 assembleias e 27 minicursos, que contemplaram diversas áreas da ciência. Muitas atividades tiveram como foco o tema central da Reunião: “Sustentabilidade, Tecnologias e Integração Social”.
Quanto à SBPC Indígena, Paulo Roberto Petersen Hofmann, um dos tesoureiros da SBPC, lembrou que foram construídas quatro Ocas que serão aproveitadas para outras ocasiões dentro do projeto da universidade, que tem um bom número de alunos indígenas. “É um legado muito importante que ficou para universidade”, disse.
69ª RA da SBPC
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que fará 90 anos em 2017, sediará a próxima edição da Reunião Anual. Jaime Arturo Ramírez, reitor da instituição, considerou o evento de Porto Seguro, como um sucesso. “Estou aqui aprendendo muitas coisas e vendo os desafios que nos foi passado. Temos agora a responsabilidade de superar o sucesso que foi em Porto Seguro, de riqueza da cultura, diversidade dos temas e a ExpoT&C”, disse ao finalizar, apresentando um vídeo do campus.