23/08/2009 – O Dia Online
Brasileiros pesquisam possível existência de sistemas orgânicos em Titã, lua de Saturno
Não só nos badalados laboratórios da Nasa e de instituições de países ricos os cientistas buscam saber se é possível haver vida fora da Terra. Em experiências feitas no Brasil, casal de pesquisadores da PUC-Rio e equipe da Unicamp (SP) conseguiram provar que é possível a produção de moléculas essenciais para sistemas biológicos numa lua de Saturno.
Sérgio Pilling e Diana Andrade, que atuam na área multidisciplinar conhecida como Astroquímica Experimental, usaram o Laboratório Nacional de Luz Síncroton, em Campinas, para simular o efeito da radiação solar na atmosfera de Titã, a maior das luas do planeta Saturno.
Ela foi escolhida porque é considerado o corpo celeste mais parecido com a Terra: trata-se do único ambiente no sistema solar além do nosso planeta com líquidos na superfície. Ela tem ainda nuvens, chuva, rios e lagos de metano, além da presença de outros hidrocarbonetos como o etano.
“Durante três dias, bombardeamos uma mistura de nitrogênio, metano e um pouco de água com raios X e ultravioleta, que são radiações eletromagnéticas que estão em toda a parte nos céus. Esse bombardeio seria uma forma de simular a radiação que Titã teria recebido do Sol durante cerca de 7 milhões de anos”, explica Pilling. Dentre as diversas moléculas novas produzidas, depois de mais alguns procedimentos adicionais, os pesquisadores observaram a formação de adenina, uma das quatro bases do DNA.
“Apesar das temperaturas extremamente baixas da superfície da lua Titã, cerca de 180 graus centígrados negativos, acreditamos que a presença de moléculas orgânicas como estas aumente a possibilidade de vida ter surgido lá em algum momento no passado, ou ainda daqui a alguns bilhões de anos, quando o Sol se tornar um estrela gigante vermelha e elevar a temperatura de todos os corpos do sistema solar”, conta o pesquisador.
Trabalho apresentado em assembleia astronômica
O trabalho foi publicado numa importante revista científica internacional, a New Scientist, e também foi apresentado na última Assembleia Geral da União Astronômica Internacional (UAI), no Rio.
As pesquisas ainda não acabaram. Agora trabalhando na Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), em São Jose dos Campos (SP), o casal Pilling em parceria com diversos outros cientistas nacionais e internacionais tentará repetir a experiência com outros elementos. Eles vão simular agora, por exemplo, o vento solar, e mudar a química a ser “bombardeada”, adicionando, por exemplo, etano.
“Além de pesquisar a possibilidade da existência em algum momento de vida fora da Terra, este tipo de pesquisa ajuda a entender a própria origem da vida aqui”, explica o pesquisador.