Exame.com, em 15/01/2013
Blog Brasil no Mundo
Suécia e Brasil estão se aproximando cada vez mais, e com propósitos mais nobres além do comércio internacional, a educação e a inovação. A Universidade de Lund (https://www.lunduniversity.lu.se/) é uma das mais antigas universidades da Europa e uma das maiores instituições da Escandinávia para a educação e pesquisa, sendo consistentemente classificada entre as 100 melhores universidades do mundo. A universidade, localizada na cidade de Lund, Suécia, tem as suas raízes em 1425, sem dúvida, tornando-se a mais antiga instituição de ensino superior na Escandinávia seguido de Uppsala em 1477, e de Copenhague, em 1479. A Universidade de Lund, tem oito faculdades, com 47 mil alunos em mais de 280 programas diferentes e em torno de 2.250 cursos separados . A universidade tem cerca de 680 universidades parceiras em mais de 50 países.
A Universidade de Lund desenvolve grandes projetos no campo da inovação tecnológica, principalmente na pesquisa e desenvolvimento de materiais.
Duas grandes, e mais modernas, instalações para pesquisa de materiais estão atualmente em construção na Universidade de Lund, e com as quais a Universidade trabalha em parceria, inclusive com universidades no Brasil:
- European Spallation Source (ESS), instituto europeu que será a sede da mais poderosa fonte de nêutrons para pesquisa (https://europeanspallationsource.se/);
- MAX IV, um laboratório de radiação (síncrotron), igualmente líder na área de pesquisa (https://www.maxlab.lu.se/maxiv).
Estas duas instituticoes farão com que Lund se torne o centro líder mundial em pesquisa de materiais. https://www.lunduniversity.lu.se/research-and-innovation/max-iv-and-ess
O Vice-Chanceler da Universidade de Lund, professor Per Eriksson, esteve no Brasil em tratativas com centros de pesquisas, empresas e universidades para ampliar o processo de cooperação e compartilhamento de conhecimentos. O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com o professor Per Eriksson sobre as iniciativas da Suécia e a parceria com o Brasil.
Vice Chanceler da Lund University, Per Eriksson
Brasil no Mundo: A Lund University é a segunda universidade mais antiga da Suécia, e tem um grande histórico no desenvolvimento de tecnologias e inovação na Europa. Quais os grandes projetos e modelos educacionais desenvolvidos na universidade? Qual a grande missão da mesma na Europa e no mundo?
Per Eriksson: A visão da Universidade de Lund é, para citar nosso plano estratégico, de ser “uma universidade de classe mundial que compreende, explica e trabalha para melhorar o mundo e da condição humana”. Nós expandimos de cerca de 500 estudantes no início do século 20 a cerca de 47 mil estudantes de hoje.
Na Universidade de Lund pesquisas de nível mundial são feitas nas áreas de física, biologia estrutural e nanotecnologia (através do síncotron); estudos ambientais e alterações climáticas, energia, desenvolvimento sustentável; na área da saúde: diabetes, câncer, células-tronco, cérebro e mente; filosofia, ciência cognitiva e psicolinguística – para mencionar algumas das áreas de pesquisa mais significativas.
Na Universidade de Lund foram desenvolvidas inovações mundialmente conhecidas como: o Bluetooth, a diálise e o ultra-som.
Durante a presidência sueca da União Europeia, em 2009, foi realizada na Universidade a conferência sobre grandes desafios do futuro, que teve como resultado a Declaração de Lund. As resoluções tiradas neste evento têm desempenhado um papel fundamental para a formulação da política europeia de pesquisa, desde então.
A Universidade de Lund é uma universidade abrangente favorável a abordagens interdisciplinares para os problemas científicos difíceis e desafios sociais complexos. Também estamos interagindo de perto com duas instalações de ciências emergentes em Lund, a fonte de luz síncrotron MAX IV e Fonte Europeia de Fragmentação (ESS). Estas instalações irão transformar Lund em uma cidade da ciência mundial nos próximos 10-20 anos.
Brasil no Mundo: A Suécia vem desenvolvendo uma aproximação com o Brasil algum tempo, principalmente em bases tecnológicas. Como a Lund University está participando deste processo e quais são os grandes projetos com o Brasil?
Per Eriksson: Um memorando de entendimento foi assinado entre o Laboratório MAX IV e o Centro Brasileiro de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), que é legalmente responsável pela gestão do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). O LNLS está, atualmente, construindo uma nova unidade, SIRIUS, cujo projeto está fundado sobre bases similares às desenvolvidas no MAX IV. Quando SIRIUS começar a operar, mais ou menos um ano depois, do MAX IV, estas duas instalações vão oferecer possibilidades únicas, devido ao seu excelente desempenho em comparação com praticamente todos os outros síncrotrons existentes atualmente (em torno de 60, situados em 17 países). Também terão de enfrentar desafios semelhantes para explorar plenamente o desempenho dado pelos aceleradores e o Memorando de Entendimento assinado é o primeiro passo para o desenvolvimento conjunto de uma série de sub-sistemas críticos.
Além disso, desde 2004, a Faculdade de Engenharia tem estreita colaboração de diversas universidades no Brasil na área de recursos hídricos e previsão hidrológica sazonal para melhorar a gestão de estações hidrelétricas.
Há igualmente colaborações de pesquisa na área de etanol lignocelulósico entre a Universidade de Lund e o Brasil por mais de uma década, começando com a colaboração entre a Universidade de Lund, a UFRJ, no Rio, e a UFPE, em Recife, projeto financiado pelo STINT – Fundação Sueca de Cooperação Internacional em Pesquisa e Ensino Superior. Um acordo de colaboração entre a Universidade de Lund e o CTBE – O Instituto de Pesquisa Etanol brasileiro começou em 2010.
Estas ações tem gerado boas parcerias entre pesquisadores da Universidade de Lund e pesquisadores de várias partes do Brasil.
Brasil no Mundo: Como está o desenvolvimento do projeto “The European Spallation Source”? Quais os grandes desafios e objetivos?
Per Eriksson: O ESS começou como uma atividade na Universidade de Lund, e agora se transforma em um consórcio europeu. É dependente de um co-financiamento de cerca de 20 países da Europa. E quando estiver em operação, ele irá fornecer um complemento exclusivo para o laboratório de luz sincotron MAX IV. Estima-se que o ESS estará operando por volta de 2020.
Brasil no Mundo: O Laboratório MAX IV é um dos grandes projetos da Lund University, e desenvolve uma amplitude de cooperação para diversos pesquisadores e usuários. Como o projeto foi pensado e desenvolvido? Quais os objetivos e passos do processo? E que resultados já são mensurados?
Per Eriksson: O MAX IV, que será a mais brilhante fonte de luz do mundo quando for inaugurado, em meados de 2016, foi projetado por Mikael Eriksson – um professor de física da Universidade de Lund. Este projeto é o resultado da evolução do laboratório do MAX I-III, um laboratório de luz síncrotron desenvolvido na Universidade de Lund, na década de 1980 que se tornou um Laboratório Nacional da Universidade de Lund, em 1994. Os usuários do laboratório Max vêm em grande parte das universidades suecas em Lund e Uppsala, bem como da comunidade científica internacional. Aproximadamente 5 % dos usuários vêm da indústria.
A pesquisa realizada no laboratório MAX abrange disciplinas tais como: física, química, biologia, ciência de materiais, geologia, engenharia e medicina. Ao mesmo tempo, o laboratório continua a ser uma importante opção para educar jovens investigadores em áreas que fazem uso da radiação síncrotron. A criação do MAX IV constitui um salto quântico do presente laboratório MAX e estima atrair cerca de 200 pesquisadores de todo o mundo, a cada dia.
Atualmente, o maior desafio para o MAX IV é garantir um orçamento operacional de longo prazo e um financiamento para 20 linhas adicionais.
Brasil no Mundo: A Lund University está buscando cooperações no Brasil? O que já foi desenvolvido? Quantos estudantes e professores brasileiros estão atuando na Suécia?
Per Eriksson: Vários estudantes e professores brasileiros estão ou estiveram na Suécia, em várias e diferentes áreas, mas apenas para citar como exemplo, a faculdade de engenharia dispõe de vários tipos de cooperação. Um de seus professores teve três alunos de doutorado sanduíche mais um aluno doutorando do Brasil de doutorado pleno, trabalhando em questões brasileiras. A faculdade também teve por diversas ocasiões a visita de dois professores brasileiros que desenvolveram pesquisas e ministraram cursos em Lund. Este professor e pesquisador sueco tem sido várias vezes convidado, nos últimos oito anos, para ensinar e fazer pesquisas no Brasil.
A logística de embalagem está trabalhando com o Brasil de diferentes maneiras. Desde 2008 a Universidade tem a contínua cooperação de pesquisa do Prof Adj. José Alcides Gobbo Júnior da UNESP, São Paulo, em diferentes projetos. Gobbo esteve em Lund oito vezes durante este período, por um período entre um e três meses. Os pesquisadores da Logística de Embalagens estiveram em São Paulo diversas vezes, com o financiamento do programa Erasmus Mundus, com o qual estamos envolvidos. Recentemente estamos trabalhando para aprofundar a cooperação ainda mais. A partir de janeiro de 2014, durante um período de quatro anos, a logística de embalagens em Lund receberá um doutorando brasileiro de Porto Alegre, financiado pelo programa “Ciência sem fronteiras”.
Brasil no Mundo: Com o programa Ciências Sem Fronteiras, do governo brasileiro, o país busca qualidade acadêmica nos melhores centros de pesquisa do mundo. Como a Lund University vê o programa e como participa?
Per Eriksson: O programa “Ciência sem Fronteiras” é uma oportunidade única que o governo brasileiro dá a alunos de graduação e pesquisadores brasileiros de experimentarem o ambiente de sala de aula global e terem contato com a investigação de ponta que a Universidade de Lund dispõe.
Nossas faculdades receberam este programa com entusiasmo, e desenvolveram mais de sessenta pacotes de cursos para estudantes de graduação, que são baseados em algumas de nossas áreas mais fortes. Estes pacotes de cursos foram concebidos de forma a proporcionar aos estudantes brasileiros o acesso a oportunidades acadêmicas excelentes de educação da Universidade de Lund.
Além disso, existem mais de oitenta oportunidades oferecidas atualmente para doutores, pesquisadores de Pós-Doutorado e Professores Visitantes. As informações pertinentes podem ser encontradas em https://www.lunduniversity.lu.se/swb
A Universidade de Lund gostaria de atrair estudantes e pesquisadores brasileiros talentosos através desse programa de bolsas notável, e, assim, fortalecer os laços com o Brasil. Este ano, temos nove bolsistas em programas de Graduação Sanduíche, e esperamos ter um número ainda maior a partir de agosto de 2014.
A equipe da Universidade de Lund já esteve no Brasil duas vezes o ano passado, em abril e novamente em novembro, para encontrar com os alunos e compartilhar informações sobre a nossa participação no programa Ciência sem Fronteiras.