25/09/2009 – Revista Eletrônica ComCiência
O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da Universidade de São Paulo (USP), anunciou este mês a construção do primeiro laboratório de astrobiologia do país, a ser instalado no Observatório Abrahão de Morais, em Valinhos, no interior do estado. O novo laboratório irá permitir aos pesquisadores estudar como a vida se originou no planeta e quais as possibilidades de isso acontecer em outras partes do universo.
A astrobiologia é um campo multidisciplinar que procura entender como se deu a origem da vida, sua evolução e distribuição, e qual o seu futuro no universo. As várias áreas estudadas englobam biologia, química, meteorologia, astronomia, geologia e física, entre outras. Segundo o pesquisador Ramachrisna Teixeira, diretor do observatório, a multidisciplinaridade é bem vinda, pois quebra uma série de dificuldades. “O pesquisador fica menos específico, mas em compensação fica mais versátil”, avalia.
O principal equipamento adquirido para o laboratório de astrobiologia é uma câmara de simulação de ambientes, capaz de manipular parâmetros ambientais como temperatura, pressão e umidade. Além da câmara, serão montados laboratórios auxiliares de química e biologia. Segundo Teixeira, a câmara simuladora é a primeira montada no hemisfério sul e está sendo produzida aqui no Brasil. Os únicos equipamentos similares existentes estão localizados nos Estados Unidos e na Europa.
Para melhorar nossa compreensão de como a vida surgiu na Terra, a câmara permitirá a composição de diversos ambientes já inexistentes hoje no planeta, que, assim, podem ser testados para o crescimento de microrganismos. Esses microrganismos são chamados extremófilos, pois ocorrem naturalmente em áreas de condições extremas de temperatura, pressão ou radiação. Dessa forma, são naturalmente mais resistentes aos ambientes encontrados em outros planetas ou mesmo na Terra primitiva. “Os primeiros seres vivos enfrentaram ambientes bem hostis. Através desses estudos, poderemos entender melhor se a vida veio de fora ou surgiu na Terra”, afirma Teixeira.
Segundo Douglas Galante, coordenador do projeto e pós-doutorando do IAG, o laboratório é pioneiro, por ser o primeiro no país específico para o estudo da astrobiologia. Atualmente, os experimentos desenvolvidos pelo grupo, utilizando microorganismos extremófilos, são realizados no Laboratório de Luz Síncroton (LNLS), em Campinas (SP). Entretanto, as condições atuais não permitem experimentações tão completas como as que serão possíveis de realizar no novo laboratório, uma vez que a câmara simuladora de ambientes esteja em funcionamento.
No Brasil, a astrobiologia é um campo relativamente novo e ainda não é matéria obrigatória no currículo universitário. A primeira tese de doutorado do IAG nessa área, do próprio Galante, foi defendida apenas este ano. Ramachrisna Teixeira assegura que existe a intenção de se criar uma disciplina, a ser ministrada no curso de Astronomia, na USP, a partir do ano que vem. O objetivo é criar um curso teórico-prático em que os alunos possam realizar experimentos utilizando as facilidades do laboratório. Em relação à pesquisa, pretende-se criar um ambiente multidisciplinar, em que as várias especialidades possam utilizar o laboratório e contribuir para o conhecimento da astrobiologia. O investimento inicial para o projeto é de R$ 1 milhão e o laboratório deverá estar pronto e iniciar suas atividades em 2010.