A movimentação no Laboratório de Bioensaios, fruto da parceria entre a Natura e o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), começou antes mesmo de sua inauguração oficial, que ainda não tem data para acontecer. Instalado no próprio LNBio, em Campinas (SP), o espaço já foi palco do treinamento dos pesquisadores que irão operar os novos equipamentos, etapa encerrada neste mês. No momento, ele abriga experimentos iniciais tanto do LNBio quanto da Natura.
Segundo Artur Cordeiro, pesquisador do LNBio e coordenador do Laboratório de Bioensaios, o espaço é um centro de triagem molecular. “Este tipo de unidade é usada para testar quantidades enormes de moléculas que tenham potencial para serem usadas no desenvolvimento de novos cosméticos ou medicamentos”, afirma. “Existem cerca de 80 centros deste tipo no mundo. A maior parte está na Europa, Estados Unidos e Japão. Contudo, não havia nenhum na América Latina”, afirma.
Estabelecido com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Natura, que não informa o valor do investimento, o local é composto por seis equipamentos totalmente automatizados, interligados por um braço robótico.
Automação, aliás, é a palavra-chave para se entender a importância do novo laboratório. De acordo com Cordeiro, o equipamento tem capacidade de testar cerca de 15 mil compostos químicos por ensaio. Apesar deste volume, cada um dura apenas de oito horas a três dias. “Sem essa automação, o tempo necessário para realizar todos esses procedimentos seria praticamente inviável. Além disso, como os testes estão sendo operados por um braço mecânico, erros decorrentes da manipulação humana são eliminados”, afirma o pesquisador.
Victor Fernandes, diretor de ciência, tecnologia, idéias e conceitos da Natura, diz que o Laboratório de Bioensaios permitirá à companhia avançar significativamente em suas análises de segurança e eficácia de ativos vegetais, facilitando a descoberta de novos compostos e também de novos usos para aqueles já utilizados pela empresa. “Esse laboratório representa um salto qualitativo e quantitativo em nossas análises. Como o uso de ativos da sociobiodiversidade brasileira é parte da estratégia de inovação e diferenciação da Natura, ele é central em nossos planos”, afirma.
De acordo com o executivo, os novos equipamentos permitirão realizar cerca de 100 testes no tempo em que antes apenas um era realizado. Porém, ele acrescenta que não se trata apenas de mera economia de tempo, mas também de ter mais e novas possibilidades de realização de ensaios. “Normalmente, avalia-se um benefício por ativo. É um para um. Agora poderemos avaliar vários ativos ao mesmo tempo”, observa.
Portas abertas
Além da Natura, qualquer empresa interessada poderá explorar a tecnologia do Laboratório de Bioensaios. Segundo Cordeiro, porém, o atendimento a outras companhias começa somente no próximo ano. “No momento estamos definindo a política de uso do laboratório por usuários externos”, diz, acrescentando que antes os técnicos do LNBio precisam adquirir total controle e confiança sobre a operação dos equipamentos.
Parceria – Laboratório é resultado da opção pela inovação aberta
A Natura adota desde 2005 o modelo de inovação aberta. Isso significa que a empresa recorre a parceiros como universidades e centros de pesquisa, tanto brasileiros quanto estrangeiros para conduzir projetos de pesquisa e desenvolvimento. Para Victor Fernandes, diretor de ciência, tecnologia, idéias e conceitos da Natura, essa estratégia é importante por gerar diversos benefícios. “Há ganhos de produtividade. Conseguimos fazer mais com menos, de forma sustentável. Outros ganhos vem do lado criativo, pois temos acesso a muitos talentos”, diz. Em 2010, a empresa investiu 2,8% de sua receita líquida de R$ 5,1 bilhões em ações de inovação. Para Artur Cordeiro, pesquisador do LNBio e coordenador do Laboratório de Bioensaios, a inovação aberta é benéfica para todos os envolvidos. “Instituições de pesquisa como o LNBio prestam um grande serviço não só à ciência mas também ao desenvolvimento tecnológico do país quando abordam problemas oriundos do mercado, isto é, questões trazidas pela empresas”, diz o pesquisador.
Grupo seleto – 80 é o número de centros de triagem molecular existente no mundo atualmente. O laboratório instalado no LNBio, em Campinas, é o primeiro da América Latina.