Entre os dias 22 e 25 de agosto, acontece em Sertãozinho (SP) mais uma Fenasucro & Agrocana. O novaCana conta um pouco da história do evento, que completa 25 anos de existência, e da evolução do setor nesse um quarto de século. Estão presentes os desafios da década de 1990 até os atuais, além das perspectivas de retomada de investimentos para a próxima temporada.
Os últimos 25 anos do setor sucroenergético representaram um grande salto tecnológico e de mercado. Por volta da década de 1990, o então setor sucroalcooleiro passava por uma libertação do controle do governo, por uma baixa do até então bem-sucedido Proálcool e por um modelo produtivo ainda pouco tecnológico.
Hoje, o etanol de cana-de-açúcar é considerado um exemplo no que se refere à produção de uma fonte de energia renovável. As intenções do governo federal com o RenovaBio prometem desenvolver o potencial nacional e resgatar o setor da crise e do ostracismo consequente de políticas de intervenção de preço governamentais. A situação também não é fácil, mas há esperança.
No campo e nas indústrias os avanços são constantes: novas variedades, colheita e plantio mecanizado, cogeração, etanol de milho e muitos outros exemplos que eram inimagináveis no início desse último quarto de século.No campo e nas indústrias os avanços são constantes: novas variedades, colheita e plantio mecanizado, cogeração, etanol de milho e inúmeras novas tecnologias, antes consideradas inimagináveis, tornaram-se parte do cotidiano do setor.
Na próxima edição da Fenasucro & Agrocana, essa evolução do setor será evidenciada. A edição 2017 do evento, que é um dos mais importantes divulgadores da expertise nacional na produção de açúcar e etanol, além de propagador de novas tecnologias do setor, comemora o fato de ter andado lado a lado com o setor nesses últimos 25 anos.
De 22 a 25 de agosto, em Sertãozinho, no interior de São Paulo, a feira dará espaço para mais de mil marcas em uma área de 70 mil metros quadrados. A expectativa da organização é que sejam recebidos 35 mil visitantes brasileiros e internacionais, que devem gerar R$ 3,1 bilhões em negócios. Essa também é a edição com mais tempo dedicado à troca de informações: serão 300 horas de palestras, workshops e conferências.
Da virada tecnológica à retomada dos investimentos
Apesar de ter sido realizada pela primeira vez em 1993, a semente que daria origem à Fenasucro foi plantada alguns anos antes.
Segundo relata o presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise BR), Aparecido Luiz, em 1985 o setor sucroalcooleiro estava em baixa devido às externalidades do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Assim, para estreitar o relacionamento entre os stakeholders do setor e para promover as indústrias e usinas da cidade de Sertãozinho, o Ceise e a Prefeitura de Sertãozinho realizaram a primeira edição da Sucroálcool, com exposição das empresas, seminários e shows.
Depois de seis edições, surgiu a necessidade de tornar o evento nacional. Foi quando foi criado o Fórum Nacional de Política de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro, a Fenasucro.
Na safra anterior à realização da primeira Fenasucro – 1992/93 –, o Brasil produzia pouco mais de 223 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, colhidas praticamente 100% queimadas e manualmente. O plantio mecanizado ainda era um horizonte distante e o setor gerava uma força de trabalho humana de quase quatro milhões de pessoas, empregadas direta ou indiretamente.
À época, o país ainda produzia um pouco mais de 9 milhões de toneladas de açúcar e 11 bilhões de litros de etanol.
Além disso, o setor vinha passando por um processo desregulamentação do setor, iniciado no fim dos anos de 1980 e que se arrastou pela década de 1990. O processo começou em 1988, com o encerramento das quotas e do impedimento das exportações de São Paulo, sendo finalizado em 1999 com a liberação do preço do etanol hidratado, após as gradativas liberações do açúcar (1990), do álcool anidro (1997) e da cana-de-açúcar (1998).
Assim, a década de 1990 lançava o desafio de substituir o protecionismo garantido pelo governo por profissionalização e investimento em pesquisas e tecnologias para melhorar a eficiência e reduzir custos de produção. A partir desse momento o setor e a Fenasucro não pararam de crescer, relata o presidente do Ceise BR.
Segundo ele, o setor embarcou em uma significativa trajetória modernização tecnológica, envolvendo tanto as unidades processadoras quanto o campo, refletindo diretamente no aumento da produtividade da terra e do trabalho. Em relação à feira, a cada ano foram incorporadas novidades, com a integração de todos os elos da cadeia produtiva da cana-de-açúcar.
“De certa forma, a realização [da Fenasucro] estimulou o desenvolvimento do setor que, a cada edição, apresenta inovações, atrai investidores do mundo todo, e recebe lideranças políticas e setoriais para discutir estratégias para as produções de açúcar, etanol e energia”, analisa.
A Fenasucro de 1993 a 1996
No decorrer desses 25 anos de feira, a denominação do setor passou de sucroalcooleiro para sucroenergético. Já o Ceise se transformou de Centro das Indústrias de Sertãozinho e Região para Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis.
Também ao longo do período, mais especificamente em 2003, a Fenasucro ganhou o reforço da Agrocana – dedicada à tecnologia agrícola canavieira – e teve o nome alterado para Fenasucro & Agrocana – Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética.
“Em meio a todas as intempéries do setor, a Fenasucro & Agrocana vem acontecendo há 25 anos, initerruptamente, provando que o Brasil não desistiu desse mercado, tão essencial para o seu crescimento”, enaltece o presidente do Ceise BR.
Acompanhando os altos e baixos do setor
Mais recentemente, o país já alcançou uma moagem de quase 667 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, com um pico de mais de 30 bilhões de litros de etanol produzidos (safra 2015/16). Para completar, na temporada 2016/17 foram produzidas 38,7 milhões de toneladas de açúcar.
Apesar desses números trazerem uma grande evolução em relação ao começo dos anos 1990, os desafios do setor também mudaram. Em especial, nos últimos 15 anos, a indústria sucroenergética tem vivenciado uma trajetória categoricamente atípica.
Nos anos 2000, muitas empresas foram atraídas pelas promessas do mercado de açúcar e álcool. Os primeiros anos dessa década foram de intenso investimento, com a ampliação da capacidade produtiva existente e a construção de mais de 100 novas unidades no Brasil. Inúmeros fatores contribuíram para esse cenário, como as esperanças de aumento na cotação internacional do petróleo, a ampliação do interesse global pelos biocombustíveis, o lançamento dos veículos flexfuel e a diferença tributária existente à época entre o etanol hidratado e a gasolina no mercado doméstico.
A Authomathika tem participado da feira desde essa época, mais precisamente desde 2001, quando a feira ocorria no antigo pavilhão da Sucroálcool. “Nestes anos, a feira tem melhorado em infraestrutura e divulgação. Também percebemos nitidamente um público mais técnico e profissional”, comenta a agente comercial da empresa, Ana Carolina Almeida de Gusmão.
Sobre o setor, ela relembra que a visão do Brasil e mesmo dos donos de usinas não era de grandes investimentos. “Não se priorizava eficiência, automatização e cumprimento de normas neste setor, não existiam grandes grupos e grandes investimentos, o que dificultava um crescimento expressivo dos fornecedores”, afirma.
Ela ainda relata que, nesse período, um dos momentos mais marcantes para a Authomathika foi o início de 2006, quando o BNDES liberou verbas para investimento neste setor. “Nós fizemos greenfields para os grandes grupos e era nítido que o setor se conscientizava da importância de investimentos em novas tecnologias, na automatização dos setores de instrumentação e elétrico, visando a melhora contínua do processo”.
“O maior desafio para quem trabalhava com o setor sucroenergético, com certeza, foi em 2011. O objetivo era se manter vivo, pois, a partir de 2008, o setor iniciava, juntamente com o Brasil, a maior crise econômica da sua história”, Ronaldo Santoro, diretor de operações da Sermasa
Além do avanço da produção para regiões de fronteira, a pressão para o fim do uso do fogo como método de despalha da cana-de-açúcar impulsionou rápido avanço na mecanização da colheita, com repercussão em inúmeras operações no campo. O uso das colhedoras impôs uma nova curva de aprendizagem ao setor e suscitou alterações nas técnicas de plantio, nos sistemas de conservação de solo, nas pragas e doenças na lavoura, entre outros.
As mudanças promovidas pela mecanização – aliada à dificuldade de investimentos diante da crise setorial e ao clima atípico em algumas safras – impactaram negativamente a produtividade agrícola, gerando uma certa apreensão sobre os próximos anos do setor.
“Houve períodos de safras excelentes e outros sujeitos a efeitos climáticos. Além disso, por um dos nossos produtos fazer parte da nossa matriz energética, ficamos muito a mercê a políticas de governo”, relata o diretor-executivo do Ceise BR, Sebastião Macedo Pereira, que continua: “Isso fez com tenhamos realizado feiras em períodos de boom de crescimento, não só de mercado e de produção, mas também de investimentos – como foi no início da década passada e se estendeu até 2010. E temos o período que estamos passando, de baixo investimento”.
“Nós não estamos de cabeça baixa por causa da crise, nós estamos enfrentando e passando por ela”, Sebastião Macedo Pereira, diretor-executivo do Ceise BR
Por sua vez, Ana Carolina, da Authomathika, destaca que a alta de investimentos em meados dos anos 2000 e a crise política que tomou conta do Brasil fizeram com que o setor se estagnasse e os investimentos fossem cortados. “O grande desafio para este setor é conseguir superar este momento de crise e lutar para que seja criada uma melhor política de comercialização de etanol, que dê às indústrias de etanol e açúcar maior importância no mercado”, destaca.
Horizonte positivo
O presidente do Ceise BR assinala que, nos últimos anos, o setor sucroenergético enfrentou um período muito crítico, agravado pela crise econômica mundial. Agora, aos poucos, vem recuperando o fôlego, ansioso pela implantação do programa RenovaBio. “O país só tem a ganhar com este avanço para um setor que é genuinamente brasileiro, gerador de empregos e renda, e sustentável nos três pilares que o conceito imprime: ambiental, social e econômico”, analisa.
Aparecido Luiz ainda acrescenta que, com o Renovabio, o governo brasileiro visa uma participação de 18% dos biocombustíveis na matriz energética até 2030. Dessa forma, será preciso quase que dobrar a oferta de etanol, dos atuais 28 bilhões para 50 bilhões de litros, o que vai demandar novas unidades produtoras e, consequentemente, reaquecer a indústria de base e serviços.
O diretor administrativo da Citrotec, Bernardo José Câmara Neto, segue na mesma linha: “Está todo mundo na expectativa da melhora”. Participante da feira há 10 anos, a entrada da empresa no evento coincidiu com a incursão no setor de açúcar e etanol e com o boom de vendas que marcou 2007 e 2008.
“A feira se profissionalizou cada vez mais, mas o mercado não tem dado o retorno”, afirma e justifica: “O setor vem passando por uma crise bem forte. Não somos tão antigos, viemos de outra área, mas pelo que a gente tem conversado com quem está no setor há mais tempo, eles nunca viram uma crise tão prolongada”, comenta sobre os anos de poucos investimentos.
Ainda assim, as companhias continuaram comparecendo à Fenasuscro, como aponta a gerente de marketing da Sergomel, Elaine Brasca. “As pessoas não deixaram de acreditar na feira, que ela poderia trazer bons negócios. Agora é esperar como serão os resultados desse ano”, finaliza.
Ela acrescenta que os dados de crise serviram para que houvesse também uma qualificação do setor e, consequentemente, da Fenasucro. “Esse período será um marco para que fiquem no setor as melhores empresas e as mais profissionalizadas”, afirma.
Pensando no que tem visto no início de 2017, o presidente do Ceise BR, Aparecido Luiz, acredita que o setor apresentou um avanço – ainda que tímido e longe do ideal – nos pedidos de reforma e manutenção de equipamentos das usinas às indústrias. Ele ainda acrescenta que o etanol está prestes a entrar em uma nova fase, mas ainda existem desafios pela frente.
“Nesse contexto, a feira poderá ser palco de grandes negócios e de ideias estratégicas para um novo e promissor momento do setor, apresentando tecnologias, inovações e soluções para tornar todos os elos da cadeia produtiva da cana-de-açúcar mais competitivos e prontos para atender à demanda com mais eficiência e produtividade”, diz.
O diretor-executivo da instituição acrescenta que a Fenasucro tem se mostrado para o mercado como um propositor, um exemplo de ação proativa para o desenvolvimento e enfrentamento dessas dificuldades que surgem. “Como você vai enfrentar isso? É com tecnologia, produção, produtividade, sistema e gestão”.
Feira de conhecimento
Para Pereira do Ceise BR, a maior evolução da feira é o constante aperfeiçoamento para dar respostas de mercado. “Essa é uma preocupação dos organizadores”, afirma e acrescenta: “Esse ano, vamos comemorar esses 25 anos na busca da excelência na realização dessa feira”.
Ele comenta que o crescimento de horas dedicadas a conteúdo aconteceu porque as mudanças tecnológicas geraram um desafio de formação e capacitação de técnicos. “Nós descobrimos nas últimas edições que tem uma demanda muito grande por esses conhecimentos, para absorver tecnologia, para absorver informações. A Fenasucro passou a ser um ambiente para você também encontrar os maiores técnicos do setor e não só do setor privado acadêmico, mas também de governo. A feira permite essa interação de toda a comunidade relacionada a esse segmento”.
Segundo Pereira, esses eventos de conteúdo atraem um público “pensante”, não só com poder de decisão de compra. “Quando entra em contato com tecnologias e informações que vão melhorar sua eficiência e produtividade, esse leva isso consigo e passa a estudar e a balizar a possibilidade de implantação”, afirma.
O consultor jurídico da E-Machine, Marcelo Acuña Coelho, que participa do evento desde 2006, percebe esse aprimoramento tanto do setor quanto da feira, especialmente no que se refere à qualificação do público. “Lembro de tecnologias considerada questionáveis que surgiram pioneiramente na feira, mas que depois se tornaram correntes e comuns. O setor como um todo vem evoluindo não só na questão da cultura e de novas variedades, mas industrialmente. A feira reflete essa evolução, essa coisa espantosa que é o setor”, afirma.
O diretor do grupo Viralcool e presidente de honra da Agrocana, Antonio Eduardo Tonielo Filho, nota essas transformações de outro ângulo. Ele afirma perceber que os maiores ganhos são no desenvolvimento da mão de obra do setor, promovendo uma ‘evolução social para operação da tecnologia’.
De acordo com ele, em termos de açúcar, o Brasil ‘praticamente comanda o mundo’. Além disso, ele enaltece o status que o etanol conquistou no exterior. “Nesses últimos anos, a cogeração de energia também foi um passo muito grande para as usinas em termos de tecnologia. Todos esses avanços só levam a acreditar que nosso setor vai continuar ofertando bastante energia para o mundo”, finaliza.
Veja o depoimento do presidente da Copercana e presidente de honra da Agrocana, Antonio Eduardo Tonielo:
De Sertãozinho para o mundo
A escolha da região de Sertãozinho como palco do evento foi um movimento natural. A cidade com um pouco mais 100 mil habitantes, situada no nordeste do estado de São Paulo, viveu todos os reflexos das transformações ocorridas ao longo das últimas décadas no setor sucroenergético.
“[A Fenasucro é] extremamente importante, pois ela tem a responsabilidade de expor as principais empresas envolvidas no mercado sucroalcooleiro, mostrando a todos que continuamos, ainda que a mercê dos nossos governantes, sendo uma das maiores potências tecnológicas do mundo”, Ronaldo Santoro (Sermasa)
Sertãozinho, aliás, tem a cana-de-açúcar como a base de sua economia – mais de 70% do faturamento das cerca de 500 empresas do município advém do setor sucroenergético. Dessa maneira, a cidade vive sob o vaivém dos humores da cana.
Vale registrar que Sertãozinho não está sozinha entre os locais cuja economia se baseia na cana-de-açúcar. De acordo com a presidente da Unica e presidente honorária da feira, Elizabeth Farina, a vocação aparece em cerca de mil cidade, ou seja, 20% dos municípios brasileiros tem sua economia associada de alguma maneira à presença da cultura e das usinas de cana-de-açúcar. Farina ainda acrescenta que o setor atualmente é responsável por quase 1 milhão de empregos diretos, fora os indiretos.
Veja o depoimento do presidente da Unica e presidente de honra da Fenasucro, Elizabeth Farina
“É um setor muito importante para a economia brasileira. Segundo maior exportador do agronegócio que, por sua vez, é um segmento dentro da economia brasileira responsável por grande parte das receitas vindas do exterior. O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo, responsável por aproximadamente 20% da produção e 40% das exportações”, afirma Elizabeth Farina.
Essa vocação brasileira, levou o país para uma posição de referência mundial. Como explica o gerente da Fenasucro, Paulo Montabone, visitantes de mais de 40 países costumam visitar a feira. “Esse não é um evento que traz pessoas de fora para que compartilhem sua expertise. Pelo contrário, as pessoas vêm aqui aprender quais são as melhoras formas de produzir açúcar e etanol, os melhores exemplos de cogeração de energia, de uma forma inovadora e ecologicamente correta”, assinala.
Principais novidades
Negociações
Para 2017, a Fenasucro confirma a realização de quatro rodadas internacionais de negócios durante os quatro dias do evento, com a participação de empresas de 43 países. São esperados US$ 130 milhões em prospecções. Já as rodadas nacionais acontecerão durante três dias, englobando mais de 60 empresas compradoras dos setores agrícola, industrial e de alimentos e bebidas.
Para essa edição da Fenasucro, o Espaço de Conferências ampliou a carga horária da programação de 200 para mais de 300 horas. Com isso o número de auditórios passou de quatro para seis para receber especialistas e profissionais de todas as áreas do setor sucroenergético.
Entre os eventos realizados no Espaço, o Fórum de Produtores de AgroEnergia é um dos principais destaques desta edição, promovendo uma discussão globalizada com os principais países produtores de cana e beterraba açucareira do mundo.
Cerca de 500 participantes são esperados para este evento, vindos de diversos países, como África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Chile, China, Colômbia, Dinamarca, Filipinas, França, Honduras, México, Romênia, Turquia, entre outros. Dessa forma, os usineiros e produtores brasileiros terão a oportunidade de conhecer produtos para a geração de bioenergia vindos das culturas do milho e da beterraba.
A grade de programação também foi inovada, recebendo eventos sediados pela primeira vez. Entre eles estão: o lançamento nacional do projeto Muda Cana; Indústria 4.0 – A quarta revolução industrial no setor sucroenergético; Usinas de alta performance; e Café Sucroenergético – governo, mercado e investimentos.
“Participamos da Fenasucro há 15 anos, desde que a abrimos a nossa filial brasileira. Percebemos a internacionalização do evento ao longo desses anos. Nessa edição, contatos e clientes da Fives de diversos países já confirmaram a presença, vindos de México, Paraguai, Argentina, República Dominicana, Índia e França. A Fenasucro é um evento essencial e incontornável para os grandes players do mercado sucroalcooleiro” Arnaud Fraissignes, diretor geral da Fives Lille do Brasil
Outra novidade é a participação inédita – de duas formas – do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Uma delas é o workshop sobre bioeconomia ministrado por Gonçalo Pereira, diretor do CTBE, junto a outros pesquisadores do laboratório. A outra é por meio do estande montado na parte de exposições, em parceria com a multinacional Infors HT, e onde serão apresentados dois equipamentos de última geração usados nos mais avançados laboratórios do mundo.
Ainda entre os destaques está a Ilha do Conhecimento, um modelo europeu de exposição em que dois miniauditorias estarão disponíveis para expositores realizarem palestras para pequenos grupos sobre seus produtos comerciais.
Uma vitrine do setor para o mundo: entrevista com Paulo Montabone
A organização da 25ª Fenasucro & Agrocana está otimista diante de um cenário favorável de retomada do setor sucroenergético. O gerente geral do evento, Paulo Montabone, afirma que já importantes indicativos da volta dos investimentos. Ele comentou sobre as perspectivas sobre esse ano e os 25 anos da feira.
novaCana.com |Como você enxerga a Fenasucro de hoje?
Paulo Montabone | A Fenasucro é um palco, uma plataforma, que vem acompanhando o setor sucroenergético mundial. Durante esse tempo, a nossa missão tem sido levar novas tecnologias ao setor sucroenergético, bem como atualizar profissionalmente e tecnicamente os profissionais da área. E, ao longo dos anos, temos visto vários tipos de comportamento do setor sucroenergético. Já passamos por momentos de euforia muito grande, por isso afirmo que hoje enxergo bases sólidas em termos de políticas que beneficiem o setor sucroenergético como uma importante fonte da matriz energética do país.
Como foi acompanhar as transformações da feira e do setor nesses últimos 25 anos?
Esse é um mercado que evolui 24 horas por dia. A atualização tecnológica do setor sucroenergético é muito forte. E, mais importante, o Brasil é um precursor, o epicentro que joga as novas tecnologias para o setor mundial sucroenergético. Não é um evento para trazer pessoas de fora para que compartilhem sua expertise, pelo contrário: as pessoas vêm aqui aprender quais são as melhoras formas de produzir açúcar e etanol, os melhores exemplos de cogeração de energia, de uma forma inovadora e ecologicamente correta. É isso que o setor sucroenergético disponibiliza para o mercado. Visitantes com origem mais de 43 países costumam visitar a feira, fora os visitantes de todos os estados brasileiros.
Então, você acredita que a feira fez uma diferença?
Tivemos quase 1 milhão de pessoas dentro da Fenasucro durante esses 25 anos. Então 1 milhão de pessoas, de alguma forma, já foram impactadas com novas tecnologias, pelas empresas, fornecedores e com a atualização tecnológica que promovemos a cada ano. Coroamos esses 25 anos, com um modelo de negócio muito bacana, onde, uma vez por ano, conseguimos concentrar a maior parte das usinas do Brasil e a maioria das empresas de cana-de-açúcar no planeta.
E também tem a questão da geração de negócios.
Sim. Essa data é estratégica. Toda a parte de engenharia, de compra e de novos negócios das usinas estão se preparando para fazer suas compras na Fenasucro e na entressafra que deve acontecer no final de dezembro. Assim, elas já podem começar a implementar essas novas tecnologias e até mesmo esses equipamentos. Então, gera um volume de negócios muito grande. A gente conseguiu evoluir até R$ 3,1 bilhões de negócios realizados nessa entressafra do setor.
A Fenasucro está apostando cada vez mais fortemente na oferta de conteúdo para seu público. O setor sucroenergético tem essa ânsia por novas informações? Como tem sido a recepção dessas palestras e workshops?
Ao longo desses 25 anos, percebemos que a carência de informação e a rapidez da atualização das tecnologias exigia que completássemos nosso evento oferecendo mais conteúdo para a comunidade sucroenergética. E, esse ano, nós demos uma ênfase muito grande nessa parte de conteúdo porque entendemos que a missão da feira é ser uma manjedoura de conhecimento e atualização do corpo técnico das empresas. Esse trabalho reverbera nos subprodutos da cana e, consequentemente, quem ganha com toda essa tecnologia é o consumidor final. Portanto, mais que melhorar a qualidade tecnológica dentro das empresas, enxergamos um aperfeiçoamento do produto final.
Quais os temas que merecem atenção nas discussões desse ano?
Uma coisa importante que acontece esse ano é o Fórum de Produtores de AgroEnergia, realizado em parceria com a Orplana [Organização de Plantadores de Cana]. Esse fórum tem como obrigação discutir as novas vertentes do setor de açúcar e de etanol. É a primeira vez que vamos reunir no mesmo auditório produtores de cana, milho e beterraba do mundo inteiro para discutir as peculiaridades e implementação de cada cultura em seus país de origem. A cana será confrontada pelas culturas de milho e de beterraba na produção de açúcar e etanol. O açúcar derivado da cana é responsável por uma fatia de 80% do mercado mundial, enquanto os outros 20% vêm da beterraba açucareira, tipo de produto cultivado na Europa. Os países europeus, principalmente a França, respondem por 80% da produção mundial de açúcar de beterraba. Em relação ao etanol, por sua vez, os Estados Unidos se tornaram a maior potência deste biocombustível procedente do milho.
Ou seja, a discussão irá além da cana-de-açúcar?
Exato. Vamos discutir se o Brasil pode vir a ser um potencial produtor de beterraba açucareira, levando em consideração as condições climáticas tropicais típicas do país, assim como a produção de etanol a base de milho, nicho de mercado que já trouxe a primeira usina produtora deste biocombustível em Mato Grosso. Se hoje já temos nossa primeira usina de etanol de milho, alguma coisa faz sentido para o investidor que colocou dinheiro nesse projeto. Ainda vale destacar que essa é uma realidade que há alguns anos não se cogitava. Então, essa outra vertente desses outros produtos acaba ajudando nessa interface e na atualização de toda a cadeia produtiva, desde o plantio até o subproduto passando pela indústria.
Os estrangeiros que vem ao Brasil para participar da Fenasucro procuram que tipo de conteúdo?
A busca por conhecimento na fabricação de etanol está presente em países da América Latina e do Caribe. Eles buscam esse conhecimento, pois é um mercado em que eles não são tão fortes, já que têm mais tradição na produção de açúcar e na cogeração de energia. Essa é a principal vertente de que vem de fora do Brasil para a Fenasucro: tentar entender e melhorar a eficiência energética e a produção de etanol, tendo em vista o acordo mundial da COP 21.
“Nesse tempo todo, o setor sucroenergético enfrentou grandes desafios e sempre sai cada vez mais fortalecido. Temos muito o que comemorar e, por isso, estamos concentrando forças em ações inéditas, reforçando este evento como gerador de negócios e difusor de conhecimento para toda cadeia produtiva da cana-de-açúcar”, Paulo Montabone (Fenasucro)
Falando em COP 21, o RenovaBio traz que contexto para a feira desse ano?
O Renovabio vem em um momento muito importante para o setor sucroenergético. Percebemos um reaquecimento, tanto na expectativa dos empresários em novos investimentos como na manutenção das usinas existentes para dar conta de uma possível nova demanda. Entendemos que o RenovaBio traz uma discussão muito mais tangível nesse momento em ajudar para que o setor sucroenergético se torne a vedete no segmento de transporte e logística para atender os compromissos mundiais na redução da emissão dos gases do efeito estufa. Acredito que seja uma das intenções de governo mais claras e positivas para o setor desde o Proálcool.
Contudo, muitos empresários ainda vivem as consequências da crise e têm dificuldades de olhar para o médio e longo prazo. Como equilibrar esses elementos, especialmente em um setor em que o aumento de produtividade é uma questão latente?
Dentro do setor do agronegócio brasileiro, o setor sucroenergético se posiciona como um bom investimento no campo. A cana paga um valor bem adequado, competindo com outras culturas. Eu acredito que esse é um momento de muita fidelidade à realidade. Acabam-se todos os flertes e a euforia que fez com muitos empresários viessem para o setor sem conhecimento há alguns anos. Algumas grandes empresas fornecedoras de produtos e serviços, no momento de crise, procuraram outros mercados, mas, as que conseguiram permanecer, vão sair muito mais fortalecidas e aptas a atender essa nova etapa do setor e o consumo que deve vir. Acho que as expectativas foram realinhadas. O setor sucroenergético, a partir do ano passado, já viveu uma nova era, saiu das trevas e começou a ver um pouco do sol. O mercado vai precisar de mais produtividade e esse é um cenário bem diferente de outros que vimos nesses últimos quatro anos. Uma luz que a gente começa a enxergar no fim do túnel e que mostra que, realmente, essas novas políticas estão surtindo efeito. E a confiança é muito mais no subproduto da cana, mais forte do que no mercado. Hoje as usinas estão pagando dívidas, os fornecedores estão recebendo. Tudo isso começa a ser notado, as empresas estão voltando para o evento. É um aquecimento real que deve ser percebido nos números.
Serviço
25ª edição FENASUCRO & AGROCANA
Realização: 22 a 25 de agosto de 2017
Horário exposição: das 13h às 20h
Horário eventos de conteúdo: das 8h às 18h
Local: Centro de Eventos Zanini, Marginal João Olézio Marques, n 3.563, Sertãozinho – São Paulo – Brasil
Credenciamento: https://www.fenasucro.com.br/Credenciamento/
Marina Gallucci – novaCana.com
Com colaboração de Renata Bossle